Curadoria e tradução de Floriano Martins
Alejandra Munguía Matamoros (Honduras, 1972). Poeta, graduada em Letras com orientação em literatura, formada pela Universidade Nacional Pedagógica Francisco Morazán (UPNFM). Ao mesmo tempo, possui mestrado em Língua e Literatura Hispânica pela Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua, sede em León (UNAN-León). É também doutora em Medicina e Cirurgia, com especialidade em Psiquiatria, formada pela Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH). Com subespecialidade em Psiquiatria Infantil e Adolescente pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e curso altamente especializado em Psiquiatria Hospitalar Geral, pela Universidade La Salle, México. Faz parte da Associação Nacional de Mulheres Escritoras de Honduras (ANDEH) desde 2014, tendo sido vice-presidente por 2 períodos: de 2014 a 2016 e de 2016 a 2018. Publicou 2 coletâneas de poemas: Cartas al Yeti (2021, Edições Nautilus, Zaragoza, Espanha) e Tiempo anónimo (2018, Editorial Guardabarranco, Tegucigalpa, Honduras). Sua poesia está incluída em diversas antologias: No ano de 2022: Honduras tiene nombre de mujer (Ediciones Malpaso) y Microficciones (Eos Villa, Argentina); em 2020: Festival Ciclónicas (Ediciones Malpaso), Antología Amanda Intima (Festival Insurgencia Literaria), Nós/otros: poesía de la pandemia, parte 2 (publicado na Visão do Médio Atlântico de Estudos Latino-Americanos); em 2018: Antología 10 años 100 mil palabras del Centro Cultural de España en Tegucigalpa (CCET); em 2016: Antología de narradoras hondureñas (Ediciones Paradiso); em 2015: Por la gracia del verso: Escritos por y para el poeta Rigoberto Paredes (Ediciones Paradiso); 2014: Antología Poética Voces de la ANDEH (Ediciones Paradiso), entre outras. Seus poemas foram incluídos em publicações periódicas da Universidade Pedagógica Nacional Francisco Morazán, na revista Pós-Graduação em Psiquiatria. Tem utilizado a literatura como ferramenta terapêutica para abordar transtornos mentais e emocionais em crianças e adolescentes, ministrando oficinas de histórias e poesias, sistematizando a cura por meio da palavra. Atualmente trabalha como médica sanitarista no Hospital Psiquiátrico Dr. Mario Mendoza de Tegucigalpa e é professora do Centro Universitário de Educação a Distância (CUED), da Universidade Pedagógica Nacional Francisco Morazán (UPNFM), no Departamento de Letras, com sede em Tegucigalpa, Honduras.
FRASES E VATICÍNIOS
Eu acredito neste caminho humano
que traço todos os dias com o lápis da minha vida
são linhas curtas, às vezes longas
construídas
pelo mágico e o cotidiano.
Escrevo cada sinal, cada letra com muita consciência.
De vez em quando encontro nas minhas esquinas
alguma frase de Artemidoro ou a tentativa de vaticínio de Freud,
salvo-as e deixo uma data de leitura pendente.
A indignação dos obstáculos faz rabiscos em minha garganta
emito blasfêmias em silêncio,
minha mão treme e rompe a linha
entendo que faz parte da caminhada humana.
Também descubro meus sonhos ao abrir
as janelas do dia.
Os espasmos anunciam o amanhecer dos ventres.
O soluço se dilui em meus lábios sorridentes.
A dança dos egos deixa rastros no ar,
enquanto em meus pulmões: A vida se agita!
Correm pelas veias do exílio,
as previsões sombrias que uma vez foram
a seiva dos seios.
Os mistérios da alegria são desvendados,
a histeria feminina não existe mais,
as feridas do inconsciente não sangram mais
as águas do mar selaram-nos com a sua canção.
Elas se escondem diante de mim
as frases fatais de março,
previsões que o eclipse escondeu.
Vejo a alegria, as danças e os risos das mulheres
em vaticínios futuros,
para estes idos de outubro.
21:00
A noite pesa nas pálpebras.
Desço até a cozinha.
Faço um sanduíche frio
e assisto TV.
Eu penso em como subir novamente
à vida:
Confesso?
Faço terapia?
Fumo peiote?
Escrevo um diário
ou uma carta para o Yeti?
Vou voltar para a TV.
Eu sou a protagonista na tela.
Pela primeira vez em meses, eu rio.
Sem pensar
exploro a minha bacia e meus vulcões.
Descubro aquela mulher
que tinha tanto medo de crescer.
15:00
Com o tempo
emigraram a juventude
e nossas tentativas de carícias.
Melasmo é o que vejo
da minha maternidade no espelho.
Lava do meu vulcão
ainda flui pelos meus cabelos grisalhos.
Rochas ígneas,
fósseis
e feridas sangrando,
alegrias da infância,
solstícios da paixão
e cronômetros de história,
me habitam
Te escrevo / me escrevo.
No contorno que essas letras formam
procuro por mim e me encontro.
Amanheço em paz
neste domingo de novembro.
12:00
A bola que joguei quando estava brincando no parque
ainda não atingiu o solo.
Dylan Thomas
Eu tenho cinco anos de idade.
Sento à tua frente
com meu vestido de girassol.
Quero fazer um boneco de neve
com lenço escarlate,
mas duas bolinhas de neve
entram em meu nariz.
Não posso respirar.
O médico diz:
Corpo estranho na narina esquerda,
extraído sem problemas.
Duas bolinhas de neve.
Nenhum boneco.
Tenho quarenta e oito anos.
Estou diante de ti.
O lenço ainda está em minhas mãos.
2:00 pm
Almuerzo en el jardín
hora de luz e insectos en el aire.
Llevo los platos para dos
y la cubertería de nuestros veinticinco años.
Coloco todo sobre la mesa
bañada de flores del manzano.
Me siento.
El aire huele al cordero en nuestros platos.
Comienzo a comer.
Tu comida se enfría.
El tiempo pasa.
Las moscas comienzan su festín.
Descorcho la botella.
Un disparo de espuma.
Lleno las copas.
En tu plato
el cordero se pudre.
Solo una mano se alza para el brindis.
Hora de sombras y de ausencias en el aire.
14:00
Almoço no jardim
hora de luz e insetos no ar.
Trago pratos para dois
e os talheres dos nossos vinte e cinco anos.
Coloco tudo na mesa
Banhada de flores de macieira.
Sento-me.
O ar cheira ao cordeiro em nossos pratos.
Começo a comer.
Tua comida esfria.
O tempo passa.
As moscas começam seu banquete.
Abro a garrafa.
Uma dose de espuma.
Encho os copos.
Em teu prato
o cordeiro apodrece.
Apenas uma mão está erguida para o brinde.
Tempo de sombras e ausências no ar.