Altibajo – 10 Poemas de Reynaldo Jiménez Lima (Peru, 1959)

| | ,


Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

Reynaldo Jiménez Lima (Peru, 1959). É poeta e tradutor, radicado em Buenos Aires desde 1963. Foi editor do selo e da revista de poesia tsé-tsé. Publicou, entre outros, os livros de poemas Las miniaturas (1987), Ruido incidental / El té (1990), 600 puertas (1993), La indefensión (2001) e Musgo (2001), e os ensaios: Por los pasillos (1989) e Reflexión esponja (2001). A editora espanhola Libros de la Resistencia publicou recentemente o primeiro tomo –de três– da sua obra poética reunida sob o título Ganga.


ALTIBAJO (livro em processo)

são jogos de vigília
são ouros que caem
são olhos da margem
são fogos que distraem

a luz em seu juízo
delira e volta sozinha
com as horas sai
com as desoras se envolve

são cristais na língua
são minguantes antes do antes
são os males são lagoas
são a trégua do instante

*

desaparecem as pegadas
no espaço na areia
retrotraem aqui o silêncio
será tua casa de brisa
será a incrustação da alma
no espaço na areia
já não retornam os passos
e se confundem as faces
e se dissolve o planeta
e já não ficam sinais
no espaço na areia
será o nácar o âmbar
será o inseto encerrado
será o incêndio não nascido

*

abismal este olhar
faz a alma com a sua outra

vidas paralelas
a mesma cinza

voz lucífuga
ouvinte de sua desculpa

lua a cabeça enterrada
abismal esta alegria

trilhas mãos soltas
perto das esperas

*

qualquer lugar não há
um lugar lunar em tua
bochecha sob a pele
floral qualquer ligar
palavras tão salubres
dançam quase sempre sozinhas
sobre a dura superfície
sobram as sombras
que se aproximam mostram-se
a mirar-se facetadas
nas claras qualquer
lugar não há um lugar
há um contíguo que foge
palmares alagadiços
há um contínuo dual
sob a pálpebra lunar
em teu canto mais secreto

*

uma fissura egípcia na pedra grega
uma ferida índia entre a erva farta
um mesmo mar te vislumbram os suspiros
mar das contrações transparentes
uma linha marinheira nas areias cegas
uma rachadura entre as águas inóspitas
dentro do grito compacto está o susto
que faz silêncio entre os olhos

uma fuga etrusca na hora romana
uma fonte indômita entre as plantas
crescidas em torno deste silêncio milenar
mar momentâneo até nos ossos
uma chaga tão antiga quanto a alvorada
uma nadadeira uma escama uma lágrima
uma gotícula imaculada contra a pedra
uma pérola na espuma precisa

*

os deuses feitos pó
sêmen de efêmeros aguaceiros
misturam seus néctares fatais
o tremor de sua influência

os fluxos cheios de deuses
germe sua anterior velocidade
seus reflexos agitados no rio

como surpreendem o viajante
uma vez na casa do vento
batem as memórias fugazes

*

quem tem um futuro
quem sustenta um passado
quem apronta um presente
quem afasta um espelho

quem aporta um consolo
quem aposta um cérebro
quem suspeita um encontro
quem espera um milagre

quem ilumina um destino
quem impulsiona um desenlace
quem encontra um lugar
quem captura um segundo

*

o unicórnio voltou
exausto de frondes
com sigilo invicto
entrasale do friso

a fibra celeste o acende
a fuga terrestre o apaga
o centauro intermitente
a diadema do minuto

a sereia se contempla
nos reflexos das folhas
o caçador adormecido abre os olhos
dentro da placenta do silêncio

o unicórnio voltou
invisto de florestas

*

máscaras alegres se injetam
antepassados destinos de matilha
entreatos góticos lunetas

membrana do tempo tempo tempo
lar nos esclareces anfíbios pois
salticamos ao lago tuas larguras intersectas

se outra vez e outrora mesma não se tocasse
em busca da carne donzela rente
do próprio alheio todo tímpano

tuas presenças fluxo ao par ascendem
os derradeiros sujeitos ao seu aparte
pele do tempo tempo tempo

fosfenas-nos gagos anfíbios pois
salpicamos tuas ternuras interceptadas
e tu lagarta vences

*

reverdeceu a moscazul imutável sobrecinza
íris talvez pulsátil ainda em ponto picou
o feixe o expôs aos estratos e repentista
estranhou-se de si ou do sabor acústico do luto

ouros tão duros incrustação de perfeitos
incrustador o instante porosa veia
para o mero dor dolicocéfalo
de fato feito de menos

reverdeceu a ladainha vaivém das despedidas
cuja força epicêntrica clamou a sua alma mater
exigiu sem reparo ao corpo inóspito
ainda que à deriva com desdém oreara

apesar dos vincos
da palma superfície infínima
da amestrada mão
do autômato matamoscas

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!