5 Poemas de Elaine Guedes

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Elaine Guedes, graduada em Música pela UFRJ, mestranda com estudos sobre aprendizagem da música multiétnica brasileira pela UNIRIO; integrante do grupo Institucional IN-Versos. ; projetos solos, ,”Tom Jobim e Villa Lobos”, “Quem É Essa Mulher” (a música de Chico Buarque) e “Maravilhas Contemporâneas” (a música de Luiz Melodia); shows autorais nos teatros da UFF, Sesc, Sala Funarte, Teatro Café Pequeno; atuou como Backing vocal c/ Tim Maia, Jorge Benjor;3 cds autorais; parcerias musicais com Moacyr Luz, Altay Veloso, Chico César, Arthur Maia;publicou , pela Editora Multifoco, dois livros de poesias, “O Amor Nu” e “Poemas em Cortes Profundos” , este com o autor João Ayres.


Revolto

Gosto mesmo é de quando falta luz
E a poesia ilumina as estrelas
Quando o tempo de correr para
e meu peito respira
meus olhos não veem
e minha pele alcança
tudo que eu preciso ser,
minha magnitude
aflora sem permissão.

Como quando peixes flutuam sem esquinas,
escorregando sem medo
pela vida:
as luzes de dentro da vida,
todas acesas,
não param meu coração.

Se às vezes palavras não bastam
ou rudezas esbarram
ferindo afiadas,
formando esquinas que escondem
seus olhos dos meus,
entendo que tocas são braços
que foram pensados para nos defender.

Mas nada florece sem troca,
sem escorregar sua pele na minha
às vezes arranhando e esculpindo,
tatuando verdadeiros e muitos caminhos,
ranhuras quimuras buchichos
quimeras fervuras e riscos
de muita imaginação:
não há ilhas que não se esbarrem
através do mar revolto,
que se esfrega em cada chão.


Mosaico

Tenho muito medo das vidraças quebradas.
Coladas, ficam deformadas.

Sentimentos vidraças são
oculos de grande grau de realidade:
quebrados me tornam mosaico de mim.

Eu, mosaico, você, patchwork.
Talvez o tempo e a vontade
Nos façam dissolver as partes
tornando-nos novos inteiros.

Talvez flutuemos leves
sem o peso de remendos e colagens
Talvez os mesmos remendos
sejam os que nos dão a gravidade
que nos aproximam de um chão.

Talvez flutuar demais nem seja tão bom.
Talvez a saída seja a eterna transformação


Desterro

Fogueira, fogueira, fogueira
Geleira, geleira, geleira
Longa ponte inexistente
Entre extremos
E o olhar percorre 360 graus
Sem sair do lugar

Fronteira, fronteira, fronteira
Dentro do peito repleto,
o vazio da busca
o preenche inteiro.
Senhoras e senhores,
pareço vagar em devaneios
Mas remédios tarjados em preto
Não abriram meus olhos
Em nenhum grau

Escudos e lanças
Com as quais guerreiro sozinho
Não passam de algodão doce,
permanecem o vácuo e o espinho

Das faltas de pontes
Entre os eus sozinhos
Sem os sons dos gritos no vácuo,
dos vizinhos
Sem reflexos
Sem cortes
Sem pontes
Sem sangue nas veias que
Queimam ou congelam
Sem elos,
das faltas de pontes
Surgem o marasmo,
o ocaso, o desterro,

Melhor ter as pontes
Que nos trazem os erros


Passarinhos

Flora
Cloridrato de nervosismo
Correndo e trabalhando sem amanhã

Estrelas no céu do computador
Pescoços jogados nos artefatos
Sentados parados não sentem dor

Os corpos armados
De celular
Jorrando as raivas do interior

Estultos bandidos
Vomitativos
Querendo sangrar seus iguais

Bebessem abraços com seus vizinhos
Encontrariam mais paz no ninho
Quem sabe é colo que passarinhos
Ainda fracos de bater asas
É o que pedem esses
Anjinhos
Que se transmutam em matadores

Encontram forças e explicações
Em desnorteios e palavrões
Furaram os óio dos passarinho
Que agora cantam tão paradinhos
Orando e prometendo
Comprando e empenhando
Suas almas e venenos
Em melodias que não vieram
Dos encontros e das canções


Longe em mim

longe, longe, longe
meço em passos infinitos a memória do tempo
a pele descoberta vai acordando pelos e poros,
devagar, lentamente
e eu retornando
a um tempo em que não sei se o sou
ou não mais,
se serei eu ainda quem esteve presente em meus tempos passados
(que flutuam e me chamam,
na minha memória).

A pele retorna no tempo, tento sentir como sentia,
sao os cheiros ou uma fantasia
tento me reportar ao lugar,
tento sorrir como sorria
tento não lembrar, mas estar lá.

Para estar completamente onde estive antes
preciso retirar da minha pele o agora, trocar de pele
afugentar quem eu sou , casca por casca, peso por peso, tempo por tempo
de dentro surgindo quem eu era, com muitas partes e peles a menos em mim

Então, eu e meu corpo de agora , vagamos por afetos e sensações,
e nao sei se finjo, ou não,
se fui ou se sou
se ainda estou aquela eu mesma ainda dentro

Posso dizer que sou apenas o que tenho agora,
ou sou todas,
todos os dias,
todas as horas
que foram em mim outrora ?

14 comentários em “5 Poemas de Elaine Guedes”

  1. Gostei muito da sua poesia, especialmente de “Revolto”. Isso foi genial: “não há ilhas que não se esbarrem
    através do mar revolto,
    que se esfrega em cada chão.

    Responder
    • Caro Jose Amaro, muito obrigada pelo carinho com meu trabalho!
      Mostro-lhe então um livro pelo qual tenho muito carinho. Foi prefaciado por Ivan Lins, o que muito me honrou. A mim e ao poeta Joao Ayres, com quem o escrevi.

      POEMAS EM CORTES PROFUNDOS
      O livro é o resultado de um raro encontro de almas, de um mergulho profundo na escuridão que tateia o vazio da existência vez por outra. Dois autores com estilos diferentes, mas imersos na temática da angústia que habita tudo que é abjeto e aparentemente insignificante.
      https://editoramultifoco.com.br/loja/product/poemas-em-cortes-profundos/

      Responder

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