3 Poemas de Emmy Bridgwater (Reino Unido, 1906-1999)

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Apresentação e tradução: Floriano Martins

Duas grandes poetas inglesas ligadas ao Surrealismo foram Emmy Bridgwater (1906-1999) e Edith Rimmington (1902-1986). Poetas e artistas plásticas, as duas se conheceram quando Emmy passa a integrar o grupo surrealista de Londres, do qual já fazia parte Edith. Amigos de Emmy, o artista Conroy Maddox e o crítico Robert Melville, trataram de apresentá-la a Roland Penrose. Logo em seguida, 1942, Emmy contribuiu para a uma revista surrealista chamada Arson, que tinha na direção Toni del Renzio. Este ficou impressionado com sua criação, o modo como desentranhava as imagens mais viscerais possíveis. Quando em 1947 André Breton selecionava as obras que iriam compor naquele ano a última grande Exposição Internacional do Surrealismo, em Paris, tratou de ali inserir uma obra de Emmy Bridgwater. Explorando os ambientes mais recônditos do subconsciente, quase sempre em traços afeitos ao automatismo, sua obra tanto plástica (pintura e colagem) como poética, sempre permaneceu fiel aos preceitos surrealistas, mesclando humor negro e paisagens oníricas. De sua poesia, se poderia dizer o mesmo que Robert Melville referiu em relação à sua pintura: embora oníricas em sua ambiguidade, são documentos realistas de uma região de fantasia, esperanças e desejos obscuros onde poucos ficam para observar e menos ainda ali permanecem. Ao longo de sua vida participou de diversas exposições, porém jamais publicou um livro de poemas.


OS PÁSSAROS

Um

Ele puxou o cobertor e ela desenhou o cego. Os ratos amarelos se precipitaram nos cantos. As aranhas correram atrás das fotos. A palestra começou sobre Cristo, o Precursor. Apenas os ratos muito jovens ficaram sentados para ouvir. Os melros voando perto da janela passaram a palavra um para o outro. “Vamos! Aqui podemos encontrar algo! Alguma coisa para colocar os nossos bicos!” Snap foi o fio da janela: o cego foi para baixo. Os pássaros, desapontados, fizeram o melhor que puderam. Eles voaram mais perto e mais perto do painel da janela. Era perigoso. Não valia a pena. Mas eles queriam receber a notícia – para ser o primeiro a saber – para transmitir as novidades. O que aconteceu com a palestra sobre Cristo? Ainda se encontravam debaixo dos cobertores? As aranhas riram em suas mãos para pensar nos pássaros fora de todos os gostos e excessos.


Dois

Quando ela entrou no jardim, os pássaros voaram até os seus lábios. “Não faça isso”, ela chorou. “É meu. Estou vivo, você sabe.” “Bem, por que você não usa cores?” Ela os ouviu falar. “As pessoas mortas caminham, mas não usam cores. Eles gritam e eles falam também.” O pássaro continuou tagarelando sobre pessoas mortas. Todos se encontraram no mato do azevinho, mas eles não picaram as bagas macias. Eles apenas olharam para ela. Todos olharam com seus pequenos olhos pretos. Eles ficaram olhando seus lábios vermelhos.


Três

“Cante uma música para o Rei. Vamos, cante agora!” A criança era tímida para começar, mas sua mãe atrás dela, lhe deu um pequeno impulso que a assustou para abrir a boca e ela começou, “Não era um prato sujo para colocar diante do rei.” “Ok, mãe”, e ela cantou, “quatro e vinte Preto… Ohhhh” para um pavão que tinha caminhado na frente dela e espalhado a cauda e gritou “Frico. Frico.” A menina ficou muito branca. “Frico. Frico.” – ela disse. Os pássaros, que estavam sentados na cornija como parte da decoração, voaram para o tribunal e rodearam as cabeças do rei e dos cortesãos, agitando o máximo possível. Todas as pessoas agitaram as mãos impotentes. De repente, a menina apontou para o Rei. “Você deve sair daqui”, ela disse com uma voz adulta. “Este é o seu Palácio.”

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