3 Poemas de Renée Ferrer (Paraguai, 1944)

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Tradução e apresentação por Floriano Martins

Renée Ferrer (Paraguai, 1944). Poeta, narradora e historiadora, sua voz é reconhecida entre as dos criadores e intelectuais de notória importância para a cultura paraguaia. Publicou livros de poesia como Desde el cañadón de la memoria (1982), Peregrino de la eternidad (1988) e El resplandor y las sombras (1996), assim como se destacam, em sua prosa, títulos como Los nudos del silencio (1988), Por el ojo de la cerradura (1993) e Desde el encendido corazón del monte (1994). Como historiadora cabe mencionar os livros Un siglo de expansión colonizadora. Los orígenes de Concepción (1985) e La narrativa paraguaya actual: dos vertientes, este último publicado nos Estados Unidos em 1994. Os poemas, aqui publicados, integram o livro El ocaso del milenio (1999). A poesia reunida de Renée Ferrer está sendo preparada para edição na coleção “O amor pelas palavras” (Editora Cintra/ARC Edições), de circulação pela Amazon.


TARDE DE INVERNO

Sob o ruído do secador
com um livro fechado na mão
ainda convalescendo daquelas febres
e com os restos do naufrágio impregnados
de um cheiro de alcova vazia
os pensamentos
sem saber para onde ir
se desorientam
como rebanhos de beijos migratórios
que ficaram sem revirar-se nos lábios
e agora partem para a estação fria.


AS PERGUNTAS DO ESPELHO

Sabes o que se passa
sob essa pela que a recobre,
por onde anda o cérebro
quando se dirige até o norte desejando ir ao sul,
onde brota a fonte de seus gestos
se é que existe uma fonte
em alguma parte dela
onde pudesse manar o tremor silenciado?

Em que andaime ficaram seus olhos
que não distinguem uma sonda
do voo dos pássaros
ou talvez
habilmente o ignoram
como aquelas bonecas de cílios de vidro
que veem passar a vida sem vivê-la.

Se adoras os poemas
por que vais ao mercado de estranhezas?
Responde
mulherzinha
quem é a mais falsa de todas as mulheres?


NOITE DE CAMPO

Estendida sobre um catre
absorta nos ladrilhos que cerceiam a calma
da noite em vigília
depositária fiel da luxúria na garganta dos grilos
do chamado premente dos ninhos
e à inteira disposição do firmamento
absolvida estou
pelo sereno tribunal das estrelas.
Calada de absoluto
Sob a coberta do sossego que aumenta o pestanejo
de cósmicas abelhas
mitigado fel de minha memória com o brilho
estatuário de seu voo suspenso
e atônica ao crivo da intempérie
apalpo a voz
cedo à reclamação matinal do universo.

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