5 Poemas de Kansuke Yamamoto (Japan, 1914 – 1987)

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Apresentação e tradução de Floriano Martins.


Para melhor situar a presença do Surrealismo no Japão cabe referir a chamada era Taisho, que ocupa o período 1912-1926, logo após uma repressiva era Meiji que lhe antecede.  Taisho abre espaço para uma expansão experimental tanto na política quanto nas artes. Um de seus resultados mais expressivos é o surgimento do Surrealismo no Japão. Poeta, desenhista e fotógrafo, Kansuke Yamamoto (1914-1987) logo se beneficia dessa nova realidade, tendo sido ávido leitor da revista surrealista Cine, dedicada à poesia. Em seguida, ao lado de alguns amigos, funda a Associação de Pesquisa de Fotografia Independente e cria a revista Dokuritsu, dedicada à fotografia. A seu respeito observa Meghan Maloney que ele influenciou profundamente o desenvolvimento do surrealismo japonês e tornou-se uma figura singularmente importante na história da fotografia japonesa. Em Yamamoto poesia e plástica se mesclam na evocação de uma metáfora da liberdade e na crítica refinada da sociedade contemporânea, firmando os postulados do Surrealismo no sentido de uma recusa da dicotomia entre realidade e pensamento. Yamamoto também criou uma revista de poesia, Yoro no Funsui (Fonte da noite), porém ao sair o quarto número foi forçado, pela Polícia do Pensamento, a fechá-la. Com a mudança no ambiente político, o Surrealismo, que então encontrara no Japão uma singular expansão, passa a ser duramente perseguido pelo governo. A fotografia de Kansuke Yamamoto, um dos artistas japoneses mais influentes do século, lidava com uma vigorosa mescla de experimentos que envolviam a fotografia tradicional, fotogramas, poemas visuais e colagens, em uma alquímica mesa de edição. John Solt, ao escrever sobre as distinções entre surrealismo francês e japonês, esclarece: No Japão, a psicologia freudiana não era amplamente praticada ou compreendida. Em vez de se interessar pelo inconsciente per si, artistas e escritores do movimento estavam entusiasmados com a produção de imagens surrealistas. Nesse sentido, os artistas japoneses são uma espécie de reação de segunda geração à experimentação inicial dos ocidentais, e os japoneses fornecem um ponto de vista valioso sobre essa produção inicial. Em 1953, ele próprio diria: O surreal existe dentro do real. A incansável experimentação com a nova fotografia leva à criação de uma nova beleza. Sua poesia foi publicada em uma série de cartões postais e também em livros mesclados com fotografias e desenhos, tais como Yoruno Funsui (1938), Batafurai (1970) e Photographs and texts (2017), este último póstumo.


TRANSPORTADOR DO IMPOSSÍVEL

ele viu através do prisma
de seu único olho rachado

e nos levou atrás de um espelho
mesclando sonhos com não sonhos

suas colagens de tons positivos e negativos
vislumbram o mundo dos fantasmas

barcos flutuam ao longo de seios submersos
o olho do sol se põe no horizonte

seu rosto girando com guarda-chuva na mão
em um quarto chovido em calcinhas

dia a dia provocativamente
ele desencadeou ilusões

uma cama paira no céu como uma nuvem
convidando-nos a reverter e despertar


SEM QUERER

sem querer
erguendo uma mão
desapareceu
um calendário
começando com Benois
pronto
uma leve
chuva caindo
uma fita fluida e
uma forma de fita
este estado de ágata
navio de tosquiar
já havia
casualmente
enredado
melancólico
você e
ou você no plural
esta destreza
traição
longe
grosseiro
arranha-céu


CERTAMENTE

certamente
ensinará
além do vidro
balançando a cabeça
por exemplo
como uma mentira
um sobretudo está batendo
uma espécie de vento que
pode explodir amanhã
primeiro abra a mala
porque você não quer errar
estas 24 horas
vestindo uma máscara branca
e luvas de borracha
como assistente higienizado
perto de você
parado
essa ordem como um lápis e
pêndulo silencioso
ainda
muito
sem coragem
escorregou
de repente
entre nós
esgotos e porões
e todos os edifícios da cidade


UM VIDRO

um vidro
mapa
alguma coisa
coisas facilmente quebráveis
estavam alinhadas
um vazio
como cadeira
coo cidade
linha ionizada simples
com tanta pressa
irremediavelmente
tomando mão do tempo
por acaso calculado
forma é apresentada
como um quarto
voltado para
meu ombro
de repente quebrando e caindo
soa como
parecido com o riso
alguma coisa
frágil


COM INDIFERENÇA

com indiferença
soprando uma flauta
extinto
de um fragmento de vento
de onda de vidro
de rugas de onda de raio de vento
secretamente
engolindo lágrimas
cantando Tarutaran
neste dia
a câmara subterrânea
era cor esmeralda
o tempo acima
os crocodilos no relógio
um instante
faz um som de estalido
derramando do telhado
atmosfericamente

1 comentário em “5 Poemas de Kansuke Yamamoto (Japan, 1914 – 1987)”

  1. A poesia é uma arte aparentemente simples, mas para entender seu conteúdo, é necessário uma profunda reflexão! Adorei todas, aqui publicadas…parabéns aos autores..

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