Curadoria e tradução de Floriano Martins
O que é valioso em Gaviota de cruz abierta é que, apesar de tratar de um tema dessa natureza, que poderia facilmente levar a um discurso panfletário, não só elimina esse perigo, mas também dá suavidade à palavra, conseguindo construir um discurso de grande qualidade estética, em um estilo acessível à infância, o que o torna um canto sublime e límpido para a Pátria e a Libertação. Diana Morán é a noiva, esposa e mãe de cada uma das flores murchas desse janeiro, cuja semente germina na mãe terra. Sua canção se torna um hino de rebelião e liberdade, e oferece a ternura de um espírito escolhido, único e pródigo.
Diana do Panamá chora, cresce e canta, morre e ressurge como a Fênix, com a inextinguível esperança de que um dia finalmente alcançaremos a vitória, em uma Pátria verdadeiramente livre, soberana e igualitária: sonhando o sonho de Ascânio, Rosa e Ezequiel, condecorando Jacinto, Gonzalo, Teófilo e Carlos; respirando plenamente o ar da lua nova com Ricardo, Rogelio, Ovidio e Luis; subindo ao “cerro del mango manguil” com Víctor Iglesias e Víctor Garibaldo; fazendo uma “ronda de corações” com José Enrique e José Del Cid; limpando a “Pátria das Crianças” com Rodolfo, Alberto, Estanislao e Celestino; e embalando suavemente a pequena Maritza Alabarca com o leve sopro de uma brisa.
ANAIS MORÁN ROVI
Fragmento de uma resenha sobre o libro Gaviota de cruz abierta
JANEIRO DECORADO PARA UM GOLPE NAS ARTÉRIAS
Um mês que tem
nome da escola.
O mapa é o seu caderno,
sino, badaladas.
Cruzam a cerca
palavrinhas da esfinge
Janeiro é uniforme,
Caminho de estrelas.
A noite vigia
trevos do orvalho…
Quem te deixou
sem veias,
lápis de cera?
Espada ou falcão,
fio de fogo,
filhote horizontal,
barco da cidade.
Medalhinha do sol,
medalhinha de sombra,
no mastro
gaivota
na carne
papoula,
la pájara pinta
ele canta
e chora por ela.
É um mês que tem
nome da escola.
Janeiro é uniforme,
sino, badaladas.
A AURORA DECORADA POR VERMELHO, BRANCO E AZUL
A los mártires Jacinto Palacios
Cobos y Alberto Tejada
QUINTA, 9 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
O que semeia a menina verde?
SEXTA, 10 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
vinte bandeiras para a ponte.
CORO DE SEMENTES VERMELHAS
Arroz de cereja,
flor roldana,
papoula do ar.
luz carmesim.
Escada,
iodo, cristal,
que passe, passe
o capitão.
SÁBADO, 11 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
o que a menina verde semeia?
DOMINGO, 12 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
vinte bandeiras para a ponte.
CORO DE SEMENTES AZUIS
Mãe azul,
pássaro índigo,
asas ao vento,
pátria sem fim.
Relógio de areia,
relógio de sono,
que passe, passe
o ponteiro dos minutos.
SEGUNDA, 13 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
o que a menina verde semeia?
TERÇA, 14 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
vinte bandeiras para a ponte.
CORO DE SEMENTES BRANCAS
Jogo de nardos,
menino algodão,
em cada mão
nácar do amor.
Que passe, passe,
lua principal,
a semeadora
do arrebol.
QUARTA, 15 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
O que a garota verde está fazendo?
QUINTA, 16 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
que duas estrelas se iluminam.
CORO DE TODAS AS SEMENTES
Rubi, Maritza,
no céu branco,
no céu branco
Rosa Azul.
SEXTA, 17 DE JANEIRO
Alva, coral, coral,
O que a garota planta na ponte?
SÁBADO, 18 DE JANEIRO
Alva, coral, coralzinho,
vermelho, branco, azul e verde.
ASCÂNIO DECORADO COM UM SOPRO DO MAR
Ao mártir Ascanio Arosemena
PALOMAR DE NUVENS
Chovam os pombos, chovam
que o girassol já se vai…
Ascanio vai em frente,
os outros vão atrás.
COTOVIA ENTRE SOLUÇOS
Os pardaizinhos em fila
quando os vejam passar,
estendam os pequenos jasmins
e a estrela do mar.
BAIXA MARÉ DE INCENSO
Barco que vai de flores,
barco que vai de sal,
navio de quatro madrugadas
e um cordeiro de altar.
PALOMAR DE AURORAS
Arrulhem os pombos
e novamente arrulhem:
Ascanio é a bandeira,
escudos os que vão atrás.
COTOVIA ENTRE ALVOROÇO
Em roda os pardaizinhos
que aqui está o girassol;
soltem harpas de trinados
e papoulas de amor.
ALTA MARÉ DE ESTRELAS
Barco que volta vermelho,
barco nas ondas de tule,
barco que volta branco
com um cordeiro azul.
