3 Poemas de Arabella Salaverry Pardo (Costa Rica, 1946)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Sua infância passada no Caribe costarriquenho define sua presença literária.

Estudou Artes Dramáticas, Filologia, Língua e Literatura Hispano-Americana (México, Venezuela, Guatemala e Costa Rica). Publica em editoras nacionais e alguns textos em Espanha: El sitio de Ariadna e Rastro de sal, romances; Impúdicas, Infidelicias e Íntimas, contos;  Búscame en la palabra, Llueven Pájaros, Violenta piel, Chicas Malas, Continuidad del aire, Erótica,  Dónde estás Puerto Limón, Breviario del deseo esquivo, Arborescencias, poesia. Em breve duas coleções de poemas: Otras lunas e  Fugit. Sua obra literária está presente em jornais, revistas, blogs literários e antologias na Costa Rica, México, Equador, Itália, Espanha, Turquia, Polônia, França, Colômbia e Índia. Palcos de vários países acolheram a sua voz em recitais, na América Latina e na Europa. Foi traduzida para inglês, turco, polonês, catalão, italiano, húngaro, francês e bengali.

Editou a primeira antologia bilíngue de poesia escrita por mulheres publicada no país, que reúne as vozes de cinquenta poetas. Ocupou a Presidência e a Vice-Presidência da ACE (Asociación Costarricense de Escritoras); dirige o Grupo EL DUENDE de onde realiza uma intensa gestão cultural. Além disso, é convidada para encontros e festivais de escritores nacionais e internacionais, assim como júri em concursos de poesia e narrativa. Participa como atriz em mais de 50 peças e 20 filmes. Trabalha em produção, direção e atuação para rádio, cinema e televisão. Ministra workshops sobre comunicação e imagem e escrita criativa.


CANÇÃO DE GAROTA AFRICANA

Eu tinha uma canção
tinha uma flor esplêndida
eu tinha uma anêmona
que também era flor da paixão

Eu tinha uma flor de suculentas pétalas
tinha uma delicada borboleta
dormindo entre as coxas

Eu tinha uma andorinha
tinha um grilo cantando
uma abelha
tinha uma pombinha
sonhando entre as coxas

Mas um dia
Me acertou um pássaro
de desconsolado voo

A tradição era navalha.
de um turbulento golpe
silenciou meu grilo
a borboleta abortou seu voo
desapareceu a fruta
a canção se inundou em meu sangue

Agora tenho um pouco de nada
morrendo entre minhas coxas


CHOVE PÁSSAROS

Golpeiam as janelas
Pássaros que são anjos atormentados
Chove pássaros
os telhados repicam enquanto os pássaros
batem contra o clarão da lua

Chove anjos que são pássaros
para nos falar do grito infernal
de sua queda

Chove pássaros
lanças
flechas feridas
chove pássaros
habitantes imprudentes das nuvens

Esses pássaros que geralmente são anjos
choram por este planeta que arderá
queimado por nossa própria loucura

Esses anjos que geralmente são pássaros
enchem suas gargantas com areia
enquanto cospem fogo

Suas palavras são então pederneiras
que nos atingem da rodopiante solidão
da cegueira


FRUTAL

Nasci nos trópicos
sou frutal sem estações
Me torno verão pela pura vontade dos meus sentidos.
O corpo
se impregna com o cheiro da tangerina.
Pressinto em cada peito
um sabor diferente: o direito é maracujá
e o esquerdo uma leve lembrança de carambola

Nos braços
e principalmente nas axilas
se esconde
um aroma de manga colapsada.
Na curva das nádegas
há um sabor residual de graviola madura.

O mamão se acomoda
na suavidade redonda do ventre.
Pelas minhas coxas sobe apressada
a presença indiscutível do caimito
e remata no ponto exato do meu sexo
onde creio que convergem todos os sabores

Mas é só nos entardeceres no mar
com som de conchas
onde recobro a festa frutal
da minha presença.

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