5 Poemas de Harold Alvarado Tenorio (Colômbia, 1945)

| | ,

Curadoria e tradução Floriano Martins

Harold Alvarado Tenorio (Colômbia, 1945). Poeta, ensaísta, tradutor. Aprendeu a ler, escrever, somar e subtrair no quadro-negro na escola de um descendente de escravos e mais tarde em uma escola onde um matemático e geógrafo lhe ensinou a vastidão do mundo num globo frágil enquanto a fazia ler Oscar Wilde, Shakespeare. Jorge Isaacs ou Knut Hamsun. Na Universidade Nacional da Colômbia promoveu a criação da carreira de estudos literários após anos de desdém pelas literaturas nacionais, foi Diretor do Departamento de Literatura, exercendo atividades como jornalista no jornal La Prensa onde dirigia a página de Cultura, que lhe valeu o Prêmio Simón Bolívar. Em Pequim trabalhou como consultor cultural para a editora China Today e publicou a antologia Chinese Love Poems, que desde então foi republicada em vários países. Criou a revista virtual e impressa Arquitrave, da qual é diretor. Harold traduziu a poesia de Cavafy e Eliot. A sua poesia foi traduzida para diversas línguas e colabora com diversos meios literários e jornalísticos da América e da Europa.


OBJETOS

Os homens, querido meu,
são outros tantos objetos de nossa vontade.

Servem-nos,
e uma vez repletos de meu sabor de gelo,
gastos, envelhecidos, cegos ou surdos,
tratamos de jogá-los
ao cesto de folhas secas,
ao cemitério de automóveis,
ao campo de concentração,
ou os trocamos, com nossos aliados
ou inimigos,
por outros objetos.

Os homens, querido meu!


LEITOR

Leitor de livros inúteis,
olha teu ventre adiposo
e tuas mãos corroídas pela artrite.

De que serviram
as horas gastas em prol
de uma beleza de papel e palavras?

Mais teria valido
saborear, agora que elas te rondam,
as fragrâncias que te ofertava quando jovem.

A velha desdentada não dará mais de si
como tu mesmo, hoje que lamentas
os dias e os meses de comércio
com livros e metáforas.


A AMIZADE

A amizade, entenderam outros,
era uma prolongada conversa
sobre o consumo do tempo,
tornando perduráveis os dias.

A amizade era gozo das palavras
e um xadrez memorável
concluindo partidas de prazer,
por jogar com os gestos e a vontade.

A amizade, velha moeda errante,
agora é oferecida por anciões,
doentes, animais, bêbados e loucos.

Nada sabem, os homens, dela:
a fugitiva dos séculos.


CABARÉ

Que o poema a retrate
apenas como a viste no tempo
que quis se dar a teus olhos e à tua alma.

Feita da dura memória da carne,
mostrava a astúcia e a candura
de quem pressentia
a marca que deixa outro coração.

Assim a desejavas.

Querias submeter-te ao desdém que promete
o ouro da juventude.

Estavas disposto
a sofrer o rigor de seus olhos na fêmea
do melhor cabaré: a vida.


PROVÉRBIOS

Não fales.

Olha como as coisas apodrecem ao teu redor.

Confia apenas nas crianças e nos animais
e com os anciões aprende o medo de haver vivido
demasiado.

Indaga a teus contemporâneos apenas coisas práticas
e comparte com eles teus fracassos, tuas doenças,
tuas angústias, porém nunca teus êxitos.

De teus irmãos ama o que está longe
e teme o que vive próximo.

Jamais indagues a teus pais por seu passado
nem trates de aclarar com eles tua infância e juventude.

Não fales com teu patrão, escreve-lhe e não lhe contes nunca
teus planos futuros e mente acerca de teu passado.

Ama a tua mulher até onde ela o permita
e se chegares a ter filhos, pensa que,
como nos jogos de azar,
poderás ganhar ou perder.

O destino não existe.

És tu mesmo teu destino.

E se chegares à velhice
dá graças ao céu por haver vivido longo tempo,
porém implora com resignação por tua morte imediata.

Os que não temos dinheiro ou poder
valemos menos que um cavalo,
um cão,
um pássaro ou uma lua cheia.

Os que não temos dinheiro ou poder
sempre calamos para poder viver longos anos.

Os que não temos dinheiro ou poder
chegados aos quarenta
devemos viver em silêncio,
em absoluta solidão.

Assim o entenderam os antigos,
assim o certifica o presente.

Quem não pode mudar seu país
antes de cumprir a quarta década,
está condenado a pagar por sua covardia pelo restos de seus dias.

Os heróis sempre morreram jovens,
não te incluas entre eles,
e conclui teus dias
fazendo o cínico papel de um homem sábio.

1 comentário em “5 Poemas de Harold Alvarado Tenorio (Colômbia, 1945)”

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!