5 Poemas de Yairen Jerez Columbié (Cuba, 1985)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Yairen Jerez Columbié (Havana, 1985). Poeta e professorauniversitário. Reside na Irlanda, onde leciona no Trinity College Dublin. Doutora em Filosofia e Estudos Hispânicos pela Universidade de Cork. Autora do livro Essays on Transculturation and Catalan-Cuban Intellectual History (Palgrave Macmillan, 2021), além de haver publicado diversos ensaios esparsos nas revistas acadêmicas Tropic, Anthurium e Journal of Catalan Studies. Em abril de 2022, ganhou o Prêmio Altavoz Cultural de Poesia.


FÓSSEIS

Quem poderia adivinhar que essas estrelas
foram lírios cortados pelo tempo?
Diariamente alguém caminha sobre flores imóveis
e pensa que são grãos de areia,
constrói um telhado com fósseis de chuva
sem ver os círculos que provam
que uma pedra é o vestígio de algo mais.


PARTIDA

Ainda não fui embora,
porém o grito de outra terra
estremece o que abraço;
um tremor
de ilha prestes a emergir
me estimula a erguer os pés da terra firme.
Impaciência,
eu nunca te abandono,
ou talvez há muito tempo eu tenha saído,
quando desejavas tudo do fundo
de um Atlântico sem nome.


DESTINO DE ALGUNS POEMAS

Tu eras o poema,
sua cabeça breve,
a quarta linha na altura do pescoço;
as mãos que o tiraram de mim
eram as tuas, teus os pés
sobre meus dedos extraindo a última frase.
Então vieram os sons,
tuas perguntas, minhas respostas,
e o poema saltou pela janela.


PERÍODO ESPECIAL

Queríamos vê-lo voar,
aquela pipa distante,
feita com papel celofane
que não conseguimos,
rangendo apenas na memória.


OUTRO VERÃO NA IRLANDA

Perdi minha sombra há muito tempo.
Em dias como estes eu pareço vê-la
com o canto do olho
sobre os muros ao meu lado
mas quando me viro só encontro uma mancha
que se dissolve no cinza das fachadas.
Sob a capota do céu
eu arrumo a gola da minha jaqueta
para estar apresentável
e volto a estranhar
que os muros não sejam espelhos.
Não me lembro da última vez
que minha sombra e eu caminhamos juntos
lado a lado ou ela à minha frente
me levando ao parque
à escola
ao canal
ao mar
à casa de um amigo.
Minha sombra alta, escura e angular.
Eu a reconheceria se a tornasse a ver?

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