Atravessar a porta escancarada deste livro–porrada de Renata Flávia é uma coragem frente ao extremo perigo em que estamos. O que ela nos apresenta é a insurgência política de como dispor-se ao imprevisto e ao aparentemente incomum: dançar sem sapatos, roçar com força corpos estranhos e tocar o indecifrável. Essa é a dimensão inaudita quando se está diante de um vocabulário que nunca é o mesmo, quando o que inscreve é um enfrentamento inconstante ao poema: nem discurso, nem ciência. O que se lê aqui não é mais uma questão de saber, mas sim aquilo “que zomba e arde”, alguma coisa secreta que até pode existir, mas em contradito, por causa do erro até o infinito. Pés na terra destruída e um passo a mais na demora da palavra entre o matema e o amor, sem sentimentalidades, entre a montagem e a desmontagem de um entendimento visceral do quanto a poesia não pode dizer: “o poema que nunca será escrito/ é o único que deve ser lido/ o resto é uma busca/ para preencher esse vazio”. descalça na gig é roquenrou impuro.
MANOEL RICARDO DE LIMA
ouvindo “come as you are”, nirvana
