3 Poemas de Domingo Moreno Jimenes (República Dominicana, 1894-1986)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Domingo Moreno Jimenes nasceu e morreu em Santo Domingo, neto e bisneto de presidentes (o dominicano Juan Isidro Jimenes Pereyra, duas vezes no trono, em 1899 e 1914, era o pai de sua mãe María Josefa Jimenes Hernández, procriada com Rosenda Hernández, que a teve em Sabaneta em 1872, quando voltou do exílio de Porto Rico, e do cubano Manuel Jimenes, segundo presidente do país), Moreno tinha sangue cubano e venezuelano, o de seu pai Domingo Moreno Arriaga, filho do venezuelano Antonio Moreno Urdaneta e Seibana Emilia Arriaga.

Apesar dessa prosápia, nem ele nem sua mãe tiveram fortuna e ele sempre viveu modestamente.

[…]
Moreno morreu por viver humildemente em sua casa na rua que levava seu nome em vida, no bairro Mejoramiento Social nº 15 e faleceu em sua cidade natal em 21 de setembro de 1986.

Durante sua longa existência ocupou alguns cargos, de telégrafo, professor em diferentes lugares, a diretor do Instituto de Poesia Osvaldo Bazil de San Cristóbal, criado para ele durante o regime de Trujillo em 1950; mas na maior parte do tempo ele vivia como um mascate de seus livros e plaquetas: vendendo-os por meio de cidades, vilas e aldeias da República. Além dos lugares mencionados, viveu em San Pedro de Macorís, Monte Cristi e Santiago.

[…]
A fama de Moreno funda-se em ser um profundo poeta, fundador junto com Andrés Avelino, e Rafael Augusto Zorrilla e Francisco Ulises Domínguez, do movimento de vanguarda El Postumismo, proclamado na revista La Cuna de América em 28 de março de 1921, nesta cidade.

Porém, não só nos seus dois primeiros livros publicados em 1916, Promesa y Vuelos y Duelos, escritos de 1913 a 1915 (quando o poeta se encontrava em plena juventude), existem muitos poemas de amor, mas ao longo de toda a sua vida, especialmente em Psalmos (1921), Decrecer (1927), Días sin Luz (1932), La Religión de América (1938), Sentir es la Norma (1939), y Fogatas sobre el Signo (1940), até em Santa Berta y otros Poemas (1959).

Devemos esclarecer que, talvez por razões econômicas (seu ilustre avô deixou a presidência em 1916 justamente), um terceiro livro com poemas escritos entre 1915 e 1916 não pôde ser editado e esses versos foram incluídos em seus livros posteriores, indicando regularmente a data de sua escrita, portanto em obras que remontam a essa data como os anos 1940, poemas rimados e até sonetos ainda aparecem, porque com exceções como La Hija Reintegrada, o mais famoso dos poemas escritos por Moreno, quase todos os seus extensos livros são compilações de poemas publicados em jornais e revistas, misturados com alguns inéditos.

MANUEL MORA SERRANO


LIGEIA

Tenho uma noiva
morena e silenciosa
que me ama nas sombras.
Seus dentes são joias de marfim
e suas mãos parecem rosas;
ela tem uns olhos mágicos que surpreendem e deslumbram
e toda ela
é como uma libélula que foge
não sei se é o temor
ou um rio que transborda,
que a rouba de mim
ou um céu sombrio que a guarda,
assim é que sempre sozinha
eu a descubro
e quando tento atraí-la para o meu domínio, ela fica furiosa como uma loba;
e vitoriosa
de meus artifícios
ela me olha sorrindo por um longo tempo,
e então como uma onda frágil
parte me deixando aterrorizado sem dizer nada
uma e outra vez,
deixando que me diga a ponta de seus dedos
o que só no escuro confia ao seu quarto
em um desperdício de delírio,
quando a meia lua ronda em seus jardins.
Entretanto,
quando nos picos nasce a aurora,
ela me avisa que nas nuvens deslizam ledas
e o charme das cotovias.
Tenho uma noiva
morena e silenciosa
que me ama na sombra.


NOTURNO

Pela porta adjacente
do meu quarto tranquilo
entrou um campo da lua
e dormiu em meu leito.

Ainda não era noite. Poucas
névoas flutuavam no éter como
auréolas ou nimbus. A planície
estava adornada com púrpura.

Entro, e no travesseiro,
como uma trança loira
percebo o raio quente
que escurece o quarto.

E penso nela; sozinho
consigo vê-la muda
como na última tarde
do adeus. Eu me inclino
sobre a minha cama dura
à espera dos morcegos
ou de sonhar com a aurora que se escuta no pinheiral…


O ENCONTRO

Ela tinha uma calêndula na mão, entreaberta.
Seus olhos pareciam dois sóis negros. Toda
ela tremia sem palavras de paixão e medo.
Duas rosas floresceram em seu rosto pálido.

Um estremecimento percorreu seu ser já quase
sem vida. Eu sentia seu coração ardente
pulsar. Nos separamos sem falar. Um relógio
que então soava me recordou a morte.

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