3 Poemas de Emmy Bridgwater (Reino Unido, 1906-1999)

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Apresentação de Floriano Martins
Tradução de Allan Vidigal*

Duas grandes poetas inglesas ligadas ao Surrealismo foram Emmy Bridgwater e Edith Rimmington. Poetas e artistas plásticas, as duas se conheceram quando Emmy passa a integrar o grupo surrealista de Londres, do qual já fazia parte Edith. Amigos de Emmy, o artista Conroy Maddox e o crítico Robert Melville, trataram de apresentá-la a Roland Penrose. Logo em seguida, 1942, Emmy contribuiu para a uma revista surrealista chamada Arson, que tinha na direção Toni del Renzio. Este ficou impressionado com sua criação, o modo como desentranhava as imagens mais viscerais possíveis. Quando em 1947 André Breton selecionava as obras que iriam compor naquele ano a última grande Exposição Internacional do Surrealismo, em Paris, tratou de ali inserir uma obra de Emmy Bridgwater. Explorando os ambientes mais recônditos do subconsciente, quase sempre em traços afeitos ao automatismo, sua obra tanto plástica (pintura e colagem) como poética, permaneceu fiel aos preceitos surrealistas, mesclando humor negro e paisagens oníricas. De sua poesia, se poderia dizer o mesmo que Robert Melville referiu em relação à sua pintura: embora oníricas em sua ambiguidade, são documentos realistas de uma região de fantasias, esperanças e desejos obscuros onde poucos ficam para observar e menos ainda ali permanecem. Ao longo de sua vida participou de diversas exposições, porém jamais publicou um livro de poemas.


SOBRE O TRAÇO

De volta à Terra
À árvore nascida da baga.
Rubra… Rubra… Rubra como a Terra,
Cresce Capim – Capim verde crescendo
Não haverá espaços outrora estrelas,
E assinaturas nos espaços sobre o traço – assinaturas.
Morte negra e árvores diluídas aos
Brados de “É hora,
Agora é hora,
E logo não haverá mais tempo”.
Sem pincéis, sem cores, sem tintas a correr
Sem dedos e sem dar as mãos
O pincel sem mover-se em linhas
Parado tudo tão parado tão
Olhos que tudo veem. Olhos sempre vendo
Sem corredeira,
Sem cerejeira em flor.


DE VOLTA AO COMEÇO DA PARTITURA

Depois de dez mil anos, repetirei meu pedido.
Repetirei no jardim acinzentado da manhã quando as nuvens balançam e as gotas de chuva cantam e o solo está úmido e as minhocas revolvem, revolvem, a terra que sou.
Passarinho marrom, escutarás.
Sem dar atenção à insistência dos sussurros, irá novamente voltar a atenção a bicar seu inseto de corpo listrado de preto e os olhos azuis de uma Mona Lisa.
Estende-se a grama penetrante pelo solo não-virgem, marrom como sangue derramado e seco.
E mais uma vez, depois do inseto,
Irás
Irás cantar.


NÃO

A Jornada

Dois surrados na Luz Vermelha de bar em bar.
A ficha caiu escuridão os fez subir
Ali ficaram sugando a videira entalhada no teto.
Os cantos da sala giravam e dançavam
E os troncos das árvores gemiam.
Períodos completos cortado em fatias
Enquanto fibras de serpentes mordicavam pitéus
E peixes cinzentos nadavam em serragem, de olhos vidrados,
esculpindo padrões adesivos, intrincados como o pecado.
E lentamente – como a estrela do mar rastejando de encontro à onda –
E lentamente, mas sem se mover como a areia na areia movediça,
Chegou a Carruagem…
mas eles se foram.


Allan Vidigal (Brasil, 1971). Poeta, editor e tradutor. Possui mais de 20 livros de história empresarial publicados, incluindo algumas das maiores corporações do Brasil. Parou de contar livros traduzidos depois de chegar a cem em temas diversos que vão das Artes à Zoologia, passando pela Ciência da Computação, Design, Economia e assim por diante. Tem traduzido com frequência para a Agulha Revista de Cultura e projetos isolados de Floriano Martins.

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