3 Poemas de Mirian Freitas

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Mirian Freitas, escritora mineira, doutora em Literatura Comparada, professora do Núcleo de Línguas do IFSUDESTE/Juiz de Fora. Publicou os seguintes livros: Intimidade vasculhada (Contos), Exílios naufrágios e outras passagens (Poemas), Quando éramos pássaros e outros poemas abissais (Poemas), Caio Fernando Abreu: uma poética da alteridade e da identidade (Ensaio Ilustrado), Mosaico (Narrativas curtas e poemas), A memória é uma oficina de ossos (Poemas). Possui textos em revistas literárias impressas e digitais como CULT, CP Literatura, Mallarmargens, Acrobata, Diversos&Afins, Literatura&Fechadura, Palavra comum, Ruído Manifesto, Subversa e outras.


DESPERTAR

Nat King Cole entra pela janela do quarto
como brisa nesta manhã de verão.
Lá fora, o riso dos pássaros é um convite à embriaguez,
desperta o ardor da memória mais antiga.
Depois da voz e seu balanço dentro da carne,
ouço o vulto do instinto.

O eco das flores soou no horizonte.

Agora
suave é o hálito do silêncio.


UMA TARDE EM OGUNQUIT

Haverá algum segredo neste mar
que esconde águas enrugadas
entre fendas de areia
e caranguejos sem memória?

Pássaros marinhos avançam
o bico
entre a fome e a esperança.
− em nada se sustenta quem recusa o abraço.

Nas rochas,
os corais não sabem
desta herança
que é morrer
por um pedaço da tarde
ainda espessa de ânimos
e bichos.


EM LUMBINI
(Nepal)

Ao avistar o céu de Lumbini
voaram para dentro de mim
pássaros
à procura da morada secreta de Buda.
Entre os olhos e a cidade,
os vazios de Chopin tocam com os dedos
o inverno e a neve que passeiam sobre os Himalaias
ao final de janeiro.

O vento sopra os telhados desta manhã,
o uivo de quem se levanta
é um estrondo no horizonte de aves.
O peito acende o que dormia há anos,
a saudade é um idioma de árvores feridas.

A memória é um piano de pulsos cortados.

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