3 Poemas de Renata Dalmora

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Renata Dalmora, artista baseada na cidade de São Paulo, é graduada em artes cênicas e atualmente divide suas atividades entre a escrita, composição, canto e atuação. Autora de “O Canto Sedutor dos Mortos e Outras Ressurreições”, apresenta, agora, seu segundo livro “Um Elefante Caminha pela cidade”, ambos pela editora Pátua. Desde 2021 vem produzindo suas canções autorais, que podem ser encontradas em todas plataformas digitais de música.


Um elefante caminha pela cidade

Faz um segundo que o óbvio é velho.
Faz dois segundos que o óbvio é obsoleto.
O óbvio é estático, é um raso sem peixes.
O novo nunca é o mesmo. É o mesmo, mas de outro jeito. Outra ordem. Como essa história.
Agora é o novo.
Agora um elefante caminha pela cidade,
Uma trapezista.
E também um homem com uma gaita. Mas não está em quadro.
Está em quadro um outro, com uma sanfona.
Os sons não sei.
A gaita. O trompete. O bramir do elefante. Se misturam.
A sanfona, com certeza, eu ouço.
A mulher em cena dança,
Não é jovem nem velha.
Tem sua própria idade.
É criança e anciã e é mais livre que qualquer homem, pois pôde perder as esperanças e então nascer da matéria de si,
A matéria da qual tudo é feito – das coisas aos sonhos.


O filme da mulher gigante

O homem fez uma jaula de ouro pra mulher.
Fez uma jaula porque tem medo. Da mulher gigante igual no filme.
A mulher no sonho do homem era uma mulher gigante feita de tetas e lábios.
A mulher sem cabeça, o folclore do homem.
O homem fez uma jaula bonita, toda enfeitada de palavras vazias.
A mulher dentro da jaula não pode. Fica irritada, destrói a jaula nos dentes.


O corpo é um lugar de conflito

Quer saltar da boca
A palavra muda
Embrionária
De antes do Big Bang.
As palavras mortas
Sintomáticas
Do indelicado presente de Deus
De saber-se humano
De saber-se insano.
Fecho os olhos
E sorrio
O sorriso tolo
Da cegueira de si.
Fecho os lábios
E suporto mudo
O vórtex cósmico
Dentro de mim.

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