Layse de Araújo (1999) nasceu em Estância (Sergipe). Viveu grande parte de sua vida em Rio Real (Bahia) e atualmente reside em Alagoinhas.
É graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) — Campus II e integra o grupo de pesquisa “A Bahia das Letras: História, Literatura, Trajetórias e Participação Política”.
Participou da IV e da V edição da Coletânea Estilo & Poesia pela Editora Brunsmarck, da Antologia Brasilidades Poéticas pela editora Mente Aberta e da Coletânea A Mulher e a Igualdade pelo projeto Apparere.
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Tuas mãos, teu quase
Ser mulher, ser eu,
Me conhecer
Pelos caminhos inventados,
Percursos deste corpo,
Um mergulho cego,
Impreciso nascer
Que brota intuitivo.
As mãos que são tuas
Não podem me tocar,
Não conhecem em tato
A espessura mais íntima
De minha pele.
Em tua fantasia
— que já não sei se é tão tua,
Ou bem mais minha
Me dissolvo, me afogo,
Sempre em mim
Pelos teus olhos,
Me esvazio dos líquidos
Que escorrem,
dou-te o mel que necessitas.
Te alimento, profana
E tu também me alimentas
Mas são minhas as mãos
Que me tocam
E é também minha
A boca que está ao alcance
De beber, beber de mim
Do meu sangue, das minhas águas,
do meu interior, deste meu gozo.
Coisa que pulsa e anseia
o toque físico da
realidade de todas as
coisas.
O que é este conto nosso,
amor meu?
Coisa sustentável,
interior porque é para dentro
irreal porque corrompe
o ritmo banal do lado de fora,
do correr da vida.
Tudo é confuso nessa fusão
entre imaginação e realidade.
Quisera amar-te menos.
Mas este amor que cresce
Nutre-se e fortalece-se
com o passar dos dias.
Cuida-te, amor meu!
Nosso tempo é um
quase não-tempo,
Quem medirá este romper
de todas as coisas
que não se abrandam
para não morrer?
Estou nua
Mundos inteiros desmoronam à minha volta.
E estou nua.
No círculo — familiar, social, mundial— o colapso:
loucos, assassinos, ladrões, surtados,
Os verdadeiramente tristes, vidas em morte.
Estou nua
E as pessoas morrem.
Facadas? Tiros?
Descanso natural? Vontade de alguém?
Estou nua.
Despida de todas esperanças vãs,
Aceito o mundo rude sem concordar
com o normal de seus absurdos.
Estou nua
Como no dia em que nasci.
E choro—por mim, por minha mãe,
pela existência sem salvação de cada um de nós.
Estou nua.
Contra as máscaras do mundo.
De peito aberto para todas as suas dores
Que me atravessam para que eu me saiba viva.
Corpo
Dizer de mim
Como quem faz do corpo
pátria.
Caminho
A percorrer
por toda a vida.
Nas estações inteiras,
Ser corpo, casa,
mudança e exílio.
Corpo e parto:
Mar do porto
dos pertencimentos.
Poemas maravilhosos😍 Parabéns 👏🏿❤