3 Poemas de Aketzaly Moreno (México, 1992)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Aketzaly Moreno (México, 1992). Poeta. Estudou Língua e Literaturas Hispânicas na Faculdade de Filosofia e Letras da UNAM. Publicou os livros Vuelo de muerte (La Sagrada Familia, 2018), Nada queda en pie (Ojo de Golondrina, 2019) e Relámpago en la sangre (Cae de Madura, 2021). Participou de encontros de poesia na Argentina, Bolívia e México. Juntamente com Magnolia Cabello, organiza o Festival Internacional de Poesia em Milpa Alta. Atualmente dirige a editora Ojo de Golondrina.


A DANÇA DA VIDA

Na redondeza imperfeita do mundo
atraído pelo magnetismo de seu fogo,
não luto contra o dínamo do tempo.
Contemplo a dança dos homens,
seus cabelos negros de fogo,
o seu rugido que de longe é um murmúrio;
eles farejaram o sussurro à distância
das secreções dispersas;
rompem fileiras,
gritam, uivam dolorosamente,
eles perseguem a fragrância suspensa
que encontram derramada na casca;
babando os sucos que lamberam
dos poros abertos da terra
eles correram em busca de refúgio
nas saias da noite,
pela urgência da perpetuidade.
A amarga disputa pelo sal
é desencadeada com um grito de morte;
eles correm para a vida
sobre o caminho do sangue
potros brancos com cascos silenciosos;
bestas que se açoitam com seu próprio flagelo,
cansados da dor da viagem
eles se afogam no líquido que os move,
exceto um,
que já relincha na cabeça.
Uma rachadura divide os corpos em dois
e uma esfera agora perfeita
germina no centro da carne.
O eco da sua forma é projetado em si mesmo
repetido doze e quatro vezes;
é um espaço no espaço
habitado por pulsações,
autocontradição,
forma de vida faminta na inconsciência;
no rigor de sua função,
mastiga fios de sangue
com o umbigo da boca;
Você não sabe dentro ou fora,
ninhos em uma cama viscosa
em que nada espera.
Sua jovem agonia de uma célula perfeita
avança com os dias;
envelhece:
crescer também é se decompor,
como a fruta
que para atingir seu estado maduro
tem que deixar de ser verde.
De imediato,
digna da mutilação do mundo,
nasce deformada e adoece com o tempo;
fermentada aos olhos dos homens
que apesar de seus temores
dançam por instinto,
porque eles sabem, embora não o entendam,
que a vida é uma homenagem prestada à morte.


PRESSÁGIO

Em uma idade muito precoce
sofri a febre das perdas;
fui muito estúpida em poder reconhecer
na medula das alucinações
o tom das grandes profecias,
revelado apenas na angustiante paralisia do sono:
“Serás bem jovem ainda,
mas terás já a vida tomada,
porás o lombo embaixo das horas
e acenderás o fogão com as próprias mãos;
também te dirão,
que ingênua serás em acreditar nisso,
que o esforço custa muito
(e vejam se não estou pagando caro por isso);
deixarás os rins na panela
porque estarás te apegando à glória
e às vitórias materiais;
vão te dizer que isso é felicidade,
e confiarás que é aí que ela repousa.
Terás ainda dentes completos
porém já estarás doente e velha;
em uma última tentativa
verás como é suficiente desejar algo
para saber que foi destruído.
É por isso que te digo que estás a tempo,
abandona tudo,
Conheço o edifício que desaba à vista do mundo,
não deixe que o espanto dos outros te intimide;
ninguém vai colocar o corpo nos escombros em nome da vida
porque sabem que todos aqueles quartos já estavam desabitados.
Desiste,
renuncia:
desistir é a forma mais legítima de manter a vontade.
Busca o lazer e o adores,
faz disso o teu princípio mais sagrado
e o propósito de todas as tuas decisões.
Avança apenas se for para deitar na cama
consagrada à vida;
procura sempre que teu suor se desprenda somente do orgasmo;
sejas verde como as plantas,
imita-as mesmo em silêncio;
busca alegria na terra e na água;
toda felicidade que repousa
no andaime do capital
é paga apenas com perdas.
Mas se és indiferente a este presságio
e entregas teu corpo aos dias,
saberás pela própria carne que a obra
empobrece mais do que a miséria.”


NÃO ME JULGUES TÃO CEDO

Não me julgues tão cedo,
quando me vês urinando nos bustos de pedra
e te pareça fácil.
Talvez antes de colocares a mão no nariz
e desprezar a miséria que me cobre,
apontarás sentenciosamente
minha má educação e falta de valores,
depois seguirás em frente sem olhar para trás
com a sorte de ter nascido
atravessado por outra história,
sob outro teto,
com outro nome para veias fechadas.
Eu te ouvi dizer,
da tua figura de mártir exemplar,
que o mundo funcionaria melhor sem a minha sombra,
sem os pedaços de meu corpo
espalhados pelas calçadas;
sim, por outro lado,
eu esconderia de uma vez por todas a mão que mantenho estendida
e assim como tu e muitos outros
eu encontraria uma ocupação que me levaria adiante.
mas, cara,
o que significa sair à frente?
Quem te disse que homens como eu não brigam nem choram?
O que faz com que acredites que a tua medida de sucesso
também me ajuda a medir o frio?
Talvez não saibas,
mas não é fácil procurar calor na fragrância da merda.
Também temo a fome como a noite,
E as secas que trazem consigo esse delírio
também me atormentam e confundem.
Enquanto a tua linha permanecer traçada,
enquanto eu não tiver pão ou luz para enfrentar meus terrores
e a esperança nada mais seja do que um fardo que pesa no caminho
daquele que não tem mais lugar
que os ossos dentro de sua pele
e a língua dentro de sua boca,
não me digas
o que devo fazer
com as moedas que me deram.
Eu sei que não é heroico ou corajoso
aspirar ao esquecimento
evitar o grito de miséria;
mas é a única coisa que tenho,
eu não preciso de uma história de glória,
talvez, inconscientemente entrando na morte
e talvez nisso sejamos semelhantes.
Mas ao contrário de ti,
e não sei se isso me torna mais transparente,
eu não te perguntaria
que cuspiste fogo na avenida
para que soubesses que a vida
que queima a alguns
a outros nos arde.

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