3 Poemas de Alex Aillón Valverde (Bolívia, 1969)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Alex Aillón Valverde (Sucre, 1969). Escritor e jornalista. Publicou os livros de poemas Pop y otros escritos; 4000; e Revolución. Atualmente é editor do suplemento cultural Puño y Letra do jornal Correo del Sur da capital boliviana.


COMO LER UM POEMA DE LEONARD COHEN

Assim que te vi já queria fazer amor contigo,
mas você me disse naquela madrugada,
que, em vez disso, o que te interessava
não era para fazer história com este rolo, mas
transar e ponto.
Então, enquanto eu fazia amor com você
e você transava comigo,
pensei que era um bonito detalhe perguntar
se você era feliz:
“Pare de fazer perguntas estúpidas
e concentre-se no que está fazendo”
você me respondeu.
Está tudo bem, eu disse a mim mesmo:
Essa mulher com certeza sabe o que quer!
Depois de uma semana,
eu só pensava em transar contigo,
e em vez disso você queria fazer amor,
então nos despedimos.
Passamos do doce que é
que nos tratem como um pedaço de carne
a amar-nos a thousand kisses deep.
Depois de alguns anos te vi de novo
e me lembrei das covinhas nas suas costas
os bonecos de neve, a chuva,
e como poderia te amar
-um canalha como eu-
sem nem ter pisado
o asfalto prometido de Boogie Street.


UM ARTESÃO

Sou um artesão. Faço poemas para qualquer um usar. Não os faço para museus, faço-os para as feiras, para os mercados, para poderem ser trocados. Poemas como mangas, abacaxis, bananas, anonas, maçãs, pêssegos. Me especializei em fazer poemas de todas as cores e formas. Alguns saem rechonchudos, como aves do paraíso. Outros, magros, com um paciente esquelético de um faquir. Não tenho a fórmula exata, é apenas um ofício. Meu pai fazia, eu também faço. Andamos procuramos a vida, meus poemas e eu, embora geralmente seja a vida que nos encontra pulando de felicidade em alguma esquina. Então ela nos observa com ternura e tristeza, enquanto se afasta aos poucos, como o voo lento de uma borboleta, deixando-nos um suspiro no ar.


AS CHAVES

Ela esqueceu suas chaves sobre a mesinha de cabeceira e foi andar pelo mundo. “Esquecer é tão humano”, me escreveu de algum lugar que pode ser qualquer lugar. Olho para a janela da minha sacada contra a qual um pássaro parou de bater todas as manhãs. Se soubesse, um poeta colombiano me condenaria a um verão muito longo. Vários dias e várias noites se passaram e várias chuvas caíram e suas chaves ainda estão no mesmo lugar onde as deixou antes de se despir para assaltar o corpo da noite e de minha alma. Tenho me perguntado com tristeza sobre o destino dessas chaves. Sobre as portas que permanecerão permanentemente fechadas. Sobre o esquecimento, que é tão humano.

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