3 Poemas de Euler Granda (Equador, 1935-2018)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

Euler Granda nasceu em Riobamba, em 7 de junho de 1935. Formou-se em Medicina e Cirurgia na Universidade de Guayaquil em 1965; quatro anos depois, lecionou a cadeira de Higiene Mental e Psicologia na Universidade Central do Equador. Entre suas obras poéticas estão: El rostro de los días (1961), Voz desbordada (1963), Etcétera, Etcétera (1965), El lado flaco (1968), El cuerpo y los sucesos (1971), La inutilmanía y otros nudos (1973), Un perro tocando la lira (1977), Daquilema Rey y otros poemas de bla, bla, bla (1982), Anotaciones del acabóse (1988), Ya paren de contar (1991), Poemas con piel de oveja (1993), Que trata de unos gatos (2002), Antología personal (2005). Recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Internacional de Poesia Jorge Luis Borges (Lima, Peru), o Prêmio Jorge Carrera Andrade 1988 e o Prêmio Nacional de Poesia 75 anos da fundação do jornal El Universo em 1996. Foi nomeado jurado de poesia do Prêmio Casa das Américas em 1988 (Havana, Cuba) e, em 2003, recebeu a condecoração “A Pena de Ouro” da União Nacional de Jornalistas, além da condecoração ao Mérito Cultural de Primeira Classe do Ministério da Educação e Cultura em 2007.


S.O.S.

Aqui no Equador,
ferida da terra,
osso pelado
pelo vento e pelos cães.
Aqui, sangue sendo sugado na areia,
pedras desabando sobre nós.
Aqui,
montanhas com seus ventres saqueados,
mar
com seus peixes alheios.
Aqui,
fome,
índios sendo chutados como bestas,
desertos bravos,
pele exposta às intempéries.
Aqui,
nossa própria terra
não nos pertence;
nada é nosso,
nossa própria água
vendem em garrafas,
o pão custa um olho da cara
e até para morrer
temos que pagar impostos.
No ar,
em meio ao sono,
no bocado interrompido
do almoço,
estão cavando buracos
para que caiamos.
Aqui,
em breve um fuzil
para espantar os corvos.


A VIVA FORÇA

Você vai cantar,
me mandaram cantar,
colocaram meu rosto na parede,
vendaram meus olhos,
amarraram minhas mãos,
martelaram-me
e eu com a boca fechada;
se não cantar, se ferrou,
se não cantar,
vamos te matar
e eu com a boca fechada;
se não cantar,
não viverá para contar a história,
se não cantar, morre
e eu com a boca fechada;
então, chutaram meu rosto
com todo o amor,
bateram-me nas costas com paus,
penduraram-me pelos polegares na noite
e quebraram minhas costelas de voz.
Minha viúva solidão queria chorar
e se engasgava;
depois, introduziram em mim
brocas,
chaves mestras, gazuas
saca-rolhas,
até que vomitei
as maçãs podres da lembrança,
caminhos onde arrastei-me,
camas onde dormi,
vagalumes com as tripas para fora,
tocos de colibri,
violinos esfolados como porcos,
nomes,
receitas médicas,
relógios descontrolados;
nem mais nem menos,
assim foram me tirando
palavra por palavra,
assim foi saindo este poema.


ISSO É O TEMPO

Nem a Grande Muralha da China
nem o arame farpado
nem as coleiras dos cães policiais
ou cães policiais
que guardam as nádegas sociais e cristãs
do presidente hot-dog,
nada é capaz
que eu saiba,
ninguém pode te deter.
Nem as minidesvalorizações,
nem a fome máxima,
nem todos os bocejos juntos da burocracia,
nem a inflação,
nem a desinflação,
nem a dívida externa:
morte estrangeira
que eles colocaram nas nossas costas;
nem o patriotismo comprado
das forças desarmadas da pátria,
nem as redes de medo com que, em águas agitadas,
as religiões pescam;
com você não se pode:
a todos e a tudo
você nos passa por cima; você mata tudo;
você pulveriza tudo,
esquece tudo;
você nos transforma em linguiças
para as aves de rapina;
tudo não passa
de uma palavra decrépita
escrita na areia movediça do cérebro;
isso é o tempo
e não bobagens de relógios.

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