3 Poemas de Julieta Dobles Yzaguirre (Costa Rica, 1943)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Julieta Dobles Yzaguirre (San José, Costa Rica, 1943). É professora e membro da Academia Costarriquenha de Línguas, possui mestrado em Filologia Hispânica, com especialização em Literatura Hispano-Americana, pela Universidade Estadual de Nova York, Stony Brook Campus (1986). Estudou Filologia e Linguística na Universidade da Costa Rica (1969-1971). É também professora de Ciências Biológicas, nessa mesma universidade (1965). Leciona Literatura na Escola de Estudos Gerais da Universidade da Costa Rica e ministra oficinas literárias. É membro da Associação Casa da Poesia. Foi uma das coordenadoras da Oficina Literária do Círculo de Poetas Costarriquenhos entre 1967-1978. Em 1977, ela assinou o Manifiesto trascendentalista, ao lado de Laureano Albán, Carlos Francisco Monge e Ronald Bonilla. Atualmente pertence ao grupo POIESIS, sendo vice-presidente da Associação Costarriquenha de Mulheres Escritoras. Publicou 15 livros de poesia, entre eles: Reloj de siempre (1965); El peso vivo (1968); Los pasos terrestres (1976); Hora de lejanías (1979-1981); Los delitos de Pandora (1987); Una viajera demasiado azul (1990), Costa Rica poema a poema (1997); Poemas para arrepentidos (2003), Amar en Jerusalem; Hojas Furtivas (2005). Foi incluída em diversas antologias de poesia centro-americana e costarriquenha, incluindo a Antología Crítica de la Poesía de Costa Rica, de Carlos Francisco Monge, 1992. Recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos por seu trabalho: Prêmio Nacional Aquileo J. Echeverría de Poesia, pelo livro El peso vivo (San José, 1968); Prêmio Editorial Costa Rica pelo livro Los Pasos Terrestres (San José, 1976), livro que também ganhou o Prêmio Nacional de Poesia Aquileo J. Echeverría, em 1977 – este mesmo prêmio foi dado a outros livros de Julieta Dobles, incluindo Poemas para arrepentidos, em 2003.


SILOGISMOS DA AUSÊNCIA

Se o teu silêncio me morde a alegria,
Escrevo.

Se não há música que preencha tuas ausências,
Escrevo.

Se eu anseio pela queimadura de tuas mãos
em minhas praias úmidas,
Escrevo.

Se quando digo teu nome me percorre as costas
uma fileira de beijos emigrantes,
Escrevo.

Se em teus lábios apagados adivinho
a única fonte que me mata de sede,
Escrevo.

Se o vazio da tua voz transforma meus silêncios
em tambores ausentes e enervantes,
Escrevo.

Se toda a minha pele grita de solidão e medo
para afastar a solidão invasora,
Escrevo.

Quanta poesia entretecem
tua ausência e minha dor!


ANIMAL QUE INTERROGA A SI MESMO

Somos um bambu, a coisa
mais frágil da natureza,
porém um bambu pensante.
Blaise Pascal

A morte nos precipita
na experiência da despedida
do nosso primeiro duelo.
E seu horror nos desfaz
da plenitude inocente
da infância.

É assim que inventamos deuses e demônios,
mitos e religiões
e o acúmulo de miragens
que visam aliviar
medos e vazio.

Um animal que foge da paz inocente
e olha para si mesmo, sua morte, seu fim.
Um ser vivo que pode adivinhar a sua ausência,
projetar seu vazio
neste reino
de verde e azul intermináveis.

Poderia ser diferente
e alcançar uma paz que agora está escapando
por entre os dedos rápidos do futuro?
Que mistério está escondido
sob o véu cabisbaixo
da nossa essência?

Animal que discorre e pode ser visto
em seu espelho negado.
E criar beleza, eros, melancolia,
ciência, poemas, artes, compaixão,
música transcendente.

Ninguém retorna invencível do túmulo.
Nós somos o nosso destino,
e ele nos levará, mais cedo ou mais tarde,
ao nada terrenal e compassivo,
ou ao oceano cheio de perguntas
que o universo cria.


TEMPOS DE PANDEMIA

Quem não faz mais, faz menos.
Tânia Cascante Espinoza

Estar consigo mesmo!
Uma experiência antiga
Que raramente desfrutas.

Hoje, graças a uma pandemia
Dolorosa e assustadora,
Te olhas no espelho e falas sem pressa,
Expressando desejos, frustrações,
E aquele pesadelo de medos ocultos
Enfrentando a solidão
E a ambígua cortina da morte.

E tuas preocupações desfilam diante do espelho:
A vida de teus entes queridos,
Próximos ou imensamente distantes.
Tuas metas, tantas vezes adiadas,
Talentos e alegrias
Que agora podes manejar com o tempo
E congelar em belas realidades.
Aproveite a abertura do dia, da semana,
Tapetes infinitos para a ansiedade.
Nada como ser grato e explorar os cantos
Daquele refúgio que chamamos de lar
E que agora parecem
Como novos em curiosidade e inventividade.
Porque estes tempos, aparentemente estéreis,
São dádivas da vida para realizar sonhos.
E criar, emulando o divino,
Canções ou pratos, poemas ou histórias,
Desenhos ou leituras, concertos ou jardins.

Chegará a hora de abraçar
E inundar aqueles que amamos com ternura.
Essa ternura que nos torna humanos,
Frágeis e lúdicos
Em nosso eterno desejo de carícias.

Agora imagine, invente, glorifique.
E como o velho relojoeiro divino,
Trabalhe para ti e para o mundo.

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