3 Poemas de Madeline Millan (Porto Rico, 1959)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Madeline Millan (Porto Rico, 1959). Poeta, narradora e tradutora. Leciona no Departamento de Línguas e Literaturas Modernas do Fashion Institute of Technology/SUNY. Publicou os seguintes livros: Para no morir por segunda vez (2002), De toros y estrellas (2004), 365 esquinas (2009), Leche/Milk (Prêmio Nacional de Poesia, PEN Internacional de Porto Rico, 2009), Día Cero (2010), y Contracantos: Del aire a la rosa (diálogo com 22 pinturas inspiradas no Canto V, Divina Comédia de Dante, menção ao PR International PEN). Que el mar no me falte é sua antologia poética pessoal (Editorial Isla Negra, Porto Rico-República Dominicana, 2019). Seus poemas foram traduzidos para o inglês, francês, árabe, português e italiano. Durante uma década dirigiu as leituras de poesia bilíngues realizadas no lendário e agora extinto Cornelia Street Café. A partir deste período, edita e publica uma antologia internacional bilíngue intitulada Cornelia Nights/Noches de Cornelia (2008). Em relação à sua tese de doutorado em cinema e literatura, criou a primeira revista latino-americana de cinema eletrônico. Durante seu ano sabático (2015) escreveu um roteiro intitulado Alwalida, dirigido pelo diretor catalão Manuel Polls: https://vimeo.com/221172365 (Código: Madeline). Em 2017 foi bolsista da Fundação Valparaíso, em Mojácar/Espanha, para iniciar os desenhos de uma narrativa poética para crianças, Secreto escondido en un caracol. Atualmente dirige com Pilar Blanco, a “Casa Pilar”, uma residência para artistas e escritores em Chapala, México.


FRANKENSTEIN

Como se a pele pudesse antecipar a ferida
O sem nome com sobrenome veste cicatrizes
Ao nascer amou seus vizinhos, aprendeu uma língua
Com ouvido oculto escutou o alfabeto detrás da parede
Engatinhou, sonhou com pais alheios, lhe enterneciam:
Avô, neta, esposo, o gato no horizonte
Até o rato troféu deixado à beira da porta
O passarinho amarelo cantando ou desplumado
O vão e a vaca ali perto, as abelhas com seu mel

E tudo o demais, amigos, venham, eu nasci
Como se o nascer apagasse de um golpe a memória

Uma leve cortina lhe resguardou brevemente
O assassino em série sem pai ou mãe não chora
Apenas grita: Não fujam amigo que não forem meus
Avozinho, maninho de Victor, filhos do vento
Cidade inteira, nações, continentes, galáxias
Não me abandonem, não me deixem tão só

O malnascido desconhecia o espelho da água
A sorte de um Narciso encontrando seu rosto
A cicatriz inteira tinha visto na cova
O fogo e sua longa sombra estropiada de monstro
Deveria ter posto maquiagem na grande pena
Vestir a fratura de dentro para fora

Para sair à rua urge remendar o gatafunho
A primeira impressão é a que conta
Todos sabemos, porém a ele ninguém disse


FILHO!

Disse erguendo as mãos como faria uma mãe
mexicana, italiana, grega, caribenha, muçulmana
Erguendo as mãos para pousá-las no rosto do favorito

De imediato, olhando a cena, soube de tudo
Assim é o grande amor, o que nunca morre,
Ao qual não renunciamos sequer no leito de morte

Minha mãe se despedia de seu homem


INSTRUÇÕES PARA VIVER NO MAR

1. Contra-correntes

A onda rompe onde
encontra um
obstáculo
Quando a onda
se ergue sobe em seu lombo
cavalga
a espuma sem
jóquei
Entra nela

Não busques a água
tranquila
Sai dali para longe
Nela não encontrarás pedra
Ou dunas de areia
Apenas água e mais água

2. Contra o ataque do tubarão

Não te faças de morto
Antes de que abra a boca
seus dentes afiados surgem
Olha diretamente em seus olhos
Surpreende-o com um golpe duro
no nariz, essa zona de proa
curvada até os lábios
ele quer apenas te beijar
se acaso puser rosto de bravo
sejas pior, assusta-o no grito
quem grita mais alto viverá
tenta apenas não tragar muita água

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