3 Poemas de María Macaya Martén (San José, Costa Rica, 1991)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Seu primeiro livro de poesia, Viento immóvil, recebeu uma Menção Especial do Júri no Concurso de Poesia 2019 da Editora da Universidade da Costa Rica e foi publicado no final de 2020. Publicou online em diferentes revistas literárias e participou em vários festivais internacionais, tanto virtuais como presenciais. Entre eles o V Festival de los Confines em Honduras, em 2021. É mestre em Literatura Comparada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Especializou-se em poesia, simbolismo francês e modernismo hispano-americano. É bacharel em Literatura Comparada pelo Middlebury College, em Vermont, Estados Unidos. Foi aluna visitante na Universidade da Costa Rica e na Universidade Sorbonne Nouvelle, em Paris.


A PÉROLA

Guardo-te como a uma pérola
a dor mais valiosa que tenho em meu corpo.
Porque se eu não chorar essas lágrimas pedaços de chumbo
pode ser que nada disso tenha acontecido.

O dia em que te vi pela última vez entre doente multidão
em uma maca no corredor de um hospital público,
foi um sonho, foi um sonho, foi um sonho.

Você ainda está no seu apartamento
na poltrona da sala olhando a cidade
pela janela fechada.

Cuido de você como um impuro tesouro
guardado por camadas e camadas de madrepérola,
risadas exaladas despreocupadamente
como se você ainda estivesse no mundo comigo,
não tivesse que me preocupar
e processar sua morte.

Você é uma semente presa no fundo de um dente.
Nunca amadurecerá em palavras soltas ou verdades absolutas.

Seu nome é um avião que cai do céu,
como eu poderia permitir isso, meu Deus.

Incorrigível em raiva privada me frustro
porque eu tinha você e de repente não tenho mais.
Você me incomoda diariamente e eu te amo,
mas não posso te alcançar quando quero.

Me sinto idiota
quando te perco em algum canto
dos meus múltiplos aquedutos.

Se meu rosto incha, estou infectada
porque você trabalha do seu esconderijo
corroendo-me tão devagar, tão devagar,
que não te percebo pequeno maligno.

Tenho sido ingênua por meses
caminhando pelo mundo deteriorada,
comendo de tudo, gulosa,
e permanecendo vazia.


CHUVISCA

O silêncio caminha nu pelo quarto.
Tento escrever, mas penso em você.

De um aglomerado de desejos
o poema vai se formando.
Suas rosas cabisbaixas
não se movem,
a água está turva.

Os livros de poesia
abertos no sofá
querem te olhar nos olhos.

Há muitas cadeiras vazias
mas hoje não me importa
a desordem das coisas.

O transe da geladeira
começa a soar como a sua voz.
As janelas permanecem fechadas,
aqui não cabe o vento.

Sinto-te crepitar na íris
enquanto percorre as vértebras.
Seus dedos roçam meus lábios
sua respiração pausa no pescoço.

Minhas pernas se abrem
com o intento de encurtar
a distância.

Ofereço a língua e seu pistilo te chama.

Meus seios buscam suas mãos,
replicam sua textura
em seu relevo de ameixas.

As flores pulsam
estamos te esperando.

Até tocar o telefone
e a tarde ser interrompida.


ENUNCIAÇÃO

A Ricardo

Um nome ensaia tomar forma,
mas é éter, evapora.

Seus rumores não são encontrados
e não conseguem se emplumar.

Aqui, no campo do mundano,
creio escutar sussurros e súplicas.

As invoco
Me respondem!

São frenesi de vaga-lumes
lambendo meus tímpanos.
Só eu percebo sua sinfonia
caoticamente bela.

Vislumbro a fragrância do desejo,
o paraíso vira plástico
sob as minhas unhas
toco, rasgo e perco!

Persisto enlouquecida.
Após várias tentativas
com olhos celestes e nublados
seguro todas as suas anotações.

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