3 Poemas de Olga Gutiérrez Galindo (México, 1951)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Olga Gutierrez Galindo (México, 1951). Poeta. Físico-Matemática (ITESM, Campus Monterrey). Tradutora. Editora da antologia bilíngue de San Diego Poetry Annual. Faz parte da Sociedad de Haiku de San Diego. Sua obra foi assinada sob o pseudônimo: enriKetta luissi. Publicações recentes: Emily (Editorial CETYS Universidad, edição bilíngue, 2019), Dark Matter (Editorial Universidad de Guanajuato, 2019) e Visitaciones (Cinosargo y Ministerio de las Culturas, las Artes y el Patrimonio, Chile, y Los pájaros, dibujos, libros,et al, Guanajuato, 2021).

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Dark Matter é um notável conjunto de textos por várias razões. A imaginação desdobrada a partir do vocabulário matemático, especificamente, e científico em geral, coloca-o numa área completamente fora do lirismo banal e costumeiro. Lúdico, estranho, sinistramente familiar, a linguagem de Dark Matter faz dele um livro, a meu ver, cuja publicação e divulgação se tornam necessárias, imperativas.

Ángel Ortuño

Três eixos norteadores sustentam a poética de Olga Gutiérrez Galindo desde sua origem: religião, matemática e sexualidade. Como Olga canta para Emily Dickinson? Ou como Emily observa de longe, sem medo, ri e depois dita?

Amaranta Caballero Prado

Sensibilidade, generosidade e inteligência dão o tom na estrutura destas Visitações, são fatores comuns na fórmula, na combinação, no segredo aberto que tem sido a sua poesia.

Amaranta Caballero Prado


CREDO

creio na comunhão do Espírito Santo e no bóson de Higgs
creio no hiperespaço e na purificação das rugas
creio na rinoplastia da via láctea
creio na imaculada concepção do lagarto rabo de chicote
creio na solidão dos números irracionais

creio no priapismo dos pterodátilos quando me beijas
creio na matriz transposta em olhos de teia de aranha e boca santa
creio na lipoaspiração do Novo Testamento
creio na juventude da máquina de Turing
creio no Mycobacterium tuberculosis

creio em sexo sem sexo e sem látex

creio em monges que fazem do hábito um hábito
creio no perfume dos polinômios com raízes complexas
creio no sêmen do furacão

creio naquela noite naquele relâmpago naquele boquear
creio sem crer em mim (e tal maneira creio) que creio porque não creio*


N E X U S

no poliedro planeta existe uma raiz quântica totalitária.
uma tribulação. ahuehuetes transcrevem pergaminhos.
estrondo de férmions em número primo de genes
inquietam mitocôndrias. esta manhã: nó em dó.
sustentar o teorema é enrolar-se sob o clamor dos ossos.
é eletrocutar a aura e fixar o sarcófago-hermetismo
como postulado. espectros calcificam deuses. murmuram:
ambulância baldio ventiladores. Eu, temo e rezo.
eu googoledro na amnésia de Pi. eu: biodegradável
caminhante sobre pontos suspensivos consumo hipotermia
disfarçada de nixtamal. o cérebro, ponto sem ponto em
importuno ponto pontual, sofre o desmaio da luz.
o cérebro essa exalação de íons em elegias e aldravas.
o cérebro geometria imaginária. can it be trusted?
na asfixia cantemos ao ar egípcio de Maspero.
cantemos para dissertações sobre mezcales e hieróglifos.
cantemos para o conclave de quarks and sizzling brain waves.
hoje, rebuços revelam rosa mexicano sobre peônias e
malmequeres. sílabas salivam sicômoros. Liu Hui
desnuda fractais. o hipocampo tece telepatias telhados
teatros telescópios teia. esta manhã xis
eu (função morcego em rompope) me dissolvo na
música Ustvolskaya. mastigo a teologia das vacas.
perpendicular à arquitetura do benzeno contemplo
o púrpuro leite, os milhares de anos de ovários transformados em pó.


CÁLCULO

derivadas concha madrepérola prensam a tarde
derivadas em branco e preto pregam rio
Newton crucifica a Leibniz

a derivada de dois xises é etílica

a lua é uma fita de Möebius e
em seu leite convergem Spinoza e Francis Bacon

o Grande Olho topologia tudo

a derivada da imortalidade é um espermatozoide
em topologias úmidas e palavras cruzadas

a derivada de uma constante é um triângulo
(nó canceroso deriva tormenta obsidiana)

a derivada de um número irracional
é um sutiã com problemas
a derivada de um sutiã com problemas
é um número racional

                          aqui e em todo lugar

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