3 Poemas de Rubén Darío (Nicarágua, 1867-1916)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Tenho dito: Quando disse que minha poesia era minha em mim, sustentei a primeira condição de meu existir, sem pretensão nenhuma de causar sectarismo em mente ou vontade alheia, e em um intenso amor absoluto da Beleza. Tenho dito: Ser sincero é ser potente. A atividade humana não se exercita por meio da ciência e dos conhecimentos atuais, mas sim no vencimento do tempo e do espaço. Tenho dito: É a Arte o que vence o espaço e o tempo. Meditei ante o problema da existência e procurei ir à mais alta idealidade. Expressei o expressável de minha alma e quis penetrar na alma dos demais e fundir-me na vasta alma universal. Afastei, ainda assim, como quer Schopenhauer, minha individualidade da do resto do mundo, e vi com desinteresse o que ao meu eu parece estranho, para convencer-me de que nada é estranho ao meu eu. Cantei, em meus diferentes modos, o espetáculo multiforme da Natureza e seu imenso mistério. Celebrei o heroísmo, as épocas belas da História, os poetas, os sonhos, as esperanças. Impus ao instrumento lírico minha vontade do momento, sendo, por minha vez, órgão dos instantes, vário e variável, segundo a direção que imprime o inexplicável Destino.

[…]
A poesia existirá enquanto exista o problema da vida e da morte. O dom de arte é um dom superior que permite entrar no desconhecido de antes e no ignorado de depois, no ambiente do sonho ou da meditação. Há uma música ideal como há uma música verbal. Não há escolas; há poetas. O verdadeiro artista compreende todas as maneiras e encontra a beleza sob todas as formas. Toda a glória e toda a eternidade estão em nossa consciência.

RUBÉN DARÍO
Trecho do prólogo de El Canto Errante. Madrid. 1907.


ALMA MINHA

Alma minha, perdura em tua ideia divina;
tudo está sob o signo de um destino supremo;
segue em teu rumo, segue até o ocaso extremo
pelo caminho que até à Esfinge te encaminha.

Corta a flor ao passo, deixa o duro espinho;
no rio de ouro leva o compasso o remo;
sapuda o rude arado do rude Triptolemo,
e segue como um deus que seus sonhos destina…

E segue como um deus que a sorte estimula,
e enquanto a retórica do pássaro te adula
e os astros do céu te acompanham, e os

ramos da Esperança surgem primaveris,
atravessa impretérita pelo bosque de males
sem temer as serpentes, e segue, como um deus…


O FATAL

A René Pérez

Afortunada a árvore que é apenas sensitiva,
e mais a pedra dura porque essa já não sente,
pois dor maior não há que a dor de ser vivo,
nem pesadelo maior que a vida consciente.

Ser, e não saber nada, e ser sem rumo certo,
e o temor de haver sido e um futuro terror…
E o espanto seguro de amanhã estar morto,
e sofrer pela vida e pela sobra e por

tudo que não conhecemos e apenas suspeitamos,
e a carne que tenta com seus frescos racimos,
e a tumba que aguarda com seus fúnebres ramos,
e não saber aonde vamos,
nem de onde viemos!


A AMADO NERVO

A tartaruga de ouro caminha pela alfombra
e traça pela alfombra um misterioso estigma;
há sobre seu casco gravado um enigma
e um círculo enigmático se desenha em sua sombra.

Tais signos nos dizem ao Deus que não se designa
e põem em nós seu autoritário estigma:
esse círculo encerra a chave do enigma
que ao Minotauro mata e à Medusa assombra.

Ramo de sonhos, molho de ideias florescidas
em explosão de cantos e em floração de vidas,
seis meu peito suave, meu pensamento parco.

E quando tenham passado as sedas da festa,
dizei-me os sutis eflúvios da orquestra
e o que está suspenso entre o violino e o arco.

1 comentário em “3 Poemas de Rubén Darío (Nicarágua, 1867-1916)”

  1. Lástima que a poesia latinoamericana ainda não tenha sido erguida à altura que merece.Muchos poetas ficam esquecidos por el tiempo,hoje só consumimos autores pouco talentosos e fabricados pela mídia,pouca novidade no horizonte….

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