Curadoria e tradução de Floriano Martins
Estudos de literatura nas Universidades do Valle, Toulouse e Bordeaux. Pesquisador e acadêmico. Jornalista. Editor. Tradutor. Diretor de Programas Acadêmicos, Decano da Faculdade de Letras, Decano de Cultura, Diretor da Escola de Estudos Literários e Secretário Geral da Universidade del Valle. Professor da mesma. Codiretor do Festival Internacional de Cali e do jornal El Pueblo da mesma cidade. Intervenções/convites em universidades em França, Cuba, Itália, EUA, Espanha, Canadá, Equador, Polônia e República Tcheca. Publicações, entre outras: Diario para Beatriz, La oreja erótica de Van Gogh, Tercer laberinto –cartografías poéticas, Liberaciones, Sol partido en la naranja, Tiresias y su cayado y otros poemas, Rotaciones, Amares, Percusiones (Premio Internacional de literatura ‘Gustavo Adolfo Bécquer’). Ensayos de teoría literaria, El reino de los orígenes, Cartografías culturales (ensayos). Estanislao Zawadzki, Auguste Rodin, pensar con las manos (biografías). Dados circulares, cuentos polifónicos (en colaboración), Un año después (en colaboración), Bocas de agua y fuego (en colaboración), Cartagena de Indias: Territorio Literario (en colaboración), Una tarde impura de verano (narraciones). La abuela perdió un recuerdo, Rafico y su potrillo de mar y La línea soñada del horizonte (relatos para jóvenes). Diretor, editor das revistas: Poligramas, Caliartes, Plumadas, Ecos. Júri em concursos literários a nível nacional e internacional. Suas obras foram traduzidas para o inglês, italiano, francês, hebraico, português, polonês e lituano. Prêmios em Cuba, Espanha e Colômbia. Atualmente, presidente do PEN Colômbia de escritores.
CARNE DA LINGUAGEM
Não há maior luxúria do que pensar.
Szymborska
É voluptuoso pensar com as mãos,
imaginando alfabetos como corpos,
peles macias tremendo de alegria.
As palavras se excitam quando desenhadas
no papel, respiração pura
de olhares musicais, deliciosos.
Corpo de melodias fraseadas,
vogais untuosas, água doce,
para leitores sensuais, apaixonados.
Mãos quentes acariciam silabários.
Mãos de água queimada, esculpidas
de rostos e lábios cortantes.
Pensamentos respiráveis e lentos
abissais, nomeando o Ser e o Nada.
Divindades transparentes roçando peles.
E Dioniso é vinagres apurados,
cítara, dança, identidade coletiva.
Deliquescência da carne da linguagem.
SOBRANCELHA QUESTIONADORA
Perdi alguns deuses no caminho do sul até o norte,
e também muitos no caminho de leste a oeste.
Szymborska
Eu perco o caminho entre verdes e laranjas,
poeira e memória. Eu sou imprudente.
Me esqueço. E meus olhos invocam palavras
e direções. Meus ouvidos traem a si mesmos
em paisagens arborizadas, folhas ou rios águas acima.
Quem escuta entre imagens ou vozes?
Quem se encontra sob chuvas torrenciais?
Esta passagem circular de perdas e descobertas,
para onde isso leva? De sombras, portas fechadas.
De luzes, colunas de ar, intransponíveis.
Eu me reviso, retomo leituras e signos
sem virar as páginas. Eu me aliso. E me encrespo.
Ali a minha pele é uma estação de furor e mistério.
Direta e indireta. Casca fina,
molhada de desejos. (In) diferente em esferas
religiosas e políticas.
Corpo de sentidos tropicais, desordem nas geometrias
e conjuntos matemáticos. Aberto ao gozo
ilimitado; fechado à passagem do tempo. Simples
enigma metafísico, como uma sobrancelha questionadora.
CANÇÃO PARA A CIDADE NOTURNA E SALSEIRA
Percussões ásperas e vermelhas são liberadas
e reflexos maduros de saxofone e trompetes
(a noite elevada está manchada de sombras,
fintas de corpos, desejos e olhares aleatórios;
acende-se com luzes vivas e mortas,
e arcos de prazeres delirantes e Dionísio):
ritmos dois por três, passos mágicos
sustentados no ar de melodias alquímicas
e afiadas: vozes que contam histórias fugazes
de conquistas e perdas libertadoras.
Quadris mulatos aceleram círculos e esferas,
giros em abismo, bocas mordendo álgebras
e ladainhas de prazer. Sons enlouquecedores
mas civilizadores: meu reino por uma melodia
do presente amplo, universal,
afirmação da existência: todo ouvidos!
Metafísica da salsa em sorridente Olimpo,
Zeus e Vênus sedentos de prazer e poder
(Pedro Navajas dançando com sapatos azuis).
PÁGINA SONORA
Eu vou jogando sem medo
nas brasas do peito
um silêncio e outro silêncio e outro silêncio.
Antonio Colinas
E o peito afunda sua respiração
lembrando periferias e interiores tagarelas:
ar circular e sinais de fogo,
incêndio de símbolos e descidas.
A memória trêmula lança o passado
na página em branco desenhada de silêncios.
A memória inconsútil soma sentenças
ao presente ferido de nomes e cansaços.
A memória fiel atravessa pontes de água
e avisos em fontes quiméricas de Amor.
E o peito duro golpeia metáforas