4 Poemas de  Otto-Raúl González (Guatemala, 1921-2007)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Otto-Raúl González nasceu na Cidade de Guatemala em 1921 e faleceu em 2007 na Cidade do México, onde viveu exilado desde 1954. Junto com o poeta Raúl Leiva fundou a revista Acento. Sua extensa obra poética: Voz y voto del geranio (1943), A fuego lento (1946), Sombras era (1948), Viento claro: poemas de un viaje al amanecer del mundo (1953), El bosque; canciones de los bosques de Guatemala (1955), Hombre en la luna (1960), Para quienes gusten oír caer la lluvia en el tejado (1962), Cuchillo de caza (1965), Diez colores nuevos (1967), Oratorio del maíz (1970), La siesta del gorila y otros poemas (1972), Poesía fundamental, 1943-1967 (1973), Cementerio clandestino (1975), Tun y chirimía (1978), El hombre de las lámparas celestes (1980), Palindromagia (1983), Sonetos mexicas (1987), El templo de los jaguares (1990), El conejo de las orejas en reposo (1990), Diamante negro: poesía, erótica (1990) Luna mutilada  (1991), Versos droláticos (1993), Concentración de luciérnagas (1996), Concierto para metralleta: cantigas para el Ché Guevara (1997), Versos del tapanco (1999), Los hermosos animales (1999), Huitzil uan tuxtli = Colibrí y conejo: medio siglo de poesía (1998), Oír con los ojos (2001). Também publicou livros de contos: De brujos y Chamanes (1980), El mercader de torturas (1986), Gente educada (1997) y Sea breve (1999), assim como os romances: Diario de Leona Vicario (1982), El magnicida (1987), El divino rostro (1998), Kaibil (1998), e um destacado livro de ensaios: Miguel Ángel Asturias el gran Lengua (1999). Ganhou o Prêmio de Poesia Jaime Sabines (Chiapas 1990) e o Prêmio Nacional de Literatura “Miguel Ángel Asturias” (1990).


OS PEDREIROS CANTAM

Os pedreiros cantam nos andaimes
de cimento,
ferro,
cal;
seus assistentes assobiam.

Os pedreiros suam muito,
camisas ficam sujas
e trabalham com sapatos puídos.
Mas no domingo eles usam camisas brancas
e os sapatos novos, que rangem um pouco,
e eles abordam suas namoradas religiosamente
como alguém se aproximando de uma toalha de mesa ou olhando um adesivo.

Os pedreiros trabalham cantando
uma música, qualquer música,
e do andaime
eles se parecem um pouco com anjos
com suas asas de cal e entre nuvens de areia.

Eles guardam dentro de seus corações
pequenas ilusões como frutas maduras
assim como as avós entre roupas brancas
os marmelos perfumados.

Os pedreiros cantam,
seus assistentes assobiam.

Às vezes, no alto do andaime,
eles entram em colapso.


EU AMEI SEU CORPO…

Eu amei seu corpo e sua alma.

Sua pele era um terreno sólido para mim;
eu a sonhei como um sexto continente
ainda não registrado em mapas.

Sonhei com a baía de sua boca.

Seu cabelo era uma floresta virgem
que abriu seu mistério sombrio e mineral.
Sonhei com as cidades dos seus seios.

Os rios de veias que emergem na sua pele
eles eram rotas abertas
para navegação e diversão.

Era possível viajar em seu olhar.

Nas planícies brancas de suas mãos
eu cultivei milho e bons relacionamentos.

Depois não pude ficar senão em sua proximidade.


OUÇO O RUMOR DOS CIPRESTES NAS NOITES DE LUA

e penso nas mil e uma luas adoráveis
que todos nós tivemos em algum momento de nossas vidas,
distingo as vozes calmas da melancolia
e os murmúrios com que a nostalgia me assombra.
Vozes palpáveis, vozes inefáveis, vozes adoráveis
da saudade do que foi ou não foi e continua sendo;
os murmúrios que em meu ouvido suspiram experiências exaustivas
vasos onde conservo risos e sorrisos, ternura e gestos.
Ouço a luta do vento com a velha casca
das árvores onde gravei os nomes das minhas amigas
ligados ao meu no meio de corações ardentes,
tentativa vã de ciclones que acabam por desenraizar
aqueles troncos esguios e altivos da minha adolescência.
Ouço o som das ondas de praias distantes
e na minha mente aparecem mãos que junto com as minhas
Eles tentam pegar o crepúsculo para untar com seus óleos
a pele dos nossos corpos ofegantes e lascivos.
Ciprestes e murmúrios, latidos e crepúsculo
(não é à toa) mas eles sempre fazem recados para mim.


AS FILEIRAS RADIANTES

E pensar que todos os dias os homens recebem
os dons maravilhosos, os presentes mais suntuosos,
que nos são enviados, sem cartões nem rubricas,
pela realidade simples e óbvia de estar vivo.

Abrir os olhos e ver a luz do dia
é uma das muitas doações
que a vida concede sem que tenhamos pedido.
Assim como o pão nas entranhas,
a carícia da água, o benefício do fogo,
a conjunção dos sexos, música, livros,
as flores perfumando, as crianças desabrochando,
o trabalho que não é um pesadelo,
reuniões de família, retratos, amigos…

Porém há bombas atômicas e sapatos apertados
e os que querem reduzir a terra a ruínas fumegantes…
Amigos, devemos tomar partido e eu me inscrevo
com armas de luz nas fileiras radiantes
dos partidários da vida…
O que importa é abrir os olhos para o futuro,
como fez o primeiro homem que saiu da caverna,
e saborear a imensa fortuna de estar vivo.

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