8 Poemas de Humberto Ak’abal (Guatemala, 1952-2019)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Humberto Akábal nasceu em Totonicapán em 1952 e faleceu na Cidade de Guatemala em 2019. Obra poética: El animalero (1990), Guardián de la caída de agua (1993), Hojas del árbol pajarero (1995), Lluvia de luna en la cipresalada (1996), Hojas, solo hojas (1996), Retoño salvaje (1997), Desnuda como la primera vez (2000), Tejedor de palabras = Ajkem tzij (1998), Saq’irisanik: cielo amarillo (2000), Arder sobre la hoja (2000), Con los ojos después del mar (2000), Gaviota y sueño (2000), Todo tiene habla (2000), Ovillo de seda (2000), Aqajtzij = Palabramiel (2001), Jaguar dormido = Warinaq’ b’alam (2001), Picoteando = Tzopotza’ (2001), Corazón de toro (2002). Suas obras foram traduzidas para francês, inglês, alemão e italiano. Sua coleção de poemas Tejedor de palabras = Ajkem tzij foi publicada pela UNESCO em 1996. Seu livro Guardián de la caída de agua foi indicado como Livro do Ano em 1993 e recebeu o prêmio El Quetzal de Oro APG 1993 da Associação de Jornalistas da Guatemala. Em 1995 recebeu o diploma emeritissimum da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade de San Carlos da Guatemala. Recebeu o Prêmio Internacional de Poesia Blaise Cendrars de Neuchatel, Suíça. Entre outros, recebeu também o Prêmio Internacional de Poesia “Pier Paolo Pasolini” na Itália.


O TELHADO DE DUAS ÁGUAS

O raio atingiu
o telhado de duas águas
e o partiu em dois.
A cada começo de inverno
caem raios:
derrubam árvores,
matam animais, pessoas,
ou abrem buracos no chão.
Desta vez derrubou uma casa.


A CHUVA

Ontem encontrei uma nuvem chorando.
Ela me disse que havia trazido sua água
à cidade
e se perdeu.
Procurou paisagens
e a cidade as havia engolido.
Descalça, triste e sozinha
acabou regressando.
Voltou a chover no campo;
matagais e melros
fizeram festa.
e os sapos cantaram.


ROSEIRAL

O lamento
se rompeu entre os espinhos
Como chorava o roseiral!
Sua flor havia sido cortada,
e seu leite, gota a gota
foi regado durante a noite.
Suas pétalas acordaram mortas;
o galho amanheceu chorando.
A rosa era branca.


FALO

Falo
para calar
a boca
do silêncio.


AQUELA VEZ

Não esqueço seu cheiro.
Seus favoritos
eram dois pêssegos.
No barranco
tomamos água
no mero nascimento,
em sua borbulha.
– Ainda recordo o sabor.
Eu encontrei o paraíso;
ela o perdeu.


FLOR DA MONTANHA

Eu mordo um pêssego,
jorra seu suco
em minha boca,
rega
a minha língua.
Fecho os olhos
e penso
em uma pequena flor
da montanha


HOJE

Hoje acordei fora de mim
e saí para me procurar.
Percorri estradas e caminhos
até que me encontrei
sentado em uma borda de musgo
ao pé de um cipreste,
conversando com a neblina
e tentando esquecer
o que não posso.
Aos meus pés,
folhas, apenas folhas.


CAMINHO AO CONTRÁRIO

De vez em quando
caminho ao contrário:
é a minha maneira de lembrar.
Se eu andasse apenas para frente,
acaso poderia te contar
Como é o esquecimento?

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