5  Poemas de Elsa Wiezell (Paraguai, 1926-2014)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Elsa Wiezell (Paraguai, 1926-2014). Poeta de ascendência sueca. Começou a escrever muito cedo. Formada em filosofia e psicologia, foi professora desta última matéria na Universidade de Columbia. Sempre empenhada na difusão das artes e da cultura de seu país, isto a levaria a fundar instituições como o Museu de Arte Moderna, a revista The Feminist (da qual foi editora-chefe) e a Belle Arts School, atuando como diretora de 1965 a 1977. Ao longo da sua carreira, Elsa Wiezell foi aclamada e premiada internacionalmente, sendo considerada por muitos críticos e acadêmicos como uma das poetas de língua espanhola mais importantes e influentes de seu tempo. Sua obra foi merecedora de estudos assinados por Charles Richard Carlisle, Carlos Sabat Ercasty Carlos Sabat Ercasty e Norma Suiffet. A seu respeito escreveu Luz Zaldívar: Hay mucho de hermetismo en la poesía de Elsa Wiezell, profusión de símbolos, imágenes inconexas, originalidad de las metáforas, yuxtaposición de ideas, audacia, e imaginación creadora componen el fascinante mundo de poético de la escritora. Finalmente, creo que la frase de Moncho Azuaga es la más propicia y adecuada para los poemas de esta gran creadora que recientemente nos ha dejado: “Alabada sea la poesía, amparo y reparo del infinito silencio de Dios”.


TANTAS COISAS

O olhar entre relâmpagos
a luz do trovão
e o vento dançando sem deixar vestígios.
Ouvia-se a respiração de ambos.
As mãos iluminadas pelo céu.
No silêncio
com impulsos incríveis
falamos tantas coisas
o tempo das crianças
o próximo inverno
a poça entre as pedras.
No redemoinho
detemos a marcha
olhamos a paisagem
e a água
que abraçava as verdes algas.
Nossos passos
juntos como duas pálpebras
caminhavam
rumo à eternidade.


EU TENHO

nos quatro lados
sacrifício
e na infância
uma boneca ferida.
Eles me empurraram
os sonhos
em setembro
e de repente,
com urgência,
conheci o homem.
Quis salvar o cento
timidamente
e na presença do outono
construí minha casa
com duas janelas
de tronco e orvalho.


LABAREDA

Constelações
memória inútil de ontem.
A hora prejudica a espera
o tédio relembra
um horizonte perdido.
O mar assedia o caminhante.
As mãos reconhecidas
dormem no último ocaso.
Fazem nos doer o hoje com o ontem
e saltamos no rio do futuro.
A tarde
começa a escalar paredes.
Predestinados
entramos na ausência definitiva.
O tempo
magnífico e distinto
se afasta dos caminhantes.


MÃOS PERSISTENTES

Litorais ferozes.
Minha pátria é um barranco
com um rio de vidro.

A história camponesa
com unhas sob terra
vai ficando no sulco
como uma confidência.

Calcinadas de sóis
suas feridas despertam
com sangue de facões.

Liberdade sombria com pulso justo
ergue mão e o osso
ao pão do dia.

Às vezes aguaceiros
tombam de cansaço.
Suas mãos quebradas
pertencem ao índio.
Sua guarânia é a terra.


QUANDO

Qualquer dia,
nunca
as mãos enlaçadas
com o frio.

Qualquer dia.
Não na montanha.

Perto do mar,
nunca!
Lenta asfixia.
Não na noite.
Cega o balanço das coisas
e as cores.

(Quando um beijo
queime sua garganta
e duas boas mãos
fechem a carícia.)

(Quando um desejo
selvagem de gratidão
para com os homens
emudeça a minha língua.)

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