5 poemas de Teófilo Cid (Chile, 1914-1964)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

La figura de Teófilo Cid (1914-1964), como suele ocurrir con la crítica que personaliza, confunde y antepone la biografía a la obra de un autor, ha sido preferentemente destacada por la leyenda del alcoholismo y la miseria. “Dandy de la miseria”, “Master de la noche”, “Amateur de la lepra” han sido algunos de los sobrenombres dados a este actor reconocido de la desaparecida bohemia santiaguina de la primera mitad del siglo XX. Perteneciente al grupo de escritores llamados de la generación de 1938, de intensa vida política y literaria, vivió una época “marcada por la crisis bursátil del ’29, las disputas político administrativas entre Arturo Alessandri Palma y Carlos Ibáñez del Campo, la Guerra Civil Española, el Frente Popular chileno, el comunismo de la URSS, el fascismo italiano, el nazismo de Hitler, la Segunda Guerra Mundial y un incipiente capitalismo moderno” (Mussy y Aránguiz, “Teófilo Cid, soy leyenda”). Época de profundos cambios que signa toda su obra de proclamas, consignas, problematizaciones y discusiones acerca de la realidad política de la nación y sobre el rol de la literatura en tiempos de crisis. El breve relato de Cid, El tiempo de la sospecha (1952), protagonizado por un adolescente que despunta a la vida en el contexto de la dictadura de Carlos Ibáñez del Campo, bien puede ser un ejemplo sintético de esto: los aires que remueven la conciencia del protagonista lo hacen despertar a la idea de una búsqueda de sentido político-estética, inquietud que resume las inquietudes de toda una generación convulsionada por los tiempos históricos. Santiago, el joven protagonista de este relato, ha sido expulsado del colegio por sus lecturas anarquistas. El incipiente conocimiento de la realidad social instala en él los conceptos de crisis, sospecha y libertad, tres principios que condensan los avatares de su generación y de la siguiente que termina por cuestionar la idea de una problemática modernización que instala desajustes e intersticios en la experiencia cotidiana de los sujetos.

[…]

Más allá de la filiación surrealista, la obra de Teófilo Cid importa un momento relevante para comprender la producción poética chilena de mediados de siglo, con posibilidades de lectura que aún no agotan la recepción crítica de un periodo que merece más de una revisión acuciosa y que no puede darse por anclado. La dimensión histórica y política presentes en estas obras de Cid permiten reflexionar no solo sobre temas identitarios y sobre el ejercicio de una memoria poética (Camino del Ñielol), sino que también sobre la pobreza y la desigualdad (Niños en el río) de nuestro país, instalándose en un horizonte profundo de actualidad que no deja de sorprender y que echa abajo el supuesto descompromiso de la inicial estética vanguardista del poeta mandragórico.

A figura de Teófilo Cid (1914-1964), como costuma acontecer com as críticas que personalizam, confundem e colocam a biografia à frente da obra de um autor, tem sido preferencialmente destacada pela lenda do alcoolismo e da miséria. “Dândi da miséria”, “Mestre da noite”, “Amador da lepra” foram algumas das alcunhas atribuídas a este conhecido ator da boémia desaparecida de Santiago da primeira metade do século XX. Pertencente ao grupo de escritores denominado geração de 1938, com intensa vida política e literária, viveu uma época “marcada pela crise da bolsa de ‘29, pelas disputas político-administrativas entre Arturo Alessandri Palma e Carlos Ibáñez del Campo, a Guerra Civil Espanhola, a Frente Popular Chilena, o Comunismo na URSS, o Fascismo italiano, o Nazismo de Hitler, a Segunda Guerra Mundial e um incipiente capitalismo moderno” (Mussy e Aránguiz, “Teófilo Cid, eu sou uma lenda”) – mudanças que marcam toda a sua obra de proclamações, slogans, problematizações e discussões sobre a realidade política da nação e sobre o papel da literatura em tempos de crise. O breve relato de Cid, O tempo da suspeição (1952), protagonizado por um adolescente que surge no contexto da ditadura de Carlos Ibáñez del Campo, pode muito bem ser um exemplo sintético disso: os ares que mexem com a consciência do protagonista o fazem despertar para a ideia de uma busca de sentido político-estético, preocupação que sintetiza as inquietações de toda uma geração convulsionada por tempos históricos.

[…]

Para além da filiação surrealista, a obra de Teófilo Cid representa um momento relevante para compreender a produção poética chilena de meados do século, com possibilidades de leitura que ainda não esgotaram a recepção crítica de um período que merece mais do que uma cuidadosa revisão e que não pode ser tomado como ancorado. A dimensão histórica e política presente nestas obras de Cid permite-nos refletir não só sobre questões identitárias e sobre o exercício de uma memória poética (Camino del Ñielol), mas também sobre a pobreza e a desigualdade (Crianças do rio) do nosso país, assentando-se num horizonte profundo da atualidade que não cessa de surpreender e que desfaz o suposto descompromisso da estética vanguardista inicial do poeta mandragórico.

Claudio Guerrero Valenzuela


MADRUGADORAS

Submersa no tempo
Em imagens
Em distintas direções
Em focos de alto mar
Em ódio ao domínio vesperal
Em ti mesma
Eu vivo através de tua candura
Como um sangue na veia
Um farol de equinócio
Ao final do sítio plano
Do hangar mais alto
Nestas cordilheiras
Onde a voz escuta sua própria sombra
O milano atrai seus filhotes
Neste adeus de ti
De ti a madrugadora
Perdida em um hemisfério de cristal
Em uma curva sem desenhos
À intempérie
Como uma cadela famosa
Lambida pelo éter.


A CONSCIÊNCIA RIGOROSA

Sofria nesta estrela
O coração lhe sobra para naufragar
Resta apenas seu punhal entre as folhas
Um punhal que cai em gotas
Com ritmos de girassol
As lâmpadas anunciam a inocência
O ódio ao achado
Nada mais que obscuridade para encontrar seu êxito
Suas mãos que trabalham com a chuva
Seu céu cúmplice do crime
Noiva que foi perdida ao agarrá-lo
Nada mais que uma palavra
Pôde salvar o monstro de nascer sorriso
Há somente uma crueldade
Queimar encantos fugir do beijo
As chamas então poderiam converter-se em beijo
Em anáguas abordáveis
Em cegonhas
Neste molde
Nascem as crianças para dar espanto
A mulher longe da aurora
A destingir os dentes
Seu chão que move o mar
Entre as mãos há sempre acaso
Um motivo para matar as donzelas
Uma crueldade que nasce para um alto mar
Um gozo que chega dos ossos
E nos torna impenetráveis
Isto
E mais tu que vives deserdando flores
Ganhando para si a vida em vez de dá-la
De fazer com que cresçam asas em lugar de cabelos
Um polo até os jogos
Até o prazer magnético inviolável


AS VISÕES DOS OLHOS

Suas artérias de móvel girassol
Pulsam um pedaço de sombra
Coxas como chagas de saúde
Seios abertos
Pálidas goteiras

Quando ela passa as fronteiras avançam
Contraem as omoplatas
Seus velozes paladares sentem
O vencimento
A molécula de carícia que nada no prazer
As frases os ecos perdidos

Ela custa um vencimento
Põe em toda sede uma cauda de deserto
Um despertar sombrio para o mensageiro da onda
Um sexo de ave interna para as fogueiras
Uma fruta de ameaça

As aves guardam ouro como ela
Passam com as asas carregadas
Entram e saem pelo mesmo pensamento
O mundo acaricia a si mesmo
Quando passa em cada sombra.


MANSÕES NOSTÁLGICAS

Protegida por uma velha guarda
de vermelhas linhas de pesca, verdes algas e besouros
que brilham sob o duro sol de inverno,
a pirâmide do lar.

Após o vapor que cresce desde o rio
e que treme nos pinheirais cinzentos
as janelas fazem significativos acenos com o olhar
como se a casa fosse ela um velho titubeante
sob o frio.

Eu a recordo como foi
nos dias iludidos,
quando uma fragrância de flores e sons
lhe concedia graciosa robustez
de herói maldito.

Quisera recordar seus nítidos perfis
o ancião, a cor de suas muralhas
e o zarcão do teto,
porém a visão se esfuma
em um esplendoroso ziguezague.

Pudera estar ali, golpeando suas persianas,
alegre de encontrar viçosos sofrimentos
respirando o perfume das velhas alcovas
onde brotaram lágrimas, ai, que se perderam.

Pudera estar ali, desterrado do mundo
do amor e do júbilo, desterrado da ordem.
Poderia novamente golpear a antiga porta,
pois sei que ainda existe a casa da lembrança
como o rumor do mar nos velhos caracóis.


COLLAGE

Os pássaros margeiam o ocaso
com sua sombra abrigam a paisagem.
Pássaros de leite,
pássaros de rentes dentadas
que saem da aurora como beijos esmagados pela noite.

Eles sabem que a sombra
os protege, os defende, os encerra
em um ovo de esmeralda.
Incansáveis esvoaçam
sobre a relva de virtude dos sorrisos
como júbilos filiais do tédio.

Pássaros de enigmas na pele
pássaros de lábios como olhos
que desnudam a sombra de seu tédio.

Os seres são mais lentos que o cabelo
se divertem se isolam em suas rochas
e há dedos que o amor ainda não teceu,
corpos que se agravam ao amar sua liberdade.

Mundo natal mundo de onde vêm
recantos infinitos a formar seu horizonte,
vestidos como naipes em um sonho
de amor e liberdade.

Todos os pássaros são sombras que voam
batimentos de um mesmo pulso
rugas de uma mesma ondulação.
Todos os pássaros são sempre as doze.

Suas asas espelhos destilam
e onde há uma imagem os corpos já não dormem
os pássaros-espelhos sorvem a sede dos corpos
a sede que é um céu avisado ao deserto.

Porém os homens
têm sede de pensar nas sombras
que voam.

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