2 Poemas de Marie-Marcelle Ferjuste (Haiti, 1961)

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Tradução de Floriano Martins

Marie-Marcelle Ferjuste nasceu em Les Cayes em 1961. Estudou Direito na Faculdade de Direito e Ciências Econômicas. Em 1977, quando publicou seu primeiro poema no jornal Le Nouvelliste (28 e 29 de maio), era evidente que tinha um vivo interesse pelas letras. A publicação de seus primeiros poemas Le premier jet (1978) e Jets de mots (1980) confirmaram essa promessa. Outras de suas obras são: Les ombres de la fascination (2008), Maîtresse d’elle-même (2013), respectivamente um livro de relatos e um romance.

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Tomemos como exemplo Marie-Marcelle Ferjuste, autora de Le premier jet (1978) e Jet de mots (1980), que não publicou mais, mas que foi considerada no início dos anos 1980 como uma dessas literaturas femininas. Com ela, a poesia comprometida, do lado feminino, atingiu um novo marco, o marco da boa esperança e do comunismo internacional. Marie-Marcelle Ferjuste, justamente chamada de “Depestre” dos anos 80, nos decepcionou. Seu silêncio e suas metamorfoses nos levaram a acreditar que a literatura não pode mudar o mundo, principalmente os homens. Mas desde o aparecimento, no Haiti, no Quebec ou na Europa, do nosso longo artigo sobre a poesia das mulheres haitianas, ela voltou a publicar o lote de manuscritos ou trabalhos escritos, perdidos em seu escritório. Suas últimas publicações de excelência, em colaboração com o estudioso Castel Germeil, comprovam ainda o grande talento da poetisa.

SAINT-JOHN KAUSS


PROPAGAÇÃO

Não digas o segredo
Nem mesmo sussurres
Que o vento favorável pode levá-lo a outro lugar!

O silêncio é sempre de ouro
E a palavra? Cada vez menos prata

Não contes o segredo dos deuses
Que apenas seus porta-vozes e seus magos inspirados
Têm o direito de veicular entre eles
Sem medo de retaliação escandalosa
Não profanes com a prosa de teus lábios
Do tabu imortal preservado por séculos
As inefáveis transcendência e grandeza

O silêncio é sempre de ouro
E a palavra? Cada vez menos prata

Acima de tudo, não ajas
Como os bobos dos funerais
Que atacam os desaparecidos
Por não terem deixado nenhuma herança
Para distribuir entre os ingratos
Em vez disso, imites os irmãos solidários que
Na adversidade e miséria
Têm apenas como cura e consolo
Para oferecer aos aflitos
Seu silêncio e sinceras condolências

O silêncio é sempre de ouro
E a palavra? Cada vez menos prata

Não digas o segredo
Acima de tudo, não o reveles
Aos fanfarrões incorrigíveis
Aos perturbadores fáceis de mensagens proibidas
O castigo por falar demais não é outro
Que a extração da língua
E a sua exposição ao sol
Sobre quatro estacas de pimenta
Pimenta, gengibre e sal

O silêncio é sempre de ouro
E a palavra? Cada vez menos prata

Não digas meu segredo
Sim! Eu virei
Como queres
Como eles afirmam
Como eles continuam a pedir
Um belo dia
Uma bela manhã de sal marinho
Desbotada contra os muros
Das belas pousadas aglutinadas
Ao longo de todo o litoral
Ao longo de toda praia inocente
Porém deverás calar a boca sobre este tema
Não deverás dizer uma palavra
A ninguém, sim!, a ninguém
Porque o silêncio é sempre de ouro
E a palavra cada vez menos prata


PERTENCIMENTO

Para Christian e Jean-Marc

Um dia eu gostaria de pertencer a ti
Como a mim pertences
Um dia eu gostaria de me ver
Sair da minha reserva
E me deitar em teus braços
Ou contra a tua nuca
E me deixar mimar
Como eu gostaria de te mimar
Deixar-me saciar
Como eu gostaria de te consentir
deixar-me embalar acariciar
Como eu teria gostado de te embalar acariciar

Estou delirando?
Sim! Eu me confundo e perco a memória
Passei a minha vida
Atuando vivendo lutando apenas para ti
Adquiri a experiência de
Reclamar o melhor para ti por todas as partes
De querer te colocar na melhor direção
De buscar maneira de te resguardar sempre
Contra tempestades e tumultos
Motins e sedições
Terremotos e furacões

Me pertences, meu filho!
Foste o presente do céu
E eu também quis
Pertencer a ti
Os desastres naturais não me teriam impedido
Os castigos do céu não me teriam proibido
As ameaças despóticas não me teriam dissuadido

Jurei pela decisão
De a cada instante te maravilhar
A cada segundo a cada despertar
E consegui! Estou então ainda mais orgulhosa
Agora poderei ir em paz
Não! Não! Se não me equivoco
Estes são os melhores benefícios
Precisamente! Um benefício não vem sozinho jamais
Eu me curei de meu mal
Que era considero incurável
De te suportar sempre te suportar
Depois irei me deitar em teus braços
Relaxar contra a tua nuca
Alegremente como sobre cavalos alados
A caminho da eternidade.

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