4 Poemas de Célie Diaquoi-Deslandes (Haiti, 1907-1989)

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Apresentação e tradução de Floriano Martins

A poeta haitiana Célie Diaquoi-Deslandes (1907-1989) é considerada uma das vozes mais expressivas de sua geração. No entanto, situada na sociedade de seu país de origem, com um emprego burocrático na administração pública, essa voz, em especial por alguns de seus temas marcantes – erotismo, paisagens locais, memórias de viagens e paixões – acabou sendo incompreendida. Com uma linguagem simples e direta, ela foi também de imensa importância em seu testemunho do ambiente social. Como recorda a crítica Ida Faubert, Célie Diaquoi-Deslandes revelava uma grande poesia, com intenso frescor, conferindo que seus poemas, impregnados de nostalgia pela pátria, são expressos na simplicidade.


LUTAR

A lua está se escondendo
O rosto coberto de cicatrizes
Atrás da palma irritada
Cavalos de nuvem
Fogem assustados
Sob o chicote da chuva


TEMPESTADE

A orquestra infernal da natureza
Começou esta noite
Sob um céu acolchoado de negro
Flashes de pratos, temporal.
As árvores se despem enquanto dançam
As bananas e os pinheiros
A brilhante dança da valsa do furacão
O mar executa sua partitura macabra
Seus olhos azuis se arregalam
Som de ondas se casando
Para as notas erradas da chuva
O vento sussurra uma sentença de morte
Interminável e grave
É a festa no inferno.


EM CAMISA AZUL

Uma piteira dorme em uma camisa azul
Azul escuro azul fumaça azul
Fumaça de cigarros falecidos
Uma piteira dorme em uma camisa azul
Pesadelo povoado por risos
Riso de cristal amarelo rindo
Cristal de Lágrimas fugitivas
Uma piteira dorme em uma camisa azul
Em um cinzeiro cor de noite
Noite de mãos cansadas de mãos prometidas
Noivas núbeis noivas lascivas
Uma piteira dorme em uma camisa azul


FILMES

Manhã. Céu azul. Nuvens claras.
A montanha. As árvores. As flores.
O sol atrás da montanha.
O Parque.
Os bancos. Balanço.
Crianças com suas babás.
O jardineiro robusto, animado e bonito.
As meninas de minissaia.
As meninas os admiram.
As velhas olham para ele de esguelha.
A rua.
Os carros se multiplicam.
As almofadas queimam.
Os chifres ficam irritados.
O pavimento amolece com o calor.
Ciclistas imprudentes. Os sinais luminosos.
Os transeuntes estão caminhando.
As meninas são muito fofas.
As meninas elegantes.
As velhas vão devagar.
O policial de óculos escuros.
As lojas chiques.
Crianças com suas mães.
Os brinquedos que elas pedem.
A rádio dos restaurantes.
As meninas fáceis.
As meninas sorridentes.
As velhas preocupadas.
A Igreja.
Os fiéis oram. O altar na parte de trás da igreja.
O harmônio da igreja à esquerda.
As estátuas à direita.
As meninas em exposição.
As meninas que se ajoelham.
Velhas que rezam, rezam muito.
A atmosfera de pena.
A hora do retorno.
Compras para o jantar.
Hora do jantar. Os pratos suculentos.
As meninas que comem pouco.
As meninas que comem bem.
As velhas que comem demais.
A conversa que é incentivada.
A tarde fresca e feliz.
Sorvete de chocolate.
A música na sala de estar.
As meninas que mexem os quadris.
As meninas balançam os quadris languidamente.
As velhas sussurram, elas murmuram.

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