Curadoria e tradução de Floriano Martins
Victoria Marín Fallas (San José, Costa Rica, 1991) é filóloga clássica formada e estudante de Filosofia e Mestranda em Literatura Clássica pela UCR. Editora-chefe da Editora Estudantil da Universidade da Costa Rica, diretora da Revista Quimera Virtual, editora, revisora e revisora de textos profissionais. Aparece como autora em Donde contamos hormigas y segundos (Poiesis Editores, 2020), Antología Nueva Poesía Costarricense (MCJ, 2020), Voices (Centro Cultural de México, 2021), Rollos de Vuelo (EUNED, 2021), 56 Altares: Filos y Espejos (Testigo Ediciones, 2022), Fin de siglo (EUNA), Hay algo, urgente que te tengo que decir (Medusa Editores) y Bitácora Abierta II (Poiesis Editores, 2024). Venceu o XIV Concurso de Escrita Criativa em Línguas Estrangeiras (Universidade da Costa Rica) na categoria poesia em língua portuguesa. Em 2022 publicou sua primeira coletânea de poemas La Edad de Hierro (Medusa Editores), que foi apresentada nesse mesmo ano na Feira Internacional do Livro de Chihuahua. Editora e compiladora das antologias Anábasis, antología de narrativa fantástica y ficción histórica (Editorial Nacimiento) y El legado (Universidad Pablo de Olavide – Enredars – Revista Virtual Quimera). Alguns de seus trabalhos aparecem em espaços como revista Itálica (UPO), Punto en Línea (UNAM), Universo de Letras (UNAM), Semanario Universidad (UCR), Soltemos la lengua (UCR), Liberoamérica, the Afro-Hispano-American, a coleção de histórias em áudio Cuentos en Red (Cooperação Espanhola), Káñina, Enpoli, Armas y Letras (UANL) e Cover. Participou de diversos eventos como o VIII Congresso Internacional da Cátedra UNESCO de Leitura e Escrita, o I Congresso Nacional de Estudantes de Artes e Letras (UCR), o Festival Internacional Primavera Bonita (Fundação do Centro Cultural do México Contemporâneo et al.), o XXVI Simpósio Nacional de Estudos Clássicos, o II Congresso Internacional sobre o Mundo Clássico (Universidad del Nordeste, Argentina), o I e II Encontro Internacional de Poesia em Xochimilco e o I Colóquio Nacional de Narrativas Especulativas, do Inusitado e do Terror (BUAP, México), entre outros.
HAMARTIA
Para descifrar a dor
há que beber o sangue
daqueles que se recusam a morrer.
Sua vertigem está nos pântanos,
nos cantos que ninguém catuca,
sepultado sob a esperança e o luto do pobre
– talvez también do homem justo –.
Deves abrir com as mãos a cabeça e olhar,
emprestar ouvidos – os teus –
ao canto da mulher sangrada pelo tédio
que fica no fundo da lagoa.
Ela saberá encontrar o ser mais triste
para que possas amá-lo ferozmente,
desejos exaustivos e raiva
até que permaneça nos ossos.
Então será necessário
Trocar a tua opinião pela dele
e dar uma facada limpa,
respirar coberto por ele ou ela
e gerar sozinho um vazio branco,
absoluto e invencível,
que engolirá
o sol e a prata de teus dias.
PRESSÁGIO DO MAR
Eu não pensei que houvesse amor
em uma cor diferente
no barco que flui
em direção ao meu naufrágio.
PASTORAL
Não podemos evitar a vigília,
entrelaçar as mãos e o olhar,
o nascimento novo das coisas
na parte mais perigosa
que a natureza nos dá.
Nossa pele,
há simetria nela,
também uma magia contagiante
antecipando a razão mais íntima
que deve florescer em nossas pálpebras.
Compartilhamos a infância,
cada dia e sua raiz silenciosa.
Nós somos os olhos abertos,
a fome e seu feliz despertar
sempre que entras ali
onde guardo meus afetos.
E tu, amor, és o mais teu,
o fruto que o reflexo da lagoa amadurece,
o som de tudo o que é eterno e suave,
cuja visão recolhe e aguarda
o peso de mim mesma.
ΟíΟΙ ΝΎΝ ΒΡΟΤΟΊ
Os que agora somos mortais (Ilíada)
Confesso que minha distração favorita
é correr atrás da esperança de morrer em outro mundo,
exercer cortesia contra o espelho
ou o maior dos castigos.
QUANDO ESTOU SOZINHA
Eu amo a ferida,
mas temo esse nome
relacionado a Yahvé,
talvez também
com pensamentos
que não posso nomear.
Que a tristeza não venha
semeada de estacas,
versos de uma criança sem pálpebras
que foi chutada por seu pai.
E não destrua minha estrela novamente,
minha alma jogada como uma pedra
descartada no fundo da água.
Rebanhos, ideias imaculadas
cujos botões não planejam florescer,
orações derramadas nos altares
e cabeças sagradas.
Batidas cada vez mais fracas.
O homem de olhos escuros
e suas intenções sombrias,
indiferente, meu outro eu,
transformado em distância, em esquecimento.
Eu irei onde eu puder sonhar
uma casa, uma ilha,
uma árvore tocada pela lua.
Algum dia chegará a hora
das estátuas mínimas,
juntarei as peças
desta imagem confusa.
Mas hoje não estou interessada
em escutar as bocas que sou
nem reconhecer sua letra.
Afasto as sombras.
Apodreço
para depois renascer.