Curadoria e tradução de Floriano Martins
Ana María García Silva (Lima, 1948). Autora de Hormas & Averías (1995), e das antologías Mujer y poesía (1997), Poesía Peruana Siglo XX (1999), La poeta y el erotismo: estudio y antología (2001), Entre fuegos y pétalos (2008). É também autora de livros em colaboração:Basta, 100 mujeres contra la violencia de género (2012), Cuatro mujeres: cuatro pasiones (2013) e Las alas del amor, poetas peruanos, com Francisco García e Ana María García (2000).
NATUREZA MORTA
Toda mesa compreende o homem e o anima no binômio
converso
a solo, congregado, a solo.
Toda mesa está compreendida no nome da cruz
e nos cruzamentos
no entanto
alguma vez sofre (ou sofreu) a tal professa ferida
da bagatela
alguma vez nela poupados.
Inesperadamente chega a noite sobre a minha
as partículas moribundas da imagem diretriz fazem
figuras malabaristas.
Cai a argila
as mãos pardas
o musgo escuro nos cantos
as velas acesas
o vinho opaco.
O MURO
(Explicação do paraíso ou mais exatamente do primeiro pecado)
Nesse final que se perdeu havia um muro ao qual alguns chamaram muralha,
porém cujo nome permaneceu
inalcançável
porque devia ser tocado e atravessado
sua finalidade e tendência: por as mãos nela.
A matéria, agora desconhecida, foi então elementar
uma espécie de carne-barro-pó (digo eu)
em que as marcas da aproximação podiam se integrar por pressão
imediata e construir
a própria matéria
inserida nova lúcida e o homem (o que quero dizer é)
uno. Lúdico e paraíso. A graça arvorecia somente no jardim espontâneo; isto era mais. O ardil preciso
estava no limite. Porém…
o corpo
seus orifícios plásticos se ofereciam
como qualquer canudo ou seringa ferrão circunciso
tentado por uma forma paralela: a cilindro, cilindro.
A verticalidade, a horizontalidade em destino
facilmente subtraída pela fêmea e o varão
fizeram
até hoje, invisível, o muro.
ESCRITO POR CAUSA DA NECESSIDADE DE USAR UM PRONOME
Alguém é assim:
Obtém da pluma um deslize; o uso narrativo, o discorrer, e há quem se vire para o olho e inquira que, assim como ver a si vestida de muita magnitude e depois comprovar na realização o insípido de teu peso ao enfiar. E a quem havia de instar pelo gracejo é a eles. Aos que acordam na desesperação cotidiana.
Alguém é assim:
Põe ardor nos dedos e saem as palavras. De quem é então a culpa se não há tentativas de acesso. A lesão pelo fogo é a mais doce. Porque conduz à consumação: a vivificação do sacramento que não é outra coisa que o ato mais de carne.
Os contrários que aparecem como manchas sobre algo e de cuja existência não podemos maldizer, acusam. Quando assim os vejo com seus joelhos assentados sobre a coluna, sua atitude me provoca. O que me apeteceria nesse instante é ceder e obter dessa cessão a única verdade. Porém não se trata de verdade, mas sim de verossimilitude, que não é o mesmo. Uma qualifica, a outra serve apenas para a distensão.
Porém alguém é assim e por isso escreve.