3 Poemas de Nancy Mercado (Porto Rico, 1959)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Nancy Mercado, que recebeu um American Book Award por Lifetime Achievement e foi nomeada entre os Frederick Douglass 200 no aniversário do aniversário de Douglass, é editora da Nuyorican Women Writers Anthology, publicada na Voices e / Magazine, uma Hunter College City University of New Jornal literário online de York. Ela é curadora convidada do Museum of American Poetics e editora assistente do Eco-poetry.org; um site dedicado a abordar a questão das crises climáticas. Mercado também criou a página do Facebook da Eco-Poesia. Ao longo dos anos, ela apresentou seu trabalho nos Estados Unidos e no exterior para instituições e lugares como, a Universidade de Nantes, França, a Sociedade para o Estudo da Literatura Multiétnica dos Estados Unidos (MELUS), a Associação de Writers and Writing Programs Conference (AWP).

MICHAEL LIMNIOS


MITOLOGIAS

Fúrias do furacão habitual,
Ventos misteriosos atingindo o recife
varas de morte e de coral
inundaram as baías da Ilha
e engoliram o ar de Camilo.

Seus pulmões foram hélices pretas
que naufragaram em um piscar de olhos,
de onde as rajadas da misericórdia
estão girando,
como troncos de floresta encalhados,
enjaulados
em um comando eterno do norte.
Os barcos e as bocas ofegantes
navegam nos mares
e Camilo perdido.

Haverá chuvas de outubro em seu chapéu de aba larga.
Mas onde você encontra sua barba fina,
encurralada entre essas águas frias e imprevisíveis?
Como apertar sua mão firme
bêbada de pensamento e ato?
Onde pousar seus olhos,
pássaros aninhados do herói?
Oh meu povo insurrecto,
tu que o viste nascer no discurso
e arder nos rios impetuosos da Invasão:
Para ti derrubou madrigais ímpias.
Oh meu povo de nuvens.
Oh povo teu que o encontra
com uma flor silvestre,
amável,
sem folhas,
jogada à intempérie
sobre este mar das mitologias.


O TAMBOR

Meu corpo invoca a chama.
Meu corpo invoca a fumaça.
Meu corpo no desastre
como um pássaro macio.
Meu corpo como ilhas.
Meu corpo próximo às catedrais.
Meu corpo no coral.
Ares de minha névoa.
Fogo sobre minhas águas.
Águas irreversíveis
Nos azuis da terra.
Meu corpo em plenilúnio.
Meu corpo feito as codornas.
Meu corpo em uma pluma.
Meu corpo para o sacrifício.
Meu corpo na penumbra.
Meu corpo em claridade.
Meu corpo sem peso na luz
Tua, livre, no arco.


MULHER NEGRA

Tenho em mima inda o cheiro da espuma do mar que me fizeram atravessar.
A noite, não a posso recordar.
Nem o próprio oceano poderia recordá-la.
Porém não esqueço o primeiro alcatraz que divisei.
Altas, as nuvens, como inocentes testemunhas presenciais.
Acaso não esqueci a minha costa perdida ou minha língua ancestral.
Deixaram-me aqui e aqui tenho vivido.
E porque trabalhei feito uma besta,
aqui tornei a nascer.
A quanta epopeia mandinga tentei recorrer.

                 Eu me rebelei.

A senhora me comprou em uma praça.
Bordei a casaca da senhora e um filho macho lhe pari.
Meu filho não teve nome.
E a senhora morreu nas mãos de um impecável lorde inglês.

                  Andei.

Esta a terra onde padeci reviradas e chicotadas.
Remei ao longo de todos os seus rios.
Sob seu sol semeei, recolhi e as colheitas não comi.
Minha casa era um barracão.
Eu mesma trouxe pedras para erguê-lo,
porém cantei ao natural compasso dos pássaros nacionais.

                Sublevei a mim mesma.

Nesta mesma terra toquei o sangue úmido
e os ossos apodrecidos de muitos outros,
a ela trazidos, ou não, igual a mim.
Nunca mais sequer imaginei o caminho de volta à Guiné.
Era a Guiné? Benin? Madagascar? Ou Cabo Verde?

                  Trabalhei muito mais.

Fundei melhor meu canto milenar e a minha esperança.
Aqui construí meu mundo.

                 Fui até a montanha.

Minha real independência foi o palenque
e cavalguei entre as tropas de Maceo.

Somente um século mais tarde,
junto aos meus descendentes,
desde uma montanha azul,

                desci da Serra

para acabar com capitais e usureiros,
com generais e burgueses.
Agora sou: somente hoje temos e criamos.
Nada nos é alheio.
Nossa, a terra.
Nossos, o mar e o céu.
Nossas, a magia e a quimera.
Meus iguais, aqui os vejo dançar
ao redor da árvore que plantamos para o comunismo.
Sua pródiga madeira já ressoa.

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