por Nina Rizzi
Essa Harpia voa em fúria com uma fome insaciável, quer abocanhar,comer,destruir e com poemas vomitar ao mundo os milênios de silêncios a que foram destinadas todas as corpas desviantes, deslizantes, monstras: escrevendo no voo da rapina, traz consigo clitórias, tantas quantas pode, comigo-ninguém-pode; cospe fogo-poemas, dispara flechas-poemas que são exatamente certeiras direto ao alvo: a poesia.e da fome e destruição, ao contrário das mitologias escritas por homens, essa Harpia nunca mais se enclausurará em cavernas: gaiola aberta, agarra suas próprias tramas de ave-mulher negra latina – carrega em suas poemas um tropicalismo gótico e revoa e dança e se farta no banquete da poesia.e o que quer a poesia, essa monstra, senão dizer-se como se queira? escrever-se como se quer a voz-harpia? ouça. dentro. e aqui. voa.
Harpia (Triluna, 2020) é o segundo livro de poemas de Aline Cardoso e seu primeiro projeto autoral inteiramente independente pela Editora Triluna. Segundo a autora “Em Harpia, visto a rapina, exploro a semântica da caça envolvendo os leitores no rasante das aves predatórias, na mística das harpias míticas.”
O livro está em campanha de pré-venda no Catarse, segundo Aline “Essa perspectiva editorial mostra na prática como os leitores podem ter autonomia para movimentar as redes de apoio em torno da produção cultural dos autores que fazem parte do seu próprio círculo de convívio. Lá no Catarse os interessados em apoiar o projeto podem contribuir com qualquer valor e há três faixas de apoio com recompensa: com um apoio de 20R$ a recompensa é o E-book; com o apoio de 40R$ a recompensa é o Livro Físico + marcador de páginas; com o apoio de 80R$ a recompensa é o combo com o E-book + Livro Físico + Entrevista conversando sobre a Editoração Independente. Durante a pré-venda o frete é grátis, a pré-venda ficará no ar até o dia 10/10.”
Conheça o projeto, escolha sua recompensa e faça o seu apoio:
https://www.catarse.me/harpia_de_aline_cardoso_3ef4?ref=project_link
DOIS POEMAS DO LIVRO
CAÇA
Panteriça,
invisto contra
as borboletas de aço
do teu estômago.
Entre um ataque
e outro, dilacero-as
devoro-as, mastigo
com voracidade.
Engulo o sabor metálico
das asas reluzentes
– teus demônios coagulam-se aos meus.
HERA
Vim de outras eras
erva-daninha-brava,
urtiga-vermelha,
saliva sumo de
comigo-ninguém-pode.