3 Poemas de Moisés Pascual Pérez (Panamá, 1955)

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Curadoria e tradução de Elys Regina Zils

Moisés Pascual Pérez (Panamá, 1955). Poeta, narrador, fotógrafo, artista visual, educador e comunicador social. Publicou os livros de poesia: Monólogo del náufrago, Jugar a la vida, Palabras de humo, Ojalá, La Diosa desnuda, Oro y Sobra. Destacam-se suas obras Traganíquel e Conjugando (prêmio nacional de poesia Ricardo Miró, 2003 e 2010, Panamá), além de livros de literatura infantil (En el país de los Pájaros aburridos, menção honrosa em conto, Prêmio Miró 2005, com segunda edição a ser lançada pela Áncora Editores, Cuba). Além disso, recebeu menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Infantil e Juvenil “Carlos Francisco Changmarín” 2010, com La pandilla del guayacán azul, publicado na República Dominicana. Em 2022, lançou sua primeira novela, Las tribulaciones de Johnny Bolas, e também seu livro de minificção Cuentos chinos (Projeto La Chifurnia, Coleção Ysiacabuche, El Salvador). Suas obras foram traduzidas para outras línguas, e participou de feiras e festivais internacionais de poesia (Medellín, Panamá, Bolívia, Porto Rico, Cuba, Guatemala, República Dominicana, Marrocos, El Salvador, Nicarágua, México, Espanha e Costa Rica). É membro do conselho editorial da revista digital centro-americana El Pez Soluble e dirige seu próprio blog: literarte.art.blog. Coordena no Panamá o World Poetry Movement. Possui mestrado em Ensino de Espanhol pela Universidade de Jaén, Espanha.


AQUELES QUE NÃO SERÃO ESQUECIDOS

choraremos cantando
os nomes
dos que não serão esquecidos,
os nomes os nomes

porque a morte
malsã e triste,
não poderá apagar
aqueles que quiseram viver
com todo o amor
deste mundo e dos outros,
sonhando
com uma terra
que é a pátria
e se chama Palestina,
a mãe de todos os seus filhos,
cativa e divina,

do rio ao mar,
não haverá muros
para esta imortalidade,

de areia,
esta paixão de ser
uma chama acesa,
uma rosa,
uma pomba ferida
no meio do seu voo

e terão que nos matar
duas vezes
esses bastardos,
mil vezes, um milhão,

destruir nossas cidades,
queimar nossas almas,
nos transformar em pó,

mas sempre sempre
viveremos aqui
como oliveiras milenares,
sobre os escombros,
de pé

aqui, PALESTINA,
desde a raiz mais profunda.

(14 de dezembro de 2023)


LEIO ATÉ A ÚLTIMA PALAVRA

me obrigo a ler
até a última palavra,
a que se esconde sob a mesa,
a que apagam
os ventos intemporais,

os papéis que outros escreveram
em um presente,
sem saber que seria no futuro,
hoje,
que compreenderíamos,
os poderosos advérbios do amor,
o aqui e agora,
a fúria de umas lágrimas,
os sinais sob os escombros,
dos que lutam,
por uma triste bandeira em farrapos,
rasgada, em chamas…

todas as perguntas que foram
mutiladas em suas mãos,

quem viveu nessa casa
reduzida a pó,
para quem foram esses beijos
escritos nos muros,

do que uma vez foi um país
de vinhos e méis

me parece justo ler
até a última linha,
como se fosse uma carta
para os que sobreviverão
ao genocídio,
ao ódio que justificam
com deuses
de sangue e pedra

quero que saibam o nome
de quem insistiu em gritar
contra as armas no peito,
a fome que não pôde ser apagada
da memória,
encurralado no infinito
em um coro agonizante
os cantos de sua pátria,
areia e amêndoa,
um olho de água

certos espíritos teimosos,
rebeldes,
que se negam a morrer
no crepitar do fogo,

me parece justo,

não esquecer os fantasmas
e amaldiçoar os assassinos,

leio até a última palavra,
para continuar vivo
nos que nunca morrem

letra a letra
respirar é um privilégio,
uma ousadia

e se não é um poema
isso que se vive
até a última linha,
é um grito
que todos devemos ouvir


RESISTIR

Não vou parar
até chegar
com vida
ao lugar do sonho,
o que sonhei e perdi
e nunca tive,
será possível voltar,

onde te esperei
anos
sob a chuva
e nunca chegaste,
perdida.

Não vou parar.
E espero que a morte saiba
me dar sua permissão
provisória
para estar mais um pouco
nas profundezas do teu corpo
e em tuas margens.

Não vou parar.

Derrotado pela fragilidade
das minhas mãos cansadas
de segurar a noite nua.
Buscarei forças, ânimos.

Farei caminho
a força de acreditar
que o que não existe,
aparentemente,
pode ser possível,
tão real,
se eu fizer o necessário
para que amar seja
um complemento da liberdade,
e assim decidir
como vento e como água,
por mim mesmo meu destino,
sem a interrupção
das tuas ausências e dos meus medos.

Não vou parar.
E se eu cair,
me levantarei.
Mas se não puder continuar,
deixarei uma marca
na pedra,
na árvore,
no pó
e no tempo,

para que possas seguir,
sem mim,
nos amando,
ligados à vida,

o tempo que for necessário
resistir
para chegar
sãos e salvos
ao nosso mais ardente desejo
de ser
o que sempre somos,
no vórtice
do mistério,
o fogo do lume,

uma luz,
uma janela aberta
de par em par,
aberta,
uma vontade
de transcender
o frívolo,
o que não vale a pena
viver,

apenas um sopro e uma respiração,

a vida mesma,

sem tantas palavras.

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