Teatro e Pintura de Guerra

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Por Clarisse Abujamra*

Pretendia começar dizendo:

– Terceiro Sinal – vamos levantar o pano…, mas a casa está vazia, continuamos mesmo assim?

– Claro.

 Em pleno exercício de um desgoverno-irascível-vergonhoso, a Cultura desse nosso país escorre ladeira abaixo. Quando menciono a Cultura me refiro a centenas milhares de profissionais- gerando emprego e que alimenta a alma, o corpo a mente de um país com o que sabe fazer de melhor. Provocar! Emocionar! É o tirar da vida a tragédia ou a comédia e devolver em forma de arte e a ela nos entregamos sem juramentos previamente escritos, mas com nossa alma, todos os dias de nossas vidas, a despeito de qualquer tipo de governo, e a certeza inabalável de ser a arte – NECESSÁRIA!

 Em plena Pandemia, enjaulados, vivemos com paixão o Outrar, nem por um segundo os desamparamos, abandonamos à aridez dos dias que temos vivido. O SHOW TEM QUE CONTINUAR!!! Essa é uma máxima a ser respeitada.

Cantamos em uníssono a milhas de distância, tocamos em sacadas, dançamos tarde da noite solos lindamente coreografados quando as ruas estavam vazias, invadimos os meios de comunicação com poesia com textos de qualidade sendo lidos como se estivéssemos na melhore maior sala de espetáculo, as comunidades e suas pequenas bibliotecas oferecendo livros para as crianças. Em todos os idiomas, vimos, ouvimos, conhecemos artistas de todo o mundo.

E nunca se ouviu tanta poesia que confesso ser meu maior amor!

Nunca tivemos escola que se importasse com a cultura. Gerações e gerações que, como não bastasse deixar de ensinar a História Real, a cidadania, a constituição, os direitos e obrigações de cada um, nos privou de Machado de Assis, de João Cabral de Melo Neto, de Cora Coralina, de Villa-Lobos, de Camargo Guarniére, de curiosidades sobre Carlos Gomes, cuja abertura de seu maravilhoso O Guarani – elogiado por Verdi e considerado por muitos melhor que Verdi, nunca se ouviu mais do que os acordes iniciais na Hora do Brasil… de Wagner cujo Tristão e Isolda foi subsidiado por Don Pedro II e a ele Wagner dedicou essa ópera maravilhosa. Repercute em minha cabeça a voz do pensador, do diretor Antonio Abujamra que dizia a plenos pulmões – Voltem aos Clássicos, Voltem aos Clássicos! E outros tantos artistas contemporâneos, e o uso genial da tecnologia, que entregam sua vida a amenizar nossos dias.

Dias do livre exercício de todo e qualquer tipo de preconceito. Temos que nos fazer ouvir

Temos que descobrir como trocar Impotência por Ousadia e Ação.

Quando um, assim chamado, presidente de um país diz serem idiotas os que preferem comprar feijão a comprar um fuzil, temos que descobrir como seguir!

Temos que acreditar que ainda há tempo de nos colocarmos curiosos, atentos ao que temos direito: CULTURA/ ESCOLA – SAÚDE! Não importa a ordem, é um triangulo que se sustenta não, importa o lado. Um triangulo abandonado às ultimas consequências por este terrível desgoverno que vivemos, deste desserviço deste desrespeito ao povo deste país.

Diz o poeta que Na nossa terra, a dor dói menos, não pretendo desmenti-lo.

Sim, ainda voltarei para dizer:

– Terceiro Sinal- vamos levantar o pano, plateia cheia!

– Claro.

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Clarisse Abujamra (Brasil, 1948) Atriz, diretora de teatro e coreógrafa.

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