10 Poemas de Isolda Hurtado (Nicarágua, 1956)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils

Isolda Hurtado (Granada, Nicarágua 1956). Poeta, escritora, ensaísta, tradutora, socióloga. Consultora cultural, ex-diplomata, editora. Cofundadora e ex-presidente executiva da Asociación Nicaragüense de Escritoras (ANIDE). Residiu na Nicarágua, nos Estados Unidos e no Uruguai. Publicou Silencio de Alas (1999); Florece el Naranjo (2002), prêmio editorial do júri composto por Ernesto Cardenal e Claribel Alegría Poemas (2004); Brisa y júbilo (2007); Diagnóstico del Arte Contemporáneo en Nicaragua (2002); Antología de Poesía de Fernando Silva em coautoria com Fernando Antonio Silva (2018). Merecedora de prêmios editoriais, sua poesia pode ser encontrada em antologias recentes no continente americano e na Europa. Caracteriza-se por uma poética de libertação estética, uma linguagem inovadora de emoção e ritmo em versos líricos e poemas em prosa em diálogo aberto com o seu tempo. Foi parcialmente traduzida para vários idiomas, musicada, levada ao teatro e presente em referências bibliográficas acadêmicas de universidades de todo o mundo.


O SILÊNCIO

Um ganido desesperado
um latido perdido
um gemido profundo
um batimento forte
um rugido feroz
vê a noite cair.

Uma ausência insistente bate à minha porta
uma memória do porto
uma flor
uma estrela
um sopro de vento.


AMO II

Caminharei na sua praia de lua
seu coração contra meu peito
e em silêncio
seu beijo será longo de tanta noite
antes que os grilos cantem sua pressa
e não voltem.


RASGO

Para onde foi a luz
se uma brisa distante apenas umedece
e os prados afastaram o verde
para o outro lado do vento.

Que tom de assombro cultivar
diante de um rasgo negro que se aprofunda
entre as sombras.

Como segurar em minhas mãos
a rosa murcha.


QUANDO DIGO TEU NOME

Um eco da minha própria voz se repete acústico
insistente
quando digo teu nome.

A manhã é tão simples
tão fácil te desenhar
nas paredes da sala
talvez
transcendes nas minhas coisas
e permanecem intactos os dias
no tempo.


DE FOGO E VENTO

Como as ondas beijam as costas infinitas
e os astros iluminam o momento
assim respira meu amor.

Livro inédito dos meus arrependimentos
implorando por misericórdia
dia e noite
nesta última forma do fogo arder
sobre o vendaval do tempo.

E aquele trapézio da infâmia
afiando suas presas
quando meu amor invencível
de fogo e vento se satisfaz.


RUAS VAZIAS

Ruas vazias
Mortas

As praias desertas
sem seus olhos café

Observo ao Sul
sem ver nada

Ruas vazias
Mortas.


OS MERCADORES DO TEMPLO

Os mercadores do templo te mutilaram.

Entre suas zombarias
rasgaram teu último choro
até eternizar teu sorriso de boneca
como crava-se um espinho
na carne
e sangra.


RESERVA INDIO MAÍZ

O fogo destruiu tudo
do tronco a própria terra
e no ar rarefeito
permaneceu o rumor ardente
da sua tristeza.

Um após o outro e outra
seguiram lentamente o rumo
do fogo e do ar e seu rumor
apertando um ao outro
sem verde
sem nada.


TALVEZ O RICTO

Quero um sol alto sem empurrões ou pressa
nem tanta dor que os gritos já não alcançam
na geografia.

Quero que este ricto se transforme em sorriso
e sonhar com as avenidas
enfeitadas com rosas.

Talvez assim voltem.


TUDO SE CONTEVE NO TEMPO

Tudo se conteve no tempo
a rosa vermelha trêmula em minhas mãos
o céu transparentemente azul
a intensidade do teu olho
queimando-me.
Meu eterno coração raivoso batendo
contra a noite espessa.

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