3 Poemas de Alejandra Solórzano (Guatemala, 1980)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

La poeta mesoamericana Alejandra Solórzano es una autora que pertenece a un linaje muy raro de encontrar entre sus contemporáneos. Es posible que actualmente existan muy pocos poetas activos que asuman con tanta seriedad y talento esa originaria tensión dialéctica entre el lenguaje creativo y la disciplina del pensamiento.

BERMAN BANS


Considera la exposición fragmentaria una de sus mejores armas, el modo ideal para conseguir expresar tantas sensaciones experienciales y frustrantes, tanto vacío lunado. Y el refuerzo filosófico, la reflexión que trasciende los hechos, su mejor aliado. No le asusta la irracionalidad; claro, entendida -tal como expuso el filósofo y poeta Antidio Cabal- como la “parte irracional de la razón”. La construcción de sus poemas combina ambas características, planificándolos cuales escalones en descenso, plenos de acotaciones de lenguaje, matizaciones que imposibilitan una lectura lineal y segura. […] Detrás de sus modos sincopados irradia lo político, una dimensión humana escondida en el fondo que interconecta cada verso, entrelaza su aparente diseminación escritural. Cada palabra detrás de otra no hace más que pulir hasta el infinito el mensaje, la otredad más profunda que todo cuerpo esconde.

ANTONIO JIMÉNEZ PAZ
Fragmento de um estudo sobre a poesia de Alejandra Solórzano


JARDIM JAPONÊS
(Ontologia lítica do amor)

I.

Desmembradas sobre arenito
flores, folhas
talvez alguma pluma ou semente
entorpecerão a sobriedade e o amor tão simples
como a realidade
sobre os sonhos.

II.

Duas pedras
em sua elevada consistência
compartem um antigo silêncio
mineral.

Alguma força
reuniu suas linhagens de dureza
a vitória com que vestem sua memória
sedimentada, mítica.

Milhares de pedras diminutas
testemunham o anseio de Medusa em suas pupilas
o silêncio que a une
Início e Fim de sua linguagem.

III.

Encerradas
em suaves e delicadas ondas
a parelha,
entre outras, milhares de pequenas pedras
cada uma maior ou menor – pensa –,
como uma antiga refutação
se o arenito lhes une ou separa
ou se é cúmplice maré de aerólito.

A cada mínimo pedregulho
uma palavra que não consegue dizer
mundos possíveis para abraçar ou separar
aleatórias despedidas
uma única noite
e a cópia da cópia dessa noite
em um eco ao infinito.

O Amor
ou o Nada
e sua reverberação.

El Amor
o la Nada
y su reverberación.


AS AVES NÃO SE SUICIDAM

Em outro mundo possível
a Morte das aves sobrevém com aparência de gato.

Ao fio de um ramo.
A inanição, um deserto para sonhar insetos, larvas e sementes.

Colidir com a miragem de uma janela indiferente.
Perturbada por nevascas,
desordem de asas desfeitas à mercê da anunciação do inverno.
Cansadas de tempo
escondidas no interior de um tronco
até que sejam encontradas
por multidões de formigas e besouros.

Não importa qual o destino
a sua Morte
uma figura agraciada com suavidade de outono
espera para acompanhar
a sombra cristalina de seus corpos
até uma leve infinitude

Assim canta um pássaro para sua Linhagem
seguro da cidade adormecida
enquanto lhe escuto claro e distinto
apoiada em sigilo atrás da janela do quarto

Ouvir o augúrio de morte dos pássaros
o sentido trinado de sua entidade secreta
de seu canto existencial

Emudeço
Sem o desejo de haver falado
(qual aparência terá minha morte?)
Indago-me
sem Linhagem
sem possuir um canto
exatamente antes da madrugada.


[UMA SEMENTE COM ASAS]

Uma semente com asas
diante do irônico sorriso da planície.
Sol, mar, ou a suave curvatura de cera com que enlaçaram as plumas para o breve
Ícaro.

Quem sou? indaguei
e o bumerangue do Vazio golpeou as minhas mãos.

A pedra diminuta e última no fundo do oceano
que medita,
imolada em solidão.
O tempo mais preciso dos tempos
ou talvez
soalheira sobre o cadáver que abandonou uma estrela marinha.
Máquina nobre?

Quem sou? indaguei
e o bumerangue do silêncio atravessou a minha garganta.

Então pensei
que talvez eu fosse o sonho de uma fera chamada Berkeley
vendo passar a tarde com ociosidade e desprezo recostada
na sobremesa que uma anciã teceu para alegrar a visita
dos que não regressam.

Quem sou?

O paladar, a maçã?
Rédea, besta,
negro jardim cheio de flores.
Sucessão finita sobre um corpo.
Suspiro do Tempo que faz o milagre da infinitude, uma falsa exatidão de sentido?

Quem sou?

Quem então?
— Nada, me responde o Vazio.

Nada.

Como se o Nada
fosse nada.

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