Curadoria e tradução de Floriano Martins
Nasceu no final de 1989 em San José, Costa Rica. Desde 2006 fez parte da oficina literária Netzahualcóyolt. Publicou seu primeiro livro Pequeña muerte en el Ártico, com a editora Perro Azul, em 2010, e seu segundo livro Datos Adjuntos com a editora Espiral em 2016. Seus poemas foram publicados em vários países latino-americanos, em diversas revistas e alguns foram traduzidos para o italiano. Participou de alguns festivais e encontros de poesia na Guatemala, El Salvador, Nicarágua, México e em seu país. Carolina é formada em medicina pela Universidade da Costa Rica e possui mestrado em Saúde Pública.
MIGRAÇÕES
Longe
as grandes migrações animais:
os salmões que regressam
à sua casa de água doce,
as tartarugas marinhas
que desovam na praia onde nasceram.
Aqui,
nos falta magnetismo,
certa noção de espaço e tempo
que nos indique onde ir.
Uma bússola dentro das borboletas
as faz percorrer milhares de quilômetros
sem que se percam.
Os ursos farejam vida
a quilômetros de distância
e os elefantes sempre recordam
seus mortos.
Nós,
temos a memória frágil
e uma marca nos cromossomos
que nos leva a fugir
por mar e terra.
Assim,
migramos de um esquecimento a outro
guiados pelo instinto.
RADIOGRAFIA DAS COISAS
Ajusto o peso exato da minha bagagem
em duas malas.
Observo a arquitetura do quarto
se em algum de seus cantos
esqueci algo.
Vejo o livro que deixei debaixo da cama,
o único pijama que me dava calor
e usei na noite antes de partir.
Indago a mim mesma:
O que será visto em nossa bagagem
nas esteiras do aeroporto?
O perfil de suas formas,
a conformação de seus átomos.
E se pudessem ver o que deixamos?
O que no último minuto
decidimos abandonar,
o que embalamos primeiro
e o que decidimos tirar.
A trinta e oito mil pés de altura
repasso a lista mental
do que levo.
A estrada está escura.
Os edifícios são quase imperceptíveis.
A sombra das nuvens
pesa nas planícies.
Meu país se torna uma pequena mancha,
assim como meu reflexo no vidro.
DADOS ANEXOS
Na estação,
uma jovem escreve um e-mail
em seu celular.
Lembra todas as palavras
esquece seu nome.
Não consegue anexar o eclipse
que todos estavam olhando,
nem mesmo os noventa anos
que a separam de outro,
ou parte alguma de seu corpo.
Entende que talvez
só caiba uma foto
e as palavras precisas,
para que acreditem
que ela está viva,
como uma tempestade de areia.
Ou talvez
algumas instruções
para fazer de seus braços
instrumentos para matar.
Não pode enviar o vento
que hoje despenteia suas ideias.
Escreve descontroladamente,
suas mãos são insetos velozes
que não dormem.
De repente,
a tela e sua mente
são um buraco negro,
sente que tropeça
e cai até chegar a outro lugar;
onde não sabem seu nome
ou os sinais que lhe fazem
ser quem é.