3 Poemas de Ignacio Aru​​(Costa Rica, 1999)

| | ,

Curadoria e tradução de Floriano Martins

Ignacio Aru (Cartago, 1999). Vencedor do Prêmio Literário Brunca da Universidade Nacional da Costa Rica, 2021. Vencedor do prêmio internacional de conto da Fundación Mapfre, Espanha, 2014. Publica seu primeiro livro, Lupercalia, México, 2020; e sua reedição Catorce días bajo la nieve, Costa Rica, 2021. Publica também Anadiómena, Cölmenart, 2023. Coautor da peça Mistérica, encenada no Teatro Melico Salazar, 2015.


TEKBIR

Foi quando ouvimos a explosão,
os órgãos magnéticos
derrubam o muro de nossas casas
e a carne é reduzida a um movimento nos rostos
e a lápide do último Sheikh
reúne os nossos nomes no ar.

Ao final da tarde,
uma mãe conversa com os restos mortais de sua filha
enquanto um animal devora seus olhos em outro morto;
os queimados ao se levantarem entre as pedras
adivinham a canção da floresta.


CÁRCERE

As grades da minha prisão
São espinhos amanhecidos pela neblina,
um pássaro tem meu nome no bico
enquanto o mar morde minhas mãos
e na vazante
elas permanecem como a costura desconhecida
de algum corpo.

Maio passa devagar
No amanhecer que alça voo sem ruído.
Maio passa devagar
no apagão de uma tarde sobre a relva
onde a tua carne certa vez fez um ninho.

Estou sentado no chão vermelho
de um lugar pequeno, pensando em pegar
a esmola que aquele verão quis me dar.
Estou tão magro que minha alma pesa mais que a fome.
e pintei minhas costas de azul escuro
para que durmam os meus amigos
e saibam que a noite está linda e que ando nu.


ANA’S POEM

Os raios destruíram teu corpo.
A luz perturbou teus órgãos e deixou uma rachadura negra
por onde posso ver a figura de um cavalo
galopando sobre a pradaria do veneno.
Mãe, puxo uma carruagem sobre as flores
que vi soprando na figura de teu rosto.
Deixaste a morte sentar em minha cama,
nunca me leste nada e antes de nascer
me deste teus seios.
Quando criança decidi não tocar em teus ossos
nem deixar que me pesem tanto,
quando eu soube que eram a empunhadura
das primeiras rosas da Ásia.
Os mortos dizem coisas,
desde a minha primeira lembrança
se escondem em teu ventre e te penteiam
e te procuram em segredo.
Devo confessar que não verei meu rosto de velho,
a beleza e a força dos meus dezenove anos
encontraram sua glória no mês virgem de junho.
E agora que me esqueceste
eu vim molhar tuas mãos
no rio que se abre
ao lado da minha casa.

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!