3 Poemas de María Calcaño (Venezuela, 1906-1956)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

María Calcaño (Maracaibo, Venezuela, 1906-1956). Desde muito jovem, enfrentou uma vida difícil e, aos 14 anos, foi obrigada a abandonar a escola primária para se casar. Estudou de forma autodidata. Publicou três livros, Alas fatales (1935), Canciones que oyeron mis últimas muñecas (1956) e Entre la luna y los hombres (1961). Em 1996, suas Obras completas foram publicadas. Depois, em 2008, a Monte Ávila Editores republicou-as e incluiu dois livros: Anotaciones (1940) e La hermética maravillada (1938). Sua poesia, de tom erótico e confessional, foi esquecida e ignorada por muito tempo. Ela morreu de câncer de pulmão em 1956.


EL HALLAZGO

Hoje o encontrei
no caminho
e coisas tão boas ele me contou
que venho embriagada
como um vinho…
Quando se é camponesa
e o amor se apresenta
não se pode dizer nada.
Já minha voz está fraca
por uma garra divina
de tremor.
E por nada eu daria
esse rubor profundo
que me lambe como uma fogueira,
língua do destino, feitiçaria do amor.
Hoje o encontrei
no caminho:
provou-me com gosto como as frutas saudáveis,
e eu não fiz outra coisa
senão ficar tremendo,
desfolhada como uma rosa
em suas mãos.


CARNE

Carne.
Espalha o hálito
do teu pecado mais belo:
Tu és como um jardim.
Esvazia-te
naquele que quebra
o tapete de ouro dos teus pelos.
Dócil
como as criaturas que esperam por Deus.
Acende
como rosas nuas
as cem cabeleiras desordenadas.
Carne… Minha carne!,
Intensamente chama,
inquieta, possuidora:
abre!
Tu és como um jardim…


¡TER-ME, TER-ME POR COMPLETO!

Ter-me
é algo mais do que esse clima de noites brancas,
flutuando em meu vestido alegre.
Ter meus braços carregados de lendas
de cursos misteriosos, de ilhas
e de crianças errantes que pedem o peito.
E ter todos os meus momentos
aqueles que, elevados em gritos,
fizeram da minha carne o seu tecido.
E essa pincelada de luas novas
que, sob os homens,
tem o sabor próprio da vida.
Ter-me, ter-me por completo!
Até para as doces colheitas
meu ventre está erguido…
Ah, sou apenas isto:
terra grudada à terra,
céu que me rodeia, e me foge, e me ilumina.
Escadinha de crianças
casa de açúcar…
não gostarias de outra mulher.

6 comentários em “3 Poemas de María Calcaño (Venezuela, 1906-1956)”

  1. Belos e profundos poemas que carregam com sigo a dor da alma que escorre pelas veias e se transformam em poesias por essa magnífica escritora.

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