3 Poemas de Paula Einöder (Uruguai, 1974)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Paula Einöder (Montevidéu, 1974). Bacharel em Letras pela Faculdade de Ciências Humanas e da Educação da Universidade da República e professora de Inglês. Publicou: La escritura de arcilla (poesía, 2002), Árbol experimental (poesía, 2004), Miranda o el lugar desde donde no se habla: Reflexiones acerca del silencio interpretativo (ensayo, 2004), Opacidad (poesía, 2010), Árbol de arco (baladas, 2020) e Para bálsamo de ruiseñores (poesía, 2021). Integra várias antologias, nacionais e internacionais: Breve muestra de poesía contemporánea del Río de la Plata, II (Buenos Aires, 1995), Antología de poetas jóvenes uruguayos (Montevideo, 2002), Sin fronteras 1 1/2. Pequeña antología de poetas jóvenes uruguayos y paraguayos (Asunción, 2004), El amplio jardín. Antología de poesía joven de Colombia y Uruguay (Montevideo, 2005), Plata Caribe. Poesía Dominicana, Uruguaya del Siglo XXI (Montevideo, 2008), El manto de mi virtud. Poesía cubana y uruguaya del siglo XXI (Montevideo, 2011) e Antología Poética Madrelengua (Montevideo, 2021), entre outras.

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A poesia de Paula Einöder apresenta uma dinâmica fractal que consegue unir a palavra presente com as vozes de outros tempos. Desta forma, o tempo presente vital do ardor poético bebe das águas mortas da intertextualidade, das citações ou dos mitos para trazer na repetição, no ciclo, ar vivo à poesia, revivendo a eternidade. A beleza que emerge dessa dinâmica paradoxal, onde os opostos se fundem e transcendem, torna-se um bálsamo para a angústia de uma consciência dividida.
A poiesis ou criação se realiza a partir do corpo erotizado, em movimento ou fluxo contínuo, na transmutação ou nomadismo que o dizer provoca, na troca ou superação dos opostos, no retorno à unidade dinâmica da origem, na metáfora inspirada pela natureza vegetal e animal, nos quatro elementos. Esses são alguns dos tópicos e chaves de compreensão da poética de Paula Einöder, herdeira da vertente que nasce no romantismo, continua no simbolismo para passar pelas experimentações com a linguagem das neovanguardas.

KILDINA VELJACIC / Espectros # 8. Buenos Aires, 2022


LARVAS

vou por as larvas de molho
para que pensem um pouco
no que foram as borboletas
não mancharei os quartos de penumbra
a escuridão da crisálida
não nascida me protege
desenharei nas barbas da árvore
meu corpo feito de imagens
qualquer semelhança
é pura coincidência
paisagem de sonho
movimento rápido dos olhos
fuga onírica
rapsódia do silêncio
vou por as larvas de molho
para que pensem um pouco
no que foram as borboletas


A ESCRITURA DA ARGILA

Escreverei sem motivo e sim considerações.
Agarrarei cada palavra vesga e desfeita
e a tornarei de argila.
Então a passarei pelo fogo. Lhe darei fôlego.
Cada palavra será um homem.
Povoarei a terra de palavras. Encherei páginas de homens.
Haverá argila ao invés de tinta.
Escreverei sem volume. Cegarei a mim mesma.
Não vou pisar nenhuma palavra.
Serão meu cajado.
Não vou buscar o homem. Porque um homem
está feito de texto.
Tecido de demasiadas palavras.
Não vou buscar o poema. Porque um poema
está feito de carne.
Composto por demasiados
tecidos e músculos e nervos.
Escreverei sem propósito e sem esquemas.
Porém ninguém poderá me reprovar que eu não tenha unido
a palavra com a argila, a tinta com o sangue. Além do que
a minha falta de originalidade foi buscada.
Novidade e esquecimento são a mesma coisa.
Porém o meu poema está escrito.
Disto se trata o assunto.


ODE AO ARABESCO

cardume de pássaros
em voo aquático
enxame de epitélio
para nado sincronizado
buscam o ovo na ode ao arabesco
eu mesma me transformo
em bosque raso
eu também me arranco escamas
em velocidade automática
eu sozinha me arremesso plumas
de gancho em gancho
ouço então a música sem fim
nesta argamassa latente
e verifico como queimar
em água morta traz ar vivo
para bálsamo de rouxinóis

2 comentários em “3 Poemas de Paula Einöder (Uruguai, 1974)”

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