Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils
Rossalinna Benjamin (República Dominicana, 1979). Poeta, educadora, narradora, ensaísta e gestora cultural. Estudos: Estudos de Pedagogia Letras (O&M University). Especialista em Cultura e Língua Espanhola Universidad Internacional Iberoamericana (UNINI) Livros: Manual para asesinar narcisos, Diario del desapego, Esta orilla de la rabia, Érase una vez el cuerpo, On this side of rage (Poesia). Prêmios: Prêmio de Poesía Letras de Ultramar, 2018; Menção Honrosa Prêmio Mundial de Poesia Nosside Italia, 2015; Menção Particular Prêmio Mundial de Poesia Nosside Italia, 2014; Prêmio Nacional de Poesía Joven Feria Internacional del Libro Santo Domingo, 2011; Menção Honrosa Categoria Universitária Concurso Nacional de Oficinas Literárias Santo Domingo, 2008.
MARGEM DE ERRO
A outra face do amor é ácida ambrosia
celebrando brutalmente a secura da sua língua…
A loucura saltita pelas escadas da exaustão
que te derruba no leito eriçado do vazio.
E o amor, relutante a você, aproveitando seu estupor
te envolve irremediavelmente em seu bacanal de imprevistos.
Por isso apelo ao imutável: a dor!
Quero dor nas frestas desabitadas pela angústia
ou alheias ao desejo
e assim evitar que sejam povoadas pelo desgosto.
Sim, o desgosto, essa viscosidade escura
que deixa o amor onde não passa.
E se a ausência (frieza irmã do seu lado esquerdo)
grava novamente sua assinatura aqui em seu abismo,
que não te obscureça a certeza do pavor que agora regressa,
ofereça seu pescoço docilmente à candura de sua perícia.
Depois de ter cruzado seu intransponível silêncio
ela mesma, fatalmente, fará explodir o muro…
OUTRAS PRECAUÇÕES RELEVANTES
Se outra vez a cortina do seu sonho se mover para a esquerda
e depois de volta ao seu centro
como se dedos invisíveis falhassem na tentativa
de descortina-la furtivamente
para dar entrada à indecente penugem
de esperança; sente-se na cama
e aperte forte sua ameaçada cabeça.
Lembre-se de que nenhum ser é um grande sonhador
se nunca teve pesadelos,
se um martelo não dormiu seu peso frio
em sua cama, fazendo com que todas as portas
se fechem com medo
dos horrores já íntimos da casa.
Não ouse gritar, beber água,
ou qualquer outra ação que possa libertar-te.
Não se preocupe com sua aparência
a lividez é linda em cantos escuros.
E antes de tudo, conserve sua serenidade
em todos os momentos: qualquer coisa que sinta
será usada contra você.
CABEÇA NOS JOELHOS
Debaixo desta pele escura estou
tão nua quanto qualquer um que vá por aí,
cabeça nos joelhos,
fugindo de tudo ou de nada insuportável que é estar viva,
debaixo desta carne
que se assusta e emudece quando se aproxima
esse abismo de musgo e vidro em espiral
que a espera em seus olhos que se entrefecham,
como pássaros tresnoitados,
para me observar ou soprar o cigarro.
Aqui
debaixo
vou,
cabeça nos joelhos,
nua como qualquer um
que esquece suas tristezas
colocando para descongelar
a angústia da cabeça
entre as pernas de alguém,
quem folheia distraído
as páginas murchas
de seios frios como estes,
e sua indiferença de couro desconfiado.
Existem milhares de rostos emergindo nessas chamas
e milhares de outras chamas fustigando gelo nas pupilas que esperam
perpetuamente elevadas
contra o teto ou o céu ou o lençol vazio,
amarrada
(agora e para sempre)
às quatro extremidades da noite
que serpenteia pelos corredores.
Enquanto
afundo
cabeça nos joelhos
e compreendo:
Todo o calor é sempre alheio.
Toda mentira é branca,
toda verdade impura
Assim que não! Não! Não!
Não me chamem para esse infinito que alcanço
respirando meu próprio cheiro,
cabeça nos joelhos.