3 Poemas de Silvia Goldman (Uruguai, 1977)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Silvia Goldman é poeta, professora e pesquisadora. Em 2008 publicou seu primeiro livro de poemas Cinco movimientos del llanto. Sua segunda coleção de poemas, De los peces la sed, foi publicada em 2018. Miedo, posteriormente, obteve o segundo prémio no Prémio de Poesia FILLT 2020. Foi finalista dos VI e VII Prémios Internacionais de Poesia Pilar Fernández Labrador e do Prémio Internacional de Poesia Paralelo Zero 2020. Participou de várias antologias como Llama de amor viva: XXII Encuentro de Poetas Iberoamericana (Antologia em homenagem a San Juan de la Cruz, 2019), Arbol de Alejandra (2019) e Poeta en Nueva York: Poetas de tierra y luna (2018). Ela tem um Ph.D. em Estudos Hispânicos pela Brown University e leciona na DePaul University em Chicago. Prepara a publicação de um livro sobre a poesia latino-americana da pós-ditadura intitulado La recuperación de la palabra: cinco reflexiones sobre poesía latinoamericana contemporánea. É membro da revista e plataforma cultural Contratiempo.


CORPO


no corpo onde me ponho a contestar
há uma mão que herda as minhas raízes

em suas respostas estão também as pernas
dos outros quando não sabem partir
e que não se atreva outra vez
a me fazer o contrário de mim

no corpo em que me ajudo
e me ponho a fazer a mãe
há alguém que cuida de mim e me lava

            eu não protesto
            para que não se fechem as horas

as mãos se movem de um lugar a outro
parecem pequenas xícaras de chá

a quantidade de ar que deve ser construída em certos poemas
sabe o que espera
a água quando limpa

a fé na mão de alguém
tudo sobre essa fé
é a continuação de uma espera

               líquida

eu sei e o
mostro à minha filha
minhas mãos se movem de um lugar a outro
parecem pequenas xícaras de chá
nos dedos de minha mãe

 


INTIMIDADE

Em teu corpo dorme uma maçã e sonha contigo.
Andrés Anwandter

tenho uma manhã na língua que
logo vai morder a maçã
que fundou Wallace Stevens
na dúvida eu me levanto
e digo alô
sou uma substância que caminha
dou a sensação de estar
uma planta poderia ser encontrada em minha boca e haver ali uma quantidade
o do jardim era para te dizer outras coisas também
sempre estamos dizendo o que não é para nos aproximar
deus é a versão mais caseira de certa intimidade
em minha boca sobem troncos afastados
tenho que sair daqui e deixá-los crescer
em seguida fazer com eles as brasas para poder falar


DOZE BONECAS

pensou no que podia conjurar
no que podia derivar desses rios altos
ainda era um galho pendido
a ponto de partir
pensou no que aconteceria se alguém
finalmente abrisse a trava
se alguém finalmente saísse
uma criança com doze bonecas não pode conjurar uma mãe
e simplesmente partir
uma criança com mãe pode ter doze bonecas porém sem contá-las
uma criança sem mãe e com doze bonecas pode pentear suas dozes bonecas
porém elas não a penteiam
as doze bonecas da criança com mãe não viram nunca
como se dobra a palavra desamparo
as doze bonecas sem a criança podem ter fome porém não podem ir ao mercado
as doze bonecas com a criança podem ter fome e podem ir ao mercado
em um carrinho em que a criança é a mãe e empurra as filhas
nesse mercado as doze bonecas têm também uma avó
no outro mercado não
isto sim é o que sabe a outra criança e tira a roupa de suas dozes bonecas
para que elas também o saibam

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