4 Poemas de Manuel Parra Aguilar (México, 1982)

| | ,


Curadoria e tradução de Floriano Martins

Manuel Parra Aguilar (Sonora, México, 1982). Mestre em Estudos de Arte e Literatura pela Universidade Autônoma do Estado de Morelos. Foi professor na Escola de Escritores de Sonora. Como criador literário, ganhou o Prêmio Internacional de Poesia Jaime Sabines 2021; o Concurso de Livros de Sonora no gênero Ensaio; os Jogos Florais Ibero-Americanos Ciudad del Carmen 2019; o Prêmio BUAP de Filosofia e Letras na categoria conto e poesia 2019; o Prêmio Nacional de Conto da revista Punto de Partida, UNAM; o XV Prêmio Nacional de Poesia Amado Nervo, 2016; o XII Prêmio Nacional de Poesia Alonso Vidal, 2013; o Prêmio Internacional de Poesia Oliverio Girondo, organizado pela Sociedade Argentina de Escritores, SADE, entre outras. É autor dos livros de poemas Permanencias, Breves, Portuaria, Pertenencias, Manual del mecánico, En el estudio, Más le valiera morir e do livro de contos Contrataciones.


[FALAREMOS SOBRE AQUELAS LONGAS PERNAS]

Falaremos sobre aquelas longas pernas de Zeng Jinlian em outra ocasião,
falaremos desses lábios ternamente definidos em sua curvatura em outra ocasião,
porque hoje recebemos notícias de Hunan:
Zeng Jinlian está morto.

Mas ainda vemos o punhado claro de seus cabelos,
ainda podemos distinguir cada uma de suas tranças
que fariam tremer até as colunas comuns do templo do imperador.
Ainda vemos aquelas mãos segurando os ombros de seus pais.

Daquele rosto muitas vezes envergonhado de Zeng Jinlian
ainda vemos um sorriso feliz surgir,
nos dizendo que nada faz sentido.

E isto contradiz toda a verdade,
por mais poética que seja.


[EU TE CONHEÇO]

Eu te conheço,
Eu lhe disse quando ele se inclinou um pouco
para entrar na estação de trem com sua carroça puxada por cabras amarelas.
Posso lhe haver confundido com outra pessoa,
porque sou Bud Rogan
ele me respondeu um tanto surpreso.
Depois bebeu aquele tipo de bebida à base de couve e mostarda verde que é habitual na soul food.
Talvez nos tenhamos visto em outro momento,
insisti, aproximando-me um pouco mais enquanto ele mergulhava o pão duro no potlikker.
Olha, trabalhei o dia todo na minha grande carreta,
Fazendo um pouco de tudo.
Já não me lembro se é primavera e se ainda é 1905,
ele disse, elevando a voz acima do barulho previsível do trem.
Ainda estamos no Tennessee.
Já passa das seis da tarde
e estamos no século XXI,
eu disse para a sua sombra espalhada na escuridão cinzenta.


[BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE VIVEM]

Bem-aventurados aqueles que vivem em Sindangan na plena alegria do século XXI.
Porém mais felizes são aqueles que ainda ouvem o seu balbucio de tuas palavras que não podem ser reproduzidas aqui.
Bem-aventurados aqueles que veem tuas mãos amigas bofeteando o ar,
como fizera o grande Pac-Man Pacquiao
ou desfigurar seus cadernos sem manchar as roupas, mas sim as mãos.
Desafortunados são aqueles que não suportam o teu sorriso alegre, o teu sorriso cansado.

Então esse garotinho vestindo sua camisa do Guinness Book é Junrey Balawing?

Ele se esconde nos cômodos de sua casa;
espia pelas frestas das persianas quando a câmera Nikon o enquadra,
mostrando que toda presunção é apenas circunstancial quando se trata de durabilidade.

É verdade, Junrey, é verdade; vou te contar um segredo:
não faz muito tempo, assim como tu, eu era um garoto.


[JÁ FALAMOS SOBRE CHEN GUILAN E LI TANGYONG]

Já falamos sobre Chen Guilan e Li Tangyong em mais de uma ocasião,
e ainda assim repetimos essas palavras com as mesmas palavras;
com as mesmas folhas com que são feitos os livros,
também escrevemos este, apesar do segredo masculino dos versos.

Por isto queremos repeti-lo,
caso algum de vocês não estivesse presente,
e mais uma vez dizer que entre uma linha e outra,
o pescoço ensolarado da noiva tinha aquele tom de pele com que os amantes conversam;
ou seja, tinha a cor da lâmina de uma faca dividindo a carne em duas.

Como se a retórica parasse.

Por isto temos que a tudo remediar de alguma forma.

Será suficiente dizer que só existe isso e nada mais?
Há algo que possamos acrescentar?

Em Foshan, após o casamento, ainda soa o coro de mulheres,
um refrão maduro de tanto uso.
Por isto este livro fala tanto de poesia quanto daquela festa de casamento,
fala sobre o futuro cheio de propósito em que Chen Guilan e Li Tangyong adentram.

E assim os dias estão nos observando,
embora o futuro passe ao largo e pare em outro lugar longe do nosso.
Somente por esse detalhe muito difícil,
não vamos repetir mais uma vez que são pessoas muito baixas,
preferimos dizer que o céu está muito alto para eles.

Podes chegar um pouco tarde para a cerimônia,
podes chegar um pouco tarde se preferes,
Podes chegar se assim o preferes.

Deixe um comentário

error

Gostando da leitura? :) Compartilhe!