5 Poemas de Claudia Meyer (El Salvador, 1980)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

No universo de Claudia, nomear cada peça poética é desnecessário, elas se defendem sozinhas, lutam suas batalhas, sangram, se dão, se buscam, se derramam, deixam pele como migalhas nos labirintos onde logo se reencontram sozinhas diante do mundo. Outro dia, Cláudia quis crescer, cortou os cabelos, os tingiu de vermelho, colocou uma janela de frente para o mar e dali vê a si mesma e a todos nós, pulsando, nos destruindo, tropeçando em corpos cinzentos deitados na praia, a espuma revolta lhe queima os ombros, morde seus pés enquanto ela dança descalça na chuva, porém a partir dali ela também sente frio. Erotismo, leitura da mitologia clássica e de autores espanhóis – especialmente, e por influência do grupo literário Tecpán, ao qual pertencia, Vicente Aleixandre e Carlos Bousoño – nutrem esta jovem poeta com suas criaturas, as quais ela já não sabe se pertencem a ela, se ela às suas criaturas ou ambas se pertencem e não olham para trás para que não se convertam em estátua de sal. Essa vitalidade flui em seus textos, apesar do formalismo e maturidade da estrutura que os sustenta, lê-la, portanto, envolve aquelas viagens a terras distantes, caminhando sobre o mar: Abrir agora o céu inteiro, como ela nos diz em um de seus poemas, essa é a poesia de Claudia, o céu inteiro, o céu aberto, o céu agora, o céu de seu próprio céu, forçando-a a descer e tocar a terra, a areia, a água, coxas e umidade, descer ao Inferno para não morrer, ou simplesmente abraçar a morte no silêncio ou renascer ao reler a sua obra, fui sozinha o que não pude renascer: uma nova pátria do silêncio…

LUIS ANGULO VIOLANTES


A tempestade sonha em ser fúria líquida.
Teu nome, devoto vaivém prendado de minhas ondas.
A memória se desfolha na areia,
em precipício que a nuvem devora.
Hoje a vocação é celebrar o desastre.
Hoje a vocação não é o esquecimento, mas sim a dor,
Ese fabricante de lucidez.

—•—

Uma grande dor é uma pupila que sente seu próprio alumbramento,
pode ver a si mesma, incrédula, pronta,
como o carmim da boca que odeia outras conquistas.
Alfanjes por beijos. O vazio pelo trópico dos tatos que se seduzem.
Lágrima ou noite miserável, um pensamento tocado
por barras distantes.
A maré grita pelo tangível de seu toque,
na espera guarnecida pela opressão.
O peito largo permite o palpite da vida indefesa,
a tirania da pele que estremece.
Amo não apenas só o azul e as desgraças,
mas também os propósitos que implacavelmente cavam a própria sepultura:
amo a embriaguez da tristeza,
o deleite da dor diante de tudo o que amanhece.

—•—

Agora a noite está vestida pelas sombras. O céu se inunda de aparências.
A noite vai de nuvem em nuvem e os aromas de fragor em fragor.
Um dia eu quis, e quando meu oceano se foi, dono de minhas âncoras,
a vida se deixou cair como infância passageira.
Que ponte exalarão minhas pulsações até que te alcancem?
Onde estás, arcaica nostalgia?
Eis-me aqui, o grande deus reflui com a maré,
já não me abriga mais a dor içada pelas ondas.
Belo e irritável é o som do silêncio,
a minha veemência pasta efêmera entre suas foices.
Na verdade, eu te digo, oceano que um dia quis,
hoje albergo a água, contenho os teus arranques,
teus desprezos estão cravados em meu sepulcro de umidades.

—•—

A minha ferida dispensa o tempo e o esquecimento.
É autônoma, desenraizada da razão.
É um corte incrédulo da invenção da memória.
Ela nunca olhou para mim com ternura,
cobiça pesares, é alheia ao repouso.
Sorri: sabe que não posso fechá-la porque nada me motiva vencê-la.

—•—

A solidão se respira à beira do vazio,
o abandono floresce à margem da trilha clandestina.
Sem paz, gozo, sossego ou sonho vão,
mas sim o frio que brota na clave de sol em meu universo,
o frio que agride esse corte da cabeça aos pés.

A vida desliza em minha caverna de incertezas.
A respiração anseia por noites neófitas e por voltar a sonhar.
A margem não percebe quando a dor é uma órbita.
Não importa a queda quando o fundo é ficção,
quando em desgosto se encontra todo o prazenteiro abismo.

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