5 Poemas de Julia Melissa Rivas Hernández (México, 1981)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Julia Melissa Rivas Hernández (México, 1981). Poeta. Concluiu o bacharelado em Belas Artes e Literatura Latino-Americana. Ela foi beneficiária de diversas bolsas estaduais. Vencedora do reconhecimento Pitic Alonso Vidal 2010, gênero poesia. Segundo lugar no Prêmio Nacional de Conto de Villa Zaachila, Oaxaca (2017). Vencedora dos Jogos Florais Lagos de Moreno 2018, categoria história; dos VII Jogos Florais Nacionais Toluca “Horacio Zúñiga” 2019; do II Prêmio Nacional de Poesia Jovem Raúl Rincón Meza, 2022; do Concurso Nacional de Poesia dos XL Jogos Florais da Universidade Nacional, 2022. Publicou os livros Habitaciones (2011) e Imperio (2023).


COMO UMA VOZ FAMILIAR

Este quarto que contém minha morte
cinzas que respiro e bebo
como o sangue que me assedia em cada folha

Este lugar para onde sempre regressas

Esta morte em mim
feita do poema como quem abriga a si mesma


O ENFANT TERRIBLE CULTIVA AS REFERÊNCIAS DESNECESSÁRIAS QUE SÃO FEITAS DELE E DE OUTRO NO SÉCULO

Minha alma, dizem, deve ser monstruosa.
Entre a sensação de liberdade que a rua me deu e a rigidez que sei que existe em um espartilho,
penso que nenhuma alma pode ser corrompida a ponto de ser verdadeiramente desumana.
Mas o que dizem eu sei que é uma referência consensual, um clichê
entre a serpente do rio Sena e o Loria.
Minha alma, que ainda não é monstruosa,
é a de uma vidente diante de uma bola de cristal quebrada,
a de uma criança que assedia a todos diante da realidade mais incômoda
onde não há espaço para café ou pastis no meio da tarde.
Minha alma é uma desordem dos sentidos, como um próximo percebeu.
Minha alma é conhecida por mim
e nela germinam verrugas que devem ser cultivadas com afinco.


BOUSSAC

Vinte dias são suficientes para chegar a Val-de-Grâce
Vinte dias para deixar uma casa para trás
Vinte dias pisando na lama ou recebendo ordens
Vinte dias são suficientes para chegar a Val-de-Grâce
Vinte dias são suficientes para alcançar o lado sombrio da mente
Vinte dias são suficientes para chegar
Vinte dias são suficientes
Vinte dias são Val-de-Grâce toda a minha vida


SUSTENTO UMA LÂMPADA NO ESCURO ILUMINANDO UM LUGAR QUE A MEMÓRIA SUPORTA

Sem nenhum trabalho, exceto esperar por algum lugar que a memória líquida suporte.
O que se pode esperar de um terreno onde pouco ou nada se conhece, onde pouco se entende e se sabe viver?
Serei otimista e direi a mim mesma: tenho compromisso marcado, na hora do brigadeiro e do café.
(Serei otimista)
Isolar-me na cidade em que acabo de chegar é questão de tempo, é simplesmente sair e sair e chamar quem me ignora, como o pó.
No terreno pálido e sombrio da cidade, vivi o momento de espanto que deslumbra, mas nunca cega.


ENTRE A MEMÓRIA E A LITERATURA

Enquanto caminho pelas ruas a minha voz junta-se à voz dos que falam, mas ninguém responde.
Poderia ligar, enviar cartas e esperar; esperar aquele tempo longo e tedioso para que absolutamente ninguém esteja onde procuro sem encontrar. Nem mesmo tu estás, hora minha, estrela minha; não estão as paixões ou a penumbra cinza que antes me aguardavam.
Esta cidade é a ausência onde cada esquina, cada curva de rua, zelosamente espera por um possível encontro com o esperado.
E é então que perco a hora combinada, o encontro exato no local de costume; sinto falta do que me era familiar entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro; sinto falta de percorrer bulevares, avenidas, ruas além das terras vermelhas do norte.
Não é tão comum esta assembleia de estranhos que de alguma forma me reconhecem como uma intrusa.

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