5 Poemas de Natacha Batlle (República Dominicana, 1984)

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Curadoria e tradução de Floriano Martins

Natacha Marina Batlle Santana nasceu em Hato Mayor del Rey, República Dominicana, em 6 de fevereiro de 1984. É editora e criadora de Colecciones Colibrí, livros artesanais gravados em madeira. Possui formação acadêmica em Publicidade. É artista formada pela Escola de Belas Artes. Concluiu o curso de Qualificação Docente, o que lhe permite exercer profissionalmente a docência. Trabalhou no Atelier de Arte Al’Amed; foi secretária administrativa e professora de oficina de artes aplicadas. Foi assistente de conta na Dietsch Publicidad. Assistente de produção do programa de televisão El Show del Mediodía. Assistente de comunicações de Orange. Executiva de colocação de mídia publicitária na GD Santana. É professora e líder de oficina de Educação Artística e Língua Espanhola no Colégio Santa María del Batey. Publicou os libros de poemas: Bajo la piel de la aguja, Vetas de fuego, Germinar sobre el Asfalto, Inerte sobre la gota y La muerte en cuatro. Otra vez la muerte. Há vários anos participa em recitais de poesia em Feiras Internacionais do Livro e proferiu uma palestra sobre “A importância da leitura como motor para ser um bom escritor” na Feira Regional do Livro Hato Mayor 2016. Ganhou os seguintes prémios: Prémio Nacional. Poesia Jovem na Feira Internacional do Livro 2017, primeiro lugar em poesia Bajo La Piel de la Aguja na Feira Regional do Livro de San Pedro de Macorís 2013, segundo lugar em poesia na Feira Regional do Livro de San Pedro de Macorís 2013 e segundo lugar na categoria contos da Feira Regional do Livro Hato Mayor 2016.


CANINA

Caminhar pela vida como um cão
como um olho de cão
ou pendurada no rabo do cão
uivar e cruzar a elipse com um salto e outro salto
é por isso que me torno canina entre as sombras
cheirando os ossos da morte nos cantos
vou de quatro patas
com ouvidos atentos aos cantos da meia-lua
e sim
muitas vezes confundem meu cansaço com derrota
o sonho aparente sob uma folha de zinco
ou o banco do parque
mas poucos sabem como eu
apagar o dia com o rabo
muito menos enterrar suas presas na carne da água
corro como o cão que perdeu seu dono
como quem ousa perfurar outro por trás
ando pela vida deixando as pegadas das minhas patas
meu nome de cão
e até o sobrenome do cão
cruzo a vida
porque a sede já não cabe na língua
nem mesmo na folha
nem mesmo nesta noite de um olho só


AS SOMBRAS BEBERAM MINHAS PALAVRAS

Eu posso ouvir os passos da brisa
esmagando teus ossos
há lábios e lábios que dividem tuas costas
Eles criam fissuras para nos levar ao inferno.
Doente
e osso com osso
as asas são deformadas em uma poça de luzes
que é esse buraco
onde minha língua perfura os faróis adormecidos.
Não há mais cantos
as sombras fogem em suas veias
devorando pedras
abrindo cortinas de carne
respirando cada fio de cabelo
copulando com teu medo
carregando a fúria para criar o amanhecer.
As sombras beberam minhas palavras
destruíram minhas ruas
me perderam sobre a folha
que é essa cama nua
onde os braços
são galhos quebrados pela correria das gotas
espelhos que despem o medo
e vamos beber
vamos tomar
quando a luz for uma onda
que nos quebre por dentro.


EPITÁFIO

A vida dorme em uma faca.
Isto é o que nos resta
epitáfio daquilo que respira
Somos um nó de respirações penduradas no céu.


COM A MÃO CHEIA DE PÁSSAROS

Com a mão cheia de pássaros
a pele é a borda da taça que se parte
desde a roda que nos roda
até o abismo que é teu olho carregado de mares
da pedra que morre no ventre
até os fantasmas que povoam os lábios
da folha que habita a gota
até a raiz que inunda as nuvens
com a magia carbonizada.
Com a mão cheia de pássaros
voa o olhar revolto dos mortos
que não foram embora.


MORIBUNDOS

Cada lábio
Tudo
é tremor úmido
Sobre linhas que se cruzam.

Cada lábio cai e se cala
Sobre o arco das ânsias
Um lábio nada mais é
Que uma divindade meio morta.

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