Dos Edades en la Biografía de un Hombre Común (Fragmentos) – Jaiko Aquilino Jiménez Caín (Panamá, 1994)

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Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Gladys Mendía

Jaiko Aquilino Jiménez Caín (Panamá, 1994). Licenciado em Comunicação Executiva Bilíngue pela Universidade Tecnológica do Panamá e Mestre em Docência Superior pela ISAE Universidad. Ele aparece nas antologias “Poesía emergente de Panamá” de 2017 e “Poesía panameña reunida” de 2018. Em 2017, publicou ‘Dos edades en la biografía de un hombre común’ (El duende gramático, Panamá) e, em 2018, publicou “Contra el olvido” (La chifurnia, El Salvador). Sua obra recebeu diversos reconhecimentos, entre eles: Menção de Honra no Concurso Nacional de Poesia Jovem “Gustavo Batista Cedeño” em 2015 com “El ser y la nada”, segundo lugar e primeira menção de honra no concurso nacional de poesia León. A. Soto 2015 com “Versos de la casa de la infancia” e “Sentir de un hombre común” respectivamente, primeiro lugar no Concurso Universitário de Poesia 2016 com “Versos contra el olvido” e em 2019 venceu o concurso nacional de poesia jovem Gustavo Batista Cedeño com sua obra “Vagando entre oscuros laberintos”. Seus textos também foram publicados em diversas revistas e mídias digitais e impressas dentro e fora do país. Incluído na coletânea Me Vibra II (LP5 Editora, 2020).


DOS EDADES EN LA BIOGRAFÍA DE UN HOMBRE COMÚN
(fragmentos)

I

Minha infância está espalhada entre cantos devorados pelo tempo,
solidões dispersas por uma casa que já não existe;
minha infância é um lugar que não encontro;
será que foi, alguma vez acaso, nos aviões de papel talvez…?

Hoje só quero dizer,
dizer a mim mesmo,
invocar palavras como salvação;
justificar a leveza de minha existência
reconhecendo que não há liberdade possível;
mas minha condição de homem amarra minha garganta,
e é inevitável o preço a pagar pelos silêncios passados.

Devo confessar que não há uma lembrança diferente
da de meu corpo jogado em um canto de onde se vê o mundo passar;
e o que é o mundo senão um monte de imagens estranhas que passam diante de ti
sem sequer notar tua existência.

Será que realmente estou,
aqui, comigo,
existirei de verdade?

Será que eu mesmo sou outra imagem estranha que também passa diante dos olhos de uma criança que não conheço?

IV

Tudo lá fora é um lugar que não conheço,
não sei se a economia cresce ou cai em picada,
aqui nos defendemos com unhas e dentes,
temos o olhar cheio de pão
e na barriga uma esperança.

Aqui cada dia é um mistério,
uma espiral sem fim de possibilidades,
um percurso sem sapatos sobre veredas de angústias e glórias.

Vivemos com a porta fechada para que ninguém nos perturbe,
vemos a novela das oito,
falamos das luxúrias dos ricos,
e nos deitamos para morrer.

Esta noite não há ventilador e é preciso suar um pouco,
ou seja, bastante.

Mamãe me refresca com um pedaço de papelão,
e enquanto durmo,
sonho que vivemos no norte
e também sonho que faz frio.

XII

A casa não cai,
mesmo que se transforme em pó e cinzas.
Os pássaros ainda cantam no telhado,
ainda há olhos nas janelas.

A casa não cai mesmo que a incendeiem.
O cachorro do vizinho ainda late;
o vizinho, o cachorro, os latidos…
Ainda há vida dentro da casa.

A casa não cai mesmo que a martelem,
mesmo que derrubem a madeira já podre;
mesmo que nos expulsem a todos
com apenas duas moedas para o caminho.

A casa não cai
porque tem alma,
porque todos aqui somos de pedra
e somos feitos de sol;
por isso a casa não cai,
porque a levamos no peito,
aqui ela arde, nos morde,
não cai.

A casa não cai
porque há uma criança brincando com seu pião de prato e prego,
porque ainda há memória para o avô e suas histórias,
e porque ninguém desistiu,
a casa não cai.

A casa não cai porque aqui ninguém caiu,
porque a casa tem sangue e se põe a caminhar,
porque ainda aos domingos comemos arroz com coco,
ouvimos os combos nacionais
e falamos mais inglês que espanhol.

A casa não cai porque somos fortes,
porque a chomba luta por seus pelados,
porque rezamos de manhã cedo
e no segundo tempo começamos a trabalhar.

A casa não cai,
permanece intacta,
a casa estoica
sem água e sem luz.

A casa não cai porque temos dignidade
e, mesmo que a erva-comum coma a memória,
ainda resta algo para a nostalgia.
É tão pequena a casa que ninguém se perde nela.

Cheia de gente que como pode se acomoda,
dormimos tão juntos que até o sono é compartilhado.

Aqui tudo é muito simples,
alegramo-nos com tão pouco,
todos os dias sacudimos o medo e saímos para viver;
juntamos nossas mãos
e todos os dias agradecemos
por habitar em uma casa,
que não cai.

10.

Ainda nós,
os solitários,
estamos cheios de gente.

11.

Lá no fundo alguém me chama.

Não sei quem é,
mas tem minha voz.

12.

No final, alguém fica tão sozinho
que, ao se procurar no espelho,
não se encontra.

13.

Procuro,
desde minha aversão à palavra,
uma forma menos triste de dizer o silêncio.

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